Chá da tarde

Poema com destino à Noruega
Alcy Araújo

Eu ando com a cabeça baixa e dolorida
tateando na sombra dos guindastes
o corpo flácido das mulheres das docas
dentro da noite no cais.

Por que passam por mim tantos
marinheiros, navios, ondas balouçantes?

Se eu pudesse
descansaria a cabeça dolorida
num saco, num fardo, numa caixa,
depois escreveria um poema simples
e montava-o na onda com destino à Noruega.
E a moça loira que o lesse ao sol da meia-noite
não saberia nunca que sou negro, fumo liamba
e tenho as mãos revoltadas e calosas.

(Do livro Autogeografia – Macapá-AP – 1965)

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