Crônica do Sapiranga

Homenagem ao Seu Manoel da “Duas Estrelas”
Milton Sapiranga Barbosa

Seu Manoel

Hoje, primeiro de junho de 2010, seria um dia de muita festa no bairro da favela, em especial, em uma casa situada na esquina da avenida Mendonça Furtado com a rua Hamilton Silva. Por certo, uma mesa farta estaria posta para receber familiares, vizinhos e amigos da família Pádua/Pinheiro.

Gente humilde, gente rica  do mundo empresarial e até autoridades de alto coturno seria recebida com toda fidalguia, educação e um sincero sorriso de agradecimento do Sr. Manoel Tavares Pinheiro, dono da Casa Duas Estrelas,  que se vivo  fosse, hoje estaria completando 86 anos, pois que nasceu em 1 de junho de 1924 . Seu Manoel Pinheiro, como era tratado por seus fregueses, amigos e vizinhos do bairro da favela, muito contribuiu com o Amapá, principalmente no âmbito comercial. Ele, juntamente com Moisés Zagury(Casa Leão do Norte), Otaciano Bento Pereira(Armazém São Paulo), Luis Pires da Costa, Isaac Menahem Alcolumbre( Casa Fé em Deus), Abrahaão Peres (Casa Peres), Stephan e Abdallah Houat(Armazém Beiruth N`América), Francisco Serrano(Farmácia Serrano) e seu pai, Sr Celestino Pinheiro(Casa Estrêla), foram idealizadores e fundadores da Associação Comercial do Amapá, do Clube de Diretores Logistas, do Serviço de Proteção ao Crèdito e da Junta Comercial do Amapá( que, se não me engano hoje é a ACIA), entidades,  que até hoje estão servindo a sociedade  amapaense, em especial,  a classe empresarial e aos comerciários. Neste primeiro de junho não poderia deixar de prestar minha homenagem ao seu Manoel Pinheiro, personagem importante  e querida da minha infância feliz vivida no bairro da Favela. Lembro que quanto estávamos em sua casa, na esquina da Presidente Vargas com Leopoldo Machado ou no depósito da Casa Duas Estrelas, limpando latas de óleo ou garrafas de vinho, que ele comprava  em grande quantidade,  ele aparecia para fiscalizar o serviço encomendado ou  tirar sarro com algum moleque, mas o mais importante, ia lá para nos dar bons conselhos e ensinamentos de vida, que agregado a educação recebida de minha mãe dona Alzira, da mana Mariazinha, da dona Margarida, Dona Marieta Amorim e suas filhas Tereza e Sônia, muito contribuíram para a formação de meu caráter, disso não tenho a menor dúvida e,  serei grato a ele e aos outros enquanto viver.

Essa crônica-homenagem póstuma, foi escrita no dia primeiro de abril,  quando lembrei de uma pegadinha  que seu Manoel Pinheiro me aprontou no dia da mentira. Aconteceu assim:

Primeiro ele, sorrindo, me deus dois bombons e pediu que levasse um bilhete para o Nabil, na Casa Amim Richene, que ficava na outra esquina da Mendonça Furtado. Achei aquilo estranho mas não desconfiei que se tratasse de alguma brincadeira, e fui em frente, afinal o “mandado” já havia sido pago com guloseimas de todo moleque adora.  Atravessei a rua e  entreguei o escrito ao destinatário. O Nabil, depois de ler, riu, e escreveu mais algumas palavras no papel e mandou que levasse ao Lúcio, dono do Bar Canta Galo, que ficava três quadras dalí, na esquina da avenida Pe. Júlio. Aí sim, já fiquei desconfiado pelo sorriso maroto do filho do velho Amim, e quando cheguei no canto da avenida Cora de Carvalho, sem que seu Manoel e o Nabil pudessem me ver, resolvi ler o que continha naquele misterioso papel que ia passando de mão em mão e que provocava sorrisos. Lá estava escrito pelo seu Manoel: NABIL DÁ UMA DONZELA PRA ELE E MANDA IR LÁ NO LÚCIO . Já o Nabil por sua vez escreveu: LÚCIO, DÁ UM PÃO DOCE PRO MILTON E MANDA ELE IR LEVAR PRO  MANOEL RAIMUNDO, no BAR POPULAR. Este  estabelecimento comercial ficava no canto da rua Odilardo Silva com a avenida Mendonça Furtado, já bem mais distante do ponto onde se iniciara a pegadinha de primeiro de abril, muito bem bolada pelo seu Manoel Pinheiro, e que, se eu não tivesse sido curioso e desconfiado, iria andar muito, pois acho que seu Manoel Raimundo iria mandar-me  levar  o bilhete no comércio do seu Menezes(Cacú), que por certo, dando continuidade a pegadinha de primeiro de abril,  me enviaria para algum outro amigo comerciante, estabelecido bem  mais distante.

Mesmo p… da vida após ler o bilhete, não rasguei o papel e levei pro seu Lúcio, dando continuidade a brincadeira, pois não ia perder a chance de ganhar um pão doce.  O seu Lúcio leu o bilhete, escreveu seu recado, me deu o pão e mandou eu ir em frente. Peguei novamente aquele papel e em seguida mostrei pra ele um dedo em riste ( o maior de todos, o do famoso “cotoco”), dizendo, “vão continuar fazendo de besta o c….”!   Passo seguinte, retornei a Casa Duas Estrelas e pedi ao seu Manoel uma garrafa de flip guaraná. De posse da mesma, tomei o guaraná com a donzela e o pão doce, depois disse ao seu Manoel que o flip ficava o por conta de ter me feito de bobo  naquele dia, o dia da mentira. E seu Manoel  ria, mas ria pra valer da peça que me pregara,. Felizmente, como ele era tinha bom coração,  nem colocou o valor do flip guaraná na conta para mamãe pagar,( pois seria surra na certa, pois ela não havia autorizado pedir fiado)  Acho que ele achou justo a paga pelos momentos de diversão que eu havia lhe proporcionado e aos seus e meus dois grandes amigos. Aproveito para abraçar, neste 1º de junho,  os seus filhos, Fátima, Gil, Gilberto, Ana, Cita, finalizando com um  MUITO OBRIGADO SEU MANOEL, POR TUDO.

Obs: alguns dados  foram extraídos do livro Personagens Ilustres do Amapá, de autoria do jornalista Coaracy Sobreira Barbosa, editado em agosto de 1997, seis meses após o falecimento  do    seu  MANOEL TAVARES PINHEIRO.

Hoje tem Marabaixo na Favela

Às 18h os tambores rufam na Favela.

Tocadores de caixa, cantadores de ladrão, mulheres de saias floridas fazem o  Marabaixo do 3º Domingo de Páscoa, reunindo, no barracão Tia Gertrudes (Av. Duque de Caxias, 1203), os grupos Berço do Marabaixo, Azebic, Raimundo Ladislau, Pavão e Campina Grande.
Para animar, litros e litros de gengibirra; e para dar “sustança” o tradicional caldo de carne vermelha com muita verdura e legumes.

Quer saber como foi ou relembrar o Marabaixo-2009? Clica aqui

Estripulias da turma do Sapiranga

O Furão
Milton Sapiranga Barbosa

As vezes, de surpresa, nos deparamos com situações que nos levam a navegar no tempo, nos fazendo buscar  no fundo do baú da memória, fatos de nossa infância, causos engraçados, vividos por nós ou acontecidos com nossos amigos de travessuras, de nossa época de moleque.  Durante um jogo do campeonato amapaense de 2009, entrei no túnel  do tempo, lembrando como se comportavam os servidores da extinta Guarda Territorial, durante as solenidades realizadas no sessentão estádio municipal Glicério de Souza Marques, carinhosamente eternizado com o  apelido de Gigante da Favela, mesmo que agora o Bairro seja denominado de Central . Como bom desportista e ex-futebolista, militando na imprensa do Amapá há mais de 40 anos, sendo que 20 deles atuando como apresentador  de programa, plantonista e repórter esportivo, com passagem pelo Alô Alô Amazônia da RDM  e Rádio Nacional, fui assistir a decisão do campeonato amapaense entre Santana e São José,  no famoso clássico SanxSão,    vencido pelo São José,  pelo placar de 3 a 0, dando o tricolor do bairro Julião Ramos, o seu quarto título da  era profissional.  Ainda quando me dirigia ao Estádio  Glicério Marques, me bateu no peito uma saudade de doer, do meu tempo de repórter de campo, por pensar nos  grandes embates entre Santana e São José, quando no gramado do Glicerão desfilavam  craques como Perereca, Pedro Bala, Bronté, Guloso, Palito, Antonio Trevisani, Nego, Jucy, Haroldo Pinto, Lelé,  Timbó, Alceu, Moacir Fernandes  e tantos outros. Uns ainda estão por aqui, muitos já em outro plano.  Durante as solenidades que antecederam o clássico decisivo, a saudade voltou com maior intensidade, quando  lembrei do Jair e dos valorosos policiais da  extinta Guarda Territorial.  Eles sim, tinham respeito e amor à pátria. O porque desta afirmação? Simples. É que durante  a  execução do Hino Nacional Brasileiro  e Hasteamento  da Bandeira do Brasil, avistei, próximo ao muro  do estádio, área  dos fundos do Glicério Marques, 4  componentes da Polícia Militar, sendo 3 homens e 1 mulher, que  conversavam e gesticulavam  normalmente, não dando a menor importância  aos acordes do hino pátrio e ao lábaro estrelado que subia mastro a cima.  Recordei que no tempo da Guarda Territorial, quando a banda iniciava os primeiros acordes do hino brasileiro, os guardas  ficavam em posição de sentido, prestando continência, em respeito aos dois grandes símbolos da República Federativa do Brasil, mesmo que eles estivessem encobertos pela arquibancada, longe dos olhos de seus superiores,  não relaxavam, estavam lá,  firmes, até o “ Pátria Amada Brasil”.  Nessa viagem pelo passado, lembrei também do amigo de infância, o  Jair( torcedor símbolo do Trem Desportivo Clube e de Piratas da Batucada), e apaixonado pelo Flamengo, que uma vez  se deu mal enquanto o Hino Nacional era executado.

A molecada, das décadas de 50/60, sabendo que os guardas não abandonavam a posição de sentido,  de jeito nenhum, sempre que o hino brasileiro começava a ser executado, aproveitava para furar, pulando o cercado  ou passando por um buraco cavado por  baixo das tábuas. Esse trabalho de cavar, era feito, à noite ou pela manhã, bem cedo e depois,  camuflado com  esmero, para o velho Damião ( um baixinho invocado), administrador do estádio,  não perceber. Num jogo interestadual, hino sendo executado, o Hermenegildo Gomes de Lima, malandramente, mandou o Jair passar por primeiro no buraco, mas  não foi por gentileza, foi  para ele sondar o terreno, ver se a barra estava limpa .  Sem desconfiar que  estava sendo usado como isca, o Jair, alegre por ir na frente de todos, passou rápido a  cabeça e o tronco pelo buraco. Coitado, justamente naquele ponto, perfilado, estava o Mamédio, filho  da dona Gertrudes, um negão de quase  2 metros de altura e uns 100 quilos de musculatura, (do tipo chamado de armário), que ao perceber o penetra, descansou seu coturno 44, reforçado com sola de borracha de pneu “fenemê,  no costado  do Jair, que não pode mais  ir, nem pra frente e nem pra trás, apesar de todo esforço dos moleques que aguardavam  a vez de adentrar ao estádio sem pagar, que puxavam pelas pernas do colega e nada do Mamédio afrouxar  . Terminado a execução do hino, o Mamédio se abaixou e, num gesto rápido,  deu duas “ burrachadas”  e aliviou a pressão que fazia na costa do furão. O  Jair, com o lombo ardendo, deu uma recuada mais rápido que minhoca fugindo de predador e sumiu no rumo de sua casa, no bairro do Trem.  Daquele dia em diante, o Jair ainda deu suas furadas  nos dias de jogos, mas  nunca mais  quis  ser o primeiro a varar em  buraco feito sob o cercado do próprio da edilidade. Vá que o Mamédio  ou  o Henricão  (outro armário), estivesse lá de plantão a espera de um furão.

Bons tempos aqueles.

Crônica do Sapiranga

Eles jogavam muito
Milton Sapiranga Barbosa

sap1O Bairro da Favela, além dos times São José  e do Araguary, que disputaram campeonatos  organizados pela então Federação Amapaense de Desportos(FAD), hoje Federação Amapaense de Futebol(FAF), tinha dois bons  time  de pelada, o Favelão Esporte Clube  e o Onze Brasileiros Futebol Clube. O primeiro fazia sucesso no Jotistão, torneio anual promovido pela Juventude Oratoriana do Trem. O segundo, 11 brasileiros, foi fundado por um motorista de carro de aluguel, Seu João de tal, que adorava futebol e levava a garotada para disputar jogos amistosos pelos bairros de Macapá e nos distritos de Fazendinha e Santana, conquistando grandes vitórias e belíssimos trféus .  E foi num jogo realizado em Santana, que a rapaziada do 11 Brasileiros passou o maior perrengue. Seu João e um dirigente do Santana, se não me falha a memória, Vasquinho, acertaram um confronto amistoso entre 11 Brasileiros e Santaninha, um time formado por filhos  de funcionários da  ICOMI. Um time considerado imbatível em seus domínios, onde jogavam, entre outros, Venturoso, Nêgo, Bigu, Germano, Luiz, Antônio Trevisani, José Pastana. Destes,  apenas o Pastana não chegou a vestir a camisa de titular do time adulto do Santana, pois deu continuidade aos estudos  até concluir  o curso  de Engenharia.  No acordo entre os dirigentes ficou definido que Seu João levaria o time à Santana e o retorno seria por conta do time mirim do então Canário Milionário. O Jogo realizado no campinho da Vila Pavulagem,  terminou, após um bela exibição dos garotos da favela, com uma goleada  de  5 a 1, e um  show de bola .  Foi aí que a coisa ficou feia pros favelenses. Chateados com a quebra de invencibilidade com acachapante goleada, os dirigentes do Santaninha não providenciaram o transporte para trazer nosso time a Macapá e como seu João, por confiar na palavra  do adversário havia assumido compromisso fora de Macapá, ficamos ilhados em Santana.

Andando e com muita fome,  fomos até o Restaurante dos Viajantes, que eu sabia pertencer a mãe do meu colega de classe Juracy. Chegando lá expliquei nossa situação,  ele falou com a mãe dele que disse tudo bem, mas teríamos que encher  dois barril de  200 litros cada.  Nem bem ela acabou de  falar a turma caiu no “sarilho”  e passados alguns minutos já estávamos  com nossas barrigas cheias. Depois  começou a luta para conseguir carona para  voltarmos para casa. Reunimos os poucos trocados que tínhamos e mandamos de Kombi os  garotinhos  que foram torcer pelo 11 Brasileiros Futebol Clube, como :  Bala, Rato, Jorge, Picolé, Bilica  e outros. Por outro lado, nosso prêmio, após a brilhante vitória sobre o Santaninha foi andar e correr 27 km, enfrentando  piçarra, vento no rosto  e muita poeira  até a casa do Artur, na Leopoldo Machado, que servia de sede e concentração para o valoroso time do 11 Brasileiros Futebol Clube, que faz parte das boas lembranças de minha infancia feliz vivida no meu querido bairro da Favela.

Onze Brasileiros Futebol Clube
Onze Brasileiros Futebol Clube

Sapiranga e os amigos da Favela

VALEU. COMO VALEU
Milton Sapiranga Barbosa

Moacir e Sapiranga
Moacir e Sapiranga

“Você não tem créditos para  completar essa ligação” .  Toda vez que tentava fazer uma ligação e recebia esta informação, ficava fulo da vida (puto se preferir). Primeiro pelo esquecimento de ligar para *200 para consultar saldo e segundo, porque o posto de recarga mais perto, nem sempre tinha cartão ou recarga disponível pelo sistema on-line, forçando-me andar, ou melhor, pedalar um pouco mais. Na última quarta-feira, quando tentei ligar e recebi a tão odiada informação,  não me aborreci, tiquinho de nada, pois tinha  contatados  com todos os  meus  amigos de infância, que estavam com seus telefones livres. Infelizmente, uns estavam  desligados  ou fora da área de serviço. Todos os  convidados para abraçar  o amigo Walter Miranda Maia,  39 anos ausente de Macapá.

Compareceram Aluízio Cuiú, Biló do Gaivota, Galo Vick, Zé Góes,

Rui, Antônio e Galo
Rui, Antônio e Galo

Moacir, Antônio, Pires, Paulo, Ruy  e até o Alcione, que estava atarefado arrumando as malas para viajar a Belém, deu uma passadinha na casa do Domingos para rever  seus velhos amigos da Capelinha e do Grupo de Escoteiros São Maurício. Como convidada hiper especial, sempre   com  seu lindo sorriso, recebida  de pé pelos presentes, não podia faltar, como não faltou, a  minha poetisa preferida  Alcinéa Cavalcante. Pena que não consegui  falar com sua irmã Alcilene, outra pessoa querida por todos os favelenses .

afavelaO  encontro foi uma festa, um verdadeiro festival de gargalhadas. Durante o papo gelado, como não poderia deixar de ser, relembramos situações vividas na  infância, que nunca canso de repetir, FELIZ, no querido bairro da Favela. Causos do arco da velha, afinal de contas, o mais novinho ali  já  passou dos   cinquentinha.. Entre os muitos causos narrados, destaquei  os  que seguem:

1)-Numa  partida de futebol de salão,  jogada  no campo de chão

Walter Caíta
Walter Caíta

batido da Capelinha, o Walter Maia  deu uma  senhora bicuda, a poeira subiu e a bola sumiu. Cadê a bola? perguntavam todos, até  que alguém olhou  e gritou: “Olha tá enfiada no dedão do Caíta (apelido do Walter) .

2) –  Numa noite de quarta feira, dia de estréia de filme no Cine Macapá, o Moacir e o Boquinha, chegaram  na casa  do Wálter Maia  e o convidaram para  acompanhá-los. O Walter não queria ir de jeito nenhum. Para convencê-lo,  o Boquinha falou: “Vamos que eu  pago  a tua”. Quem resistiria a um  convite desse tipo? Pois é, o Walter também não resistiu, se  arrumou  e  acompanhou  os dois  amigos. Chegando em frente a bilheteria do cinema, Moacir e Boquinha disseram: “Wálter, paga as nossas entradas”.  Mesmo tendo sido sacaneado, o Wálter  só fez  sorrir  e comprou os ingressos.

3) – Mesmo  ausente por questão de trabalho, o Bilica, não escapou. Ele  e o Wálter  aprontaram  uma traquinagem daquelas, mas só o Bilica, que era o menor, foi pego pelo guarda boa praça Waldemar, que ao botar  as mãos no moleque pergungou: Como é teu nome? E o Bilica, Satiro! Quem é teu pai? E o Bilica, Ramiro. O guarda mandou ele embora, não sem antes ameaçar:  VOU CONTAR TUDO PRO TEU PAI! No outro dia, coitado, o SATIRO mostrava as costas marcadas pelo surra com galho de cuieira, que o Ramiro lhe aplicara, depois do fuxico do seu guarda. E o Bilica sorria, que sorria. Sim, o nome do pai do Bilica? Felix Alcântara do Couto.

4)- Também contaram que o Pires, filho caçula do Seu Wilson Maia, estava  com catapora, mas não dispensou um banho de chuva, para  desespero  de  sua mãe , dona Iracema, que ao ver o moleque na biqueira da casa gritou, muito brava e preocupada: Moleque, saí já  dai, não vês  que estás com catapora e podes morrer? E o Pires mandou em resposta: Mamãe, catapora não é nada e se eu morrer eu me compro outro. Pode?

E  não parou por aí, mas  vou  deixar  para contar o restante depois do próximo encontro, já marcado para Fevereiro, quando estarão em Macapá, vindos do Rio de Janeiro,  os irmãos Branco e Boquinha.  Aí sim, a coisa vai pegar, mas com certeza, mais uma vez, poderei dizer. VALEU, COMO VALEU! mesmo ouvindo outra vez:  VOCÊ NÃO  TEM CRÉDITOS…

Encontro de velhos amigos da Favela

O Milton Sapiranga Barbosa ligou pra um, ligou pra outro, e de repente conseguiu reunir uma boa turma de amigos de infância do antigo bairro da Favela (hoje bairro Central).
Cervejinha gelada, refrigerante, tira-gosto, muitas gargalhadas, boas lembranças animaram a tarde  no pátio da casa do Domingos.
Gente que não se via há décadas se encontrou por lá. Só para vocês terem uma idéia, o Walter há 29 anos não vinha em Macapá. Dá pra imaginar o que rolou? Não vou contar nadinha. Quem vai contar é o Sapiranga mais tarde aqui no blog.

favela

Crônica do Sapiranga

Presepadas do Carrapeta

Milton Sapiranga Barbosa

Benedito Batista dos Santos, nasceu no dia 2 de Março de 1944, no município paraense de Cametá,. No dia 25 de Fevereiro de 1955, já então com 11 anos de idade chegou em Macapá, na companhia  dos primos Manoel do Rosário  e Benedito  Andrade. Por muito tempo morou na casa de número 99, da avenida Mendonça Furtado, no bairro da Favela, sob a tutela  de seus tios, o casal Bingue  e Lali, pais do Olopércio, Haroldo e José Maria Franco,  seus primos-irmãos  legítimos .

Benedito, estudou  no Barão do Rio Branco, Colégio Amapaense, Escola Industrial e IETA.

Carrapeta, entre Cuiú e Caramuru, no time do Favelão
Carrapeta, entre Cuiú e Caramuru, no time do Favelão

Formou-se em educação física com pós graduação na Escola de Educação Física  do Estado  do Pará.  No futebol não ganhou destaque de craque, mas foi utilíssimo cumprindo função tática e fazendo muitos gols pelo Juventus, Trem, Municipal, Ypiranga Clube  e Favelão.
Esse senhor, hoje aposentado, quando moleque no bairro da Favela, foi um  dos mais  levados  que conheci.  Ele  era tão danado  que  ganhou  o apelido de CARRAPETA, e de quem, passo agora a contar , algumas das  presepadas que ele aprontou por aí.

Infância 1 –  Seu  tio e pai de criação Bingue, estava sentindo fortes dores no fígado e mandou o moleque ir  na farmácia serrano comprar  remédio. Ele foi, mas ao passar próximo ao campo da matriz parou para olhar o jogo entre FIJO  E JOT, cujo placar  apontava 1 a 0 para o time do bairro do trem. O técnico da FIJO, Expedito Cunha Ferro ( 91), que já conhecia o futebol arisco  daquele cametaense, convidou-o para participar do jogo. Ele não se fez de rogado, enrolou no calção o dinheiro  que era pra comprar remédio e foi pro jogo, fez o gol de empate e no final  seu time venceu.
Carrapeta voltou para sua casa como herói, mas   sem a grana e o remédio que deveria comprar para seu tio. Sabendo que  uma palmatória, com furo no meio lhe esperava, rápido ele  se meteu embaixo do assoalho. Não teve jeito, foi  dedurado pelos primos  e teve que encarar 50 bolos, 25 em cada mão e com a recomendação: Não chora, se chorar começo tudo de novo.

Infância 2 – Certo  dia  em que sua tia  deixara no ninho de galinha alguns ovos que não foram chocados (não nicaram pintinhos), ele, por corda dos primos, cozinhou-os  e vendeu para o  Sr Amim Richene  (aquele que tinha comércio no canto da  Mendonça com a Leopoldo e  era  concorrente  do seu Manoel da Casa 2 Estrelas). Seu Amim comprou na boa fé  e na boa fé vendeu para um senhor que trabalhava no Banco da Amazônia, que depois voltou para devolver, pois  os ovos  estavam  cozidos e estragados. Nosso personagem, ao avistar  seu Amim conversando  com sua Tia Lali, já sabia que teria de agüentar mais  50 bolos nas mãos  sem chorar, senão a contagem era reiniciada.

Adolescente – Carrapeta, moreno, boa pinta, era  um namorador  incorrigível. Desses que hoje chamam de galinha, mas que eu diria que era um galo. Ele  chegou  a ter várias namoradas ao mesmo tempo, dedicando meia hora para falar com cada uma delas. Num dia 12 de junho, dia dos Namorados, ele  ganhou  de uma namorada que morava no laguinho, um lindo cordão de ouro, e  deu a preciosa  jóia de presente para uma outra namorada  que morava no bairro do Trem. A  morena que  comprou o cordão ficou sabendo que ele dera para uma outra, então convidou uma  de suas irmãs,  e  as  duas  surraram pra valer  a rival. O Don Juan  ficou  sem cordão, sem as namoradas e com  a fama  de safado entre as mulheres.

Adulto 1 – Numa viagem que  fez a Fortaleza-CE, para participar de um congresso para professores de educação física, Carrapeta aprontou  para cima dos Gaúchos. Eles  ficaram hospedados  no Colégio Militar sediado no Bairro da Aldeota, onde a ordem  de recolher  era  às  23 horas. A gauchada costumava perder a hora  e  só chegavam às 5 da madrugada no quartel. Chegavam  e faziam uma barulheira danada, cantando e dançando temas do folclore dos pampas, não deixando   mais ninguém dormir. Por dois dias eles aprontaram  e  o Carrapeta quieto, mas puto da vida. No terceiro dia, ele  foi na feira do bairro, comprou um rádio de alta potência  e uma enorme peixeira, que ele mandou afiar  dos dois lados. Seus amigos estranharam  aquela compra  e  ele disse apenas: me aguardem. Na madrugada do quarto dia de congresso, os gaúchos depois de muito barulheira, se deitaram para dormir., como se nada tivesse acontecido. Quebraram a cara. Naquele momento,  o Carrapeta esfolou o rádio de 10 bands a todo volume  e ficou esperando o baque. Os gaúchos reclamaram  que queriam dormir e quando se dirigiram  para  desligar o  moto-rádio, depararam  com aquele moreno, cara de mau, empunhando a reluzente peixeira  e ameaçando: vem, que vou arriar o bucho de uns  três. Daquele dia em diante,  a dormida do Carrapeta rolou solto madrugada a dentro. No final do congresso, a gauchada se despediu com abraços e deu até presente  pro Carrapeta. É que o Savino havia informado  pra eles, que  da família  do Carrapeta, ele era o mais bonzinho, mas  já tinha até puxado cana, por pinicar  a barriga de um desafeto. Pura sacanagem do Savino, para amedrontar mais os  rapazes dos pampas.

Adulto 2 – Final de mês, dia de pagamento do governo na agência do Banco da Amazônia, à época localizado na Cândido Mendes com Presidente Vargas. Quando o Carrapeta chegou na agência, um mundão de gente se aglomerava na porta de entrada. E agora? Pensou ele, tenho que dar um jeito de passar na frente. Furar não dava. Então, malandramente, nosso amigo introduziu um braço entre as pessoas a sua frente e  com o dedo em riste cutucou as nádegas de alguém e rápido recolheu o braço. Foi um Deus nos acuda, porrada pra todo lado e o Carrapeta, sorrindo, foi um dos primeiros a adentrar  no banco e a botar as mãos na grana..

Adulto 3 – Certa vez  ao  chegar na agência quando o banco acabara de cerrar suas portas para atendimento externo, ele,  precisando receber seu pagamento sem falta, se fez passar por  funcionário dos Correios e Telégrafos. É que um ex-aluno, do seu tempo de vice diretor do Colégio Amapaense,  trabalhava na agência da ECT-Macapá e chegara na agência para entregar alguns malotes oriundos do Banco Central. Ao avistar o rapaz, o Carrapeta não perdeu tempo, falou com  ele, pegou 2 malotes  e  se foi banco a dentro, lampeiro e pimpão.. O segurança ainda tentou tirá-lo, mas quem  disse que ele saiu. Recebeu seu rico dinheirinho e saiu  na maior cara de pau da paróquia.

Meu amigo  Carrapeta, hoje, com os filhos todos formados em nível superior, sofre de diabetes, já teve que amputar parte do pé, o   dedo de uma das mãos  e  está  com a visão comprometida.  Todos os sábados nos  reunimos em sua residência e  batemos longos papos, relembrando  os  momentos felizes  vividos no nosso querido bairro da favela. Ele tem muito mais histórias interessantes e hilariantes, mas por enquanto só me autorizou a  contar, sem cortes,  as narradas acima.

Os caçadores de minhoca

National Geographic registra pesquisa da Embrapa-AP

Durante esta semana, uma equipe da produtora australiana Gulliver Media está no Amapá registrando imagens e depoimentos de especialistas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para o documentário “Os caçadores de minhocas”. O projeto é do National Geographic Channel (canal de televisão da National Geographic Society), que anuncia a finalização e distribuição do vídeo para 2010. Depois de passar por diversos países, a equipe desembarcou em Macapá (AP) no último domingo, 6/9, fez filmagens na Embrapa Amapá e seguiu viagem até o distrito de Lourenço, em Calçoene, município localizado a 374 quilômetros da capital amapaense. No Brasil, o Amapá é o único estado visitado para este documentário.

No distrito de Lourenço (Calçoene) a equipe será guiada pelos técnicos da Embrapa Amapá (pesquisador Marcelino Guedes e o assistente Carlos Alberto Moraes) que têm experiência de coletas de minhocas naquela região, e pelo produtor Antônio Mendes, conhecido como um exímio caçador de minhocas. A equipe da produtora é formada por Rebecca McElroy (produtora), Randall Wood (diretor e roteirista) e apoio técnico-científico dos pesquisadores biólogos Samuel James, do Centro de Pesquisa em Biodiversidade da Universidade do Kansas (EUA), e George Garner Brown, da Embrapa Florestas (Paraná).

De acordo com os pesquisadores envolvidos no documentário, as minhocas têm papel importante na cadeia alimentar de várias espécies e auxiliam na decomposição de material orgânico no solo. Além de ajudar na estruturação do solo, colaboram com a troca de gases e melhoram a infiltração de água no solo, entre outras atividades. A importância das minhocas para a fertilização e recuperação dos solos já era conhecida há mais de 2000 anos pelos antigos.

George Brown observa que apesar da extinção dos invertebrados (caso das minhocas ) não contar com o mesmo apelo que a extinção de mamíferos, as minhocas desempenham grandes serviços ambientais, tanto em ecossistemas naturais quanto na agricultura. “Porém, seus efeitos são pouco reconhecidos e as minhocas não têm recebido a atenção que merecem no Brasil, onde existem mais de 300 espécies. As minhocas são importantes na natureza, assim como a onça pintada ou o lobo guará, por isso defendemos sua preservação”.

(Dulcivânia Freitas, da assessoria de comunicação da Embrapa)

A Turma do Buraco

Miltom Sapiranga Barbosa, especial para o blog

Já  como   aluno da  terceira série  do curso  primário,  queria que o tempo passasse  bem rápido, para logo chegar a quinta série  e então poder  prestar o exame de admissão ao  ginásio, pois assim, além de melhorar meu grau de conhecimento para  a vida, poderia  vir a almejar uma vaga   no quadro da “Turma do buraco”. Essa era minha grande meta, já que  o programa, uma espécie de bolsa para  estudantes, mantido pela PMM,  iria aliviar a folha de  despesas da minha querida mãe, que dava um duro danado, amassando açaí, lavando e  passando  roupa da vizinhança, além  de trabalhar com a venda de mingau e tacacá  para poder manter a casa.

Quando estava na  quarta série, já estava estabelecido que quem tivesse  notas boas  podia prestar o exame. Utilizando deste benefício, tentei o Colégio Amapaense e não passei, e após concluir a quinta série, fiz exame na Escola Técnica de Comércio do Amapá (que depois foi CCA e hoje  e Gabriel de Almeida Café).  Fui aprovado. Aliás que só o Colégio Amapaense mantém o nome original desde sua inauguração.

Foi  como  aluno da ETCA  que  pude então ser  um dos integrantes da famosa “turma do buraco”, junto com Raul Seabra, Odoval Moraes, Machado, Jackson Picanço, Maquizanor, Carneiro e outros tantos. Por três anos  servi como  bolsista da PMM  e  vivi  três casos engraçados, que não poderia deixar de postar aqui.

1) – Raul Seabra,  o namorador  da turma  e o mais enxerido,  disse para a namorada que trabalhava num escritório e a turma ficou sabendo: um belo dia (sempre tem um belo dia) estávamos  cavando buraco  para plantio de mangueiras em frente ao HGM   quando, como que saindo do nada,  a namorada do  Raul  apareceu  e ao  vê-lo de picareta na mão, perguntou: “ é esse o teu  escritório?”  Na hora um gaiato  completou: “é, e essa é a caneta dele”.

2 –  Fomos destacados para derrubar as árvores    que  existiam na Praça do Aeroporto para que fossem feitas ali algumas melhorias. Sol  quente, machado  tinindo  na madeira dura, o Raul  jogou para cima uma das  pedras que  protegiam  os canteiros   e a mesma atingiu o Maquizanor que desmaiou (fingiu)  e  o Raul ficou apavorado, pois insinuávamos  que  ele havia morrido. Depois de muita    zoação,  a vítima  voltou  a vida para alívio do nosso amigo Seabra.

3 –  Uma outra missão foi  cavar  buracos  na praça em frente ao barracão da Fortaleza (onde funcionou o Círculo Militar) para arborização do local e lá fomos nós. Como a terra era fofa  não demorou para que o serviço fosse   concluído. Para aproveitar a folga no horário de trabalho, fomos tomar banho  e  fazer guerra com casca de melancia na praia. Guerra comendo solto, percebi  que alguém tentava me surpreender  e dei  uma volta  por trás  de uma grande pedra  e  tasquei  um pedaço de melancia no tutiço do  inimigo. Quando a vítima  se virou  para ver quem atirara, para minha surpresa, constatei que  era o apontador Dinamar, que tinha  ido pegar o ponto do pessoal e como  não viu ninguém na área de trabalho  foi atrás. Quando ele tirou a camisa e a calça, ficando só de cueca,  já me preparava pra correr, quando, para meu espanto,  Dinamar se abaixou e  juntou  uns bagaços de melancia   e entrou na guerra também.

Os  alunos  bolsistas da “turma do buraco”, no tempo do apontador, a guerra com casca de melancia, são lembranças da minha infância feliz vivida no meu querido bairro da Favela.