Acareação entre Costa e Youssef mantém contradições

Luciano Nascimento – Repórter da Agência Brasil

A acareação na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras, ontem (25), entre o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor da empresa, Paulo Roberto Costa, manteve, em linhas gerais, as contradições apontadas nas delações premiadas dos dois acusados de integrar o esquema de corrupção e pagamento de propina investigado pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal.

CPI da Petrobras faz acareação entre o doleiro Alberto Youssef e o ex-­diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto CostaFabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
CPI da Petrobras faz acareação entre o doleiro Alberto Youssef e o ex-­diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto CostaFabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Ao responder perguntas feitas pelos deputados, tanto Youssef quanto Costa mantiveram versões distintas sobre o suposto repasse de dinheiro para a campanha presidencial de Dilma Rousseff, em 2010.

Em depoimentos à Justiça Federal, Costa disse que o ex-ministro Antonio Palocci, que era o coordenador da campanha de Dilma, pediu R$ 2 milhões. Ainda de acordo com Costa, o montante fora disponibilizado por Youssef que negou ter feito o repasse. “Eu não conheço Palocci, nem assessor dele, nem o irmão dele e não fiz o repasse. Mas existe outro réu colaborador, que está falando. Há uma investigação em relação ao Palocci e, em breve, vocês vão saber quem repassou os recursos”, disse Youssef ao ser acareado na CPI.

Perguntado se o esquema seria de conhecimento do Palácio do Planalto, Youssef respondeu que não poderia confirmar, mas que, a partir de conversas com Costa, formou essa percepção. “Essa percepção eu tive por conta do que eu ouvia nas conversas com o [Paulo Roberto Costa] que, às vezes, dizia que pedia uma sinalização do Planalto”, afirmou.

Por sua vez, Costa disse que nunca tratou de assuntos relativos à Petrobras “com ela [Dilma Rousseff, que à época presidia o Conselho Administrativo da estatal] ou com o [então] presidente Lula sobre qualquer problema na Petrobras. Se ela sabia ou não, eu não tenho como confirmar”, afirmou Costa.

As maiores surpresas na acareação vieram de Youssef, que apontou o deputado Celso Pansera (PMDB-RJ) como o responsável por intimidá-lo e à sua família. Em resposta a uma pergunta de Pansera sobre quem o estaria intimidando, o doleiro quebrou o silêncio e acusou o deputado de ser o autor das intimidações.

“É vossa excelência. Vossa excelência sabe que as minhas filhas nunca participaram de nenhum esquema fraudulento ou que tiveram propriedades em nome ou qualquer coisa que seja. Mas vossa excelência insiste nisso”, disse o doleiro.

Pansera retrucou que estava se sentindo ameaçado “por um bandido que já está, inclusive, condenado”. “Eu acho que a CPI tem que tomar algum tipo de iniciativa. Em defesa da minha vida, inclusive”, afirmou o deputado autor de requerimentos que pede a quebra dos sigilos fiscal, telefônico e bancário de Youssef e suas filhas.

O presidente da CPI, Hugo Motta (PMDB-PB), nesse momento, intercedeu, rebateu as acusações e disse que defenderia as “prerrogativas parlamentares”. “No entendimento dessa comissão, requerimento de convocação não configura ameaça a ninguém”, afirmou Motta.

Ao ser indagado pelo deputado Jorge Sola (PT-BA) se houve “dinheiro de Furnas para Aécio”, o doleiro confirmou o que já havia declarado em depoimentos anteriores de que o ex-deputado José Janene (PP-PR), condenado no processo do mensalão, já falecido, disse-lhe que dividia a diretoria de Furnas com o então deputado Aécio Neves.

“Eu confirmo por conta do que eu escutava do deputado José Janene, que era meu compadre, e eu era operador dele”, respondeu Youssef. Furnas, subsidiária da Eletrobrás e vinculada ao Ministério de Minas e Energia, fez parte de um esquema de pagamento de propina também operado por Youssef, entre 1996 e 2000.

Perguntado se houve pagamento de propina ao senador mineiro Antonio Anastasia (PSDB-MG), Youssef disse que enviou recursos oriundos de propina a Minas Gerais, mas que não poderia afirmar se os recursos foram para o senador. “Com referência ao Anastasia, eu mandei, sim, dinheiro para Belo Horizonte, mas não fui entregar. Então, a mim não foi dito que era para o Anastasia”.

Youssef confirmou ainda o que dissera em depoimentos anteriores de que houve o pagamento de R$ 10 milhões ao então presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), morto em 2014, para evitar uma CPI no Congresso a fim de investigar a Petrobras, em 2009.

Durante a acareação, tanto Youssef quanto Costa também confirmaram o pagamento de R$ 1 milhão para a campanha da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), em 2010, proveniente do esquema de desvio de dinheiro da Petrobras.

Edição: Aécio Amado

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