Artigo dominical

O monge preguiçoso
Dom Pedro José Conti, Bispo de Macapá

Entre os Padres do deserto, havia um monge muito preguiçoso. O abade, para não o humilhar com dura reprovação e para conduzi-lo, sabiamente, a fazer alguma coisa útil para ele e para a comunidade, contou-lhe esta parábola:

– Um homem tinha uma roça e ordenou ao seu filho negligente preparar o terreno para a semeadura. O filho pegou a enxada, mas, quando chegou ao campo, espantou-se vendo o tamanho do mato selvagem e fechado. Achou por bem deitar-se no chão e dormir. O pai, que era um homem sábio e conhecia bem o filho,

propôs-lhe o seguinte: “Meu filho, em lugar de não fazer nada, por que não limpa todo dia somente o pedaço de chão que vai ocupar dormindo? ” – Assim, em pouco tempo, praticando aquilo que o pai lhe tinha aconselhado, o filho limpou todo o terreno.

O domingo de Pentecostes encerra o tempo pascal e celebra o dom do Divino Espírito Santo. Naquele dia, começou o tempo da Igreja, o compromisso dos cristãos de continuar, até a volta do Senhor, a mesma missão que o Filho tinha recebido do Pai e que agora ele entregava para os seus seguidores. Essa será a história da comunidade dos amigos de Jesus: vivenciar aquela mesma dinâmica pascal que é, ao mesmo tempo, paixão, morte e ressurreição. Sempre haverá luta difícil e sofrida contra o mal e o pecado e sempre acontecerão momentos de vitória e de conquista. O cristão, o homem “novo” que renasce no batismo, sabe e acredita que Jesus ressuscitou; por isso, a morte, e com ela o mal e o pecado, estão vencidos para sempre. No entanto é necessário que tudo isso se transforme em escolhas e valores a serem praticados na própria vida.

É evidente que existem, e sempre vão existir, cristãos e cristãs mais corajosos e comprometidos e outros menos. Nunca será o mesmo para todos; não porque o Espírito Santo seja diferente, mas porque nós somos os mais variados possíveis. A nossa vida cristã depende do momento histórico, das circunstâncias nas quais nos encontramos, da educação religiosa recebida, do ambiente mais ou menos favorável, dos bons e maus exemplos que podemos ver em nossas comunidades. Por isso, todos nós vivemos momentos de entusiasmo e de alegria, por causa da nossa fé, e momentos de desânimo, sempre tentados a desistir.

É fácil entender que um cristão isolado, que não acompanha o ano litúrgico e que não participa dos acontecimentos da Igreja, é mais facilmente vítima do seu próprio afastamento. Quantas vezes nos perguntamos: onde foi acabar o dom do Espírito Santo, o “fogo de Pentecostes”, que aquele batizado, ou batizada, recebeu no dia da sua crisma? Temos a impressão que a novidade da Páscoa de Jesus e a força do Espírito Santo tenham esgotado o seu poder. Não é bem assim. Pelos noticiários, sabemos que há lugares onde a fé cristã é sustentada, ainda hoje, pelo sangue dos mártires, pela coragem de serem minorias perseguidas, lutando todo dia para defender a própria dignidade e liberdade religiosa. Conhecendo o ânimo humano e as suas fraquezas só podemos acreditar que este heroísmo seja dom e fruto do Espírito Santo. Ao contrário, nós, muitas vezes, acomodamo-nos numa fé tíbia, sem alegria e sem motivação, mais prontos a renegar Jesus Cristo e a sua Igreja que a defendê-los das calunias e das acusações injustas.

Devemos reconhecer que a culpa é nossa, porque não alimentamos suficientemente a nossa fé, com a Palavra e a Eucaristia, não estreitamos, como deveríamos, os laços de comunhão com os irmãos e irmãs. O imenso trabalho do testemunho silencioso da fé e da evangelização explícita nos espanta, por isso preferimos ficar parados, ou quase, esperando, talvez, um convite para agir e assumir compromissos e responsabilidades. Nós não precisamos ser “convidados”: já fomos “enviados” desde aquele dia de Pentecostes. Estamos ficando católicos preguiçosos? Talvez sirva também para nós o conselho dado ao filho dorminhoco: limpe ao menos o pedaço onde dorme! Aos poucos, muitas coisas boas irão acontecer, pode acreditar.

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