O São José – que já foi um timaço – nasceu no meu querido bairro da Favela. A sede era ali na Leopoldo Machado esquina com a Presidente Vargas.
Depois levaram o Sanjusa para o Laguinho 😥
Como hoje o São José completa 70 anos de fundação, parabenizo seus atletas, ex-atletas, dirigentes e torcida e reproduzo a crônica do Sapiranga publicada neste blog em agosto de 2009.
A Favela no futebol amapaense
Milton Sapiranga Barbosa, especial para o blog
Sim, no tempo do amadorismo de priscas eras, o bairro da Favela tinha dois clubes disputando os campeonatos organizados pela Federação Amapaense de Desportos(FAD).
Um era o São José, do seu Messias, onde jogavam, entre outros, Bulhosa, Pantera, Jurandino (Carudo), Justo, Raminho e Mosquito, cuja sede ficava na esquina da Leopoldo Machado com a Presidente Vargas, mas um acordo entre Messias e Humberto Santos, levou o São José para o bairro do Laguinho.
O outro era o Araguary Esporte Clube, sendo que este não tinha sede, a turma se reunia na casa de um dos atletas, escolhida aleatoriamente. Nesse tempo, Araguary e Fazendinha era o grande clássico da segunda divisão (Santa Cruz, Primavera, Guarany, depois Ypiranga e Santana, sem esquecer o Atlético Latitude Zero, também integraram a segundona da FAD).
Sempre que Araguary e Fazendinha se encontravam o Glicerão ficava apinhado de gente. Mauro, Abiezer, Beto, Barata, Bento, Carneiro, Dioneto, Elionay, Ferramenta, Peteca e Palito (um carvoeiro bom de bola, que chegava sempre em cima da hora para jogar, pois antes precisava desmanchar suas caieiras) e Nolasco, eram alguns dos integrantes do Araguary Futebol Clube. Pelo Fazendinha, destacamos Zezé (um goleiraço), Marinheiro, Flávio Góes, Valdir e seu irmão Papaarroz (um cracaço, que batia penalty de letra) e Estrela.
Eu gostava de estar entre a rapaziada do Araguary para ouvir as histórias das viagens que o time fazia pelo hinterland amapaense. Nolasco, meu vizinho, era um jogador razoável, mas muito bom para contar histórias e rápido para fazer uma paródia, fosse qual fosse a situação, senão vejamos: certa vez, numa excursão a Mazagão, no tempo em só se chegava ao município por via marítima, Nolasco não foi escalado de saída no time que iria enfrentar a seleção mazaganense. Terminado o primeiro tempo, começa o segundo e o Nolasco no banco de reservas. Jogo já no final do segundo tempo, eis que ele é chamado para substituir um companheiro, ele se negou e saiu-se com essa : “eu fui em Mazagão/ fiquei encabulado/ pois só comi feijão e ainda fui barrado./ quando jogo estava pra terminar / técnico veio me chamar pra entrar lá no gramado/ eu não sou doido e também não sou maluco/ pra entrar lá no gramado e jogar cinco minutos.”
Doutra feita, eles se reuniram e metidos na roupa de domingo, foram a uma festa no bairro do Laguinho (aquela época, já rivalizando com o bairro da Favela, por causa do Marabaixo e do boi bumbá). Todo mundo alinhado, festa animada, muita cocota no salão e eles de fora olhando, pois o porteiro não deixou eles entrarem. Aí o Nolasco criou uma musiquinha, que tinha um trecho que dizia assim: “Fui numa festa lá no Mestre Julião/ deu meia noite o baile vai começar/ se é do Laguinho o porteiro manda entrar/ se é da Favela ele faz voltar”.
O Araguary é do tempo que se dava chagão (jogar a bola por um lado do adversário e correr pelo outro e contiuar a jogada – hoje drible da vaca), do avião ( hoje chapéu, lençol), por baixo da saia ( hoje entre as canetas), do xilique (joelhada forte na coxa do oponente e doía uma barbaridade (hoje chamam tostão). O Araguary e seus integrantes, suas histórias e paródias são lembranças de minha infância feliz viviva no meu querido bairro da Favela.
3 Comentários para "A Favela no futebol amapaense"
Acredito que o seu Jorge, conhecido como nego Jorge, nosso vizinho de rua Alcinéa, bom também de papagaio, jogou no São José de lateral esquerdo.
Onde andas Milton Barbosa?
No momento em que o país vive um clima de beligerância política e o nosso estado, bom deixa pra lá… nada mais salutar, ler as cronicas do Milton Barbosa, descortinando com beleza, simplicidade e riquezas de detalhes, o cotidiano de um tempo feliz, como diria a música do Ataulfo Alves.
AGORA ME FEZ LEMBRAR MILTON SAPIRANGA BARBOSA , EM UMA DE NOSSAS PESCARIAS EM QUE NOSSO CARRO SAIU DA ESTRADA , MILTON SE LEMBROU OS TEMPOS DE SÃO JUSA , OS TEMPOS DE MARABAIXO , OS TEMPOS EM QUE EXISTIA O FAVELÃO EO FAVELINHA , TIME DO QUAL EU ERA O PONTEIRO DIREITO, FICO MUITO FELIZ EM LER CRONICAS DO MILTON BARBOSA, PARABENS ALCINEA.