Artigo dominical

O maior diamante do mundo
Dom Pedro José Conti, bispo de Macapá

Um monge vivia de maneira muito pobre e passava de aldeia em aldeia falando de Deus e da sua bondade. Ficava feliz e satisfeito com o pouco que lhe davam para comer e com a água da fonte. Certa noite estava rezando de baixo de uma arvore, antes de dormir, quando chegou um homem suado e ofegante que lhe gritou: – A pedra, a pedra, dá-me a pedra preciosa -. – Qual pedra? – perguntou o monge. – Ontem o Senhor me apareceu em sonho e me disse que ao anoitecer teria encontrado um monge que devia me dar uma pedra muito preciosa- respondeu o desconhecido – Com esta pedra eu ficarei rico para sempre! – O monge, começou a procurar tranqüilamente na sua sacola surrada e por fim retirou uma pedra muito grande e brilhante. – Talvez o Senhor entendesse esta pedra; encontrei-a no caminho das montanha s alguns dias atrás. Pode ficar com ela. Boa noite -. O homem olhou encantado a pedra: com certeza era o maior diamante do mundo, era quase do tamanho da sua cabeça. Ele pegou o tesouro, correu para casa, colocou o diamante na cabeceira da cama e deitou. Mil pensamentos o atormentavam; naquela noite não conseguiu dormir. Ao amanhecer voltou com o monge, que estava ainda lá, de baixo da arvore e lhe disse: – Pelo amor de Deus, dê a mim também aquela riqueza que lhe permitiu doar-me tão facilmente este diamante! -.

No evangelho deste domingo, Jesus ressuscitado aparece vivo aos apóstolos à beira do mar de Tiberíades. Eles tinham voltado para lá, retomando a sua antiga profissão. Raramente Jesus pediu alguma coisa. Pediu água à samaritana; aceitou os cinco pães e os dois peixes para satisfazer a fome da multidão; outras vezes perguntou a quem o procurava o que queriam que ele lhes fizesse. Desta vez pede aos pescadores desanimados se têm algo para comer. Mais tarde manda que tragam alguns dos peixes pescados. No final pede mais, muito mais. Pergunta a Pedro se o ama mais que os outros. O que está acontecendo? De repente Jesus ficou exigente? Acredito que não. Entendo que estes pedidos, estas perguntas e respostas tão singelas, querem também nos conduzir a tomar uma decisão a respeito da nossa fé e das suas conseqüências. Uma espécie de teste, se assim podemos dizer.

Jesus deu tudo o que tinha, deu toda a sua vida até o fim. Ele amou plenamente e ensinou a amar. O amor generoso, inclusive, será para sempre o sinal dos seus seguidores. Ele lhes entregou o tesouro mais precioso: o desejo e a capacidade também de doar-se. Pede o peixe, para comê-lo juntos com o pão da comunhão, pede o amor de Pedro para que o seu rebanho fique firme e unido na fé. Ele deu tudo, quer saber agora se os apóstolos estão dispostos mesmo a segui-lo e a anunciá-lo com amor e por amor. Sem outros interesses, sem procurar outros falsos tesouros, porque encontraram o maior de todos: o amor que se comunica e se multiplica! Uma riqueza que, maravilha das maravilhas, não diminui quando é comunicada, ao contrário se multiplica infinitamente. Ninguém fica mais pobre quando se doa po r amor, ao contrário fica mais feliz e nunca duvida dos frutos da sua bondade.

Tinha razão o homem da historinha do diamante a não conseguir mais dormir. O pobre monge era muito mais rico do que ele. Simplesmente porque dava mais valor à sua liberdade, à sua fé, à Palavra que estava anunciando, que a todas as riquezas deste mundo. Ele, que não cobiçava nada, era mais rico do que o sonhador do diamante. Rico de uma riqueza que faz parecer insignificantes os bens deste mundo: a capacidade de amar oferecendo a si mesmo, a sua própria vida. Como disse Jesus: – Quem perder a sua vida por causa de mim a encontrará (Mt 16,25)-. É a vida nova da ressurreição.

Que bom seria se sonhássemos menos com diamantes e buscássemos mais a felicidade que vem do amor fraterno, da generosidade, do perdão, da partilha. A nossa vida seria muito mais rica de sentido e de paz.

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