“Bença, madrinha”

Zilah Porpino, com o tataraneto Lucas no colo, ladeada pela filha Marly e bisneta Brunna

Minha madrinha de batismo – ou como dizia o poeta Isnard, “madrinha de água benta”- Zilah Floresta de Souza Porpino completou ontem 92 anos de idade, alegre e cheia de vida, rodeada por filhos, netos, bisnetos e tataraneto.

Ah, como eu gostaria de estar pertinho dela festejando a data, celebrando a vida. Bateu aquela vontade de abraçá-la, beijar sua face, acariciar seus cabelos e dizer “bença, madrinha” . Em troca eu receberia seu carinho e um largo sorriso. E ouviria histórias da época que ela morou em Macapá e, com certeza, ela me contaria muitas coisas bonitas dos meus pais, seus compadres, Alcy e Delzuite.

Madrinha Zilah sempre foi uma mulher elegante, conversadeira e alegre. Dela só tenhos boas lembranças. Doces lembranças. Tão doces como um bolo confeitado que ela me deu cheinho de bombons.
Eu estava fazendo seis anos. Meus pais fizeram uma festinha pra comemorar. Zilah presenteou-me com o bolo confeitado. Era um bolo lindo: branco, azul e róseo. Depois dos parabéns, quando parti o bolo –  surpreeeesaaaaa! Ele estava recheado de bombons. Parecia mágica. Minhas coleguinhas ficaram encantadas e eu também. Nunca tínhamos visto nem comido um bolo recheado de bombons. Aliás, daquele tipo foi o único que vi em toda minha vida. Talvez por isso, a lembrança desse bolo ainda esteja tão viva quase 50 anos depois. Entre uma camada e outra, havia um recipiente feito com uma massa doce e branca cheinho de bombons de frutas – que no sul chamam balas. Quando cortei apareceu aquela enorme quantidade de bombons, embrulhadinhos em seus papéis originais. Daí passamos a chamar para as balinhas de fruta de “bombom do bolo da tia Zilah”.

O mano Alcione comentou ontem no blog Repiquete que lembra as conversas de Zilah com mamãe, com muitos cafés e risadas no fim da tarde na nossa casa. Eu também lembro. E muito! As duas, em cadeiras de balanço no pátio ou na calçada, tomando café, conversando e rindo.
Certa vez, Zilah chegou de Belém e, claro, um dos primeiros compromissos dela era o fim de tarde em demorada e alegre conversa com mamãe. Logo  mamãe me avisou: “Tome banho cedo e se arrume que sua madrinha chegou e vem nos visitar.” Avisei para as coleguinhas que naquela tarde só poderia brincar até às cinco. Quando madrinha chegou eu ainda estava no banho. Me arrumei, me perfumei e fui lá fora falar com ela. As duas nas cadeiras de balanço colocando os papos em dia e rindo, como sempre. Me aproximei, tomei a bênção (bença, madrinha), ela me abraçou, me beijou, me fez perguntas sobre a escola, depois abriu o cordão que tinha no pescoço, tirou dele o pingente e me deu, dizendo que não teve tempo de comprar um brinquedo, mas me presenteava com uma jóia que duraria muito mais que uma boneca ou panelinhas. Até hoje tenho esta jóia. É uma estrela de ouro amarelo com um pequeno rubi no centro. Dizem que uma jóia é para sempre, mas para sempre mesmo é o afeto que tenho por Zilah.
Bença, madrinha. E que Deus lhe dê ainda muitos anos de vida.

(PS – Meu padrinho José Porpino foi alto funcionário do então Território Federal do Amapá. Morreu há muitos anos quando estava sendo operado de um aneurisma em Belém)

Cinco gerações – Zilah com a filha Marly, netas, bisnetas e o tataraneto

  • Oi Néa , realmente emocionante essa lembrança de tua madrinha , que me suscitou lembranças da minha madrinha, Profa. Cezaltina, que também foi amiga da tua mãe , e o nome Delzuith também me marcou pelo ouvir falar através da minha madrinha. Esta não me deu um pingente, mas me deu um retrato do Janary Nunes , numa moldura que era tipo um prato de gesso com bordas coloridissimas, e isso foi o suficiente para me alegrar os olhos! rsrsrs.

  • Querida Alcinea, foi uma grata e linda surpresa a matéria escrita para nossa vó…tão linda e cheia de carinho, quem nem os tantos anos apagaram em sua memória e seu coração. Ainda mais nos dias de hoje em que os valores estão tão perdidos e que raramente encontramos uma família. E sendo parte integrante dessa família da qual muito nos orgulhamos, posso afirmar que há muito amor e felicidade e que isso nos basta, afinal de contas o que é a vida sem amor?
    Muito obrigada pela homenagem à minha vó Zilah e que Deus continue te iluminando.
    Patrícia Porpino

  • Gláucia, saudades, obrigada por compartilhar comigo essa linda homenagem da Alcinéa para sua avó, a qual passa uma história de vida que mostra as gerações ao longo do tempo, que emociona ao ver todo esse carinho e o respeito p com ela, importante para mostrar ao Lucas mais tarde.
    Parabéns pela homenagem, vou mostrar para o pai que como vc sabe esta com 80 anos.
    Bjs,
    Bel

  • Alcinéa,
    Suas reminiscências da infância demonstram a importância devotada por você à Vovó Zilhah, sua Madrinha.
    A homenagem prestada em seu site emocionou a todos de nossa Família, em especial a mim.
    Estava concentrado na faina diária de meu Escritório, quando fui chamado por minha Secretária. Ela disse: “Venha ver uma homenagem para sua Avó no site da Alcinéa.”
    Atendi ao chamado e pus-me a ler o texto na frente de alguns clientes.
    Na sobriedade de um Escritório de Advocacia, contive-me, mas lhe confesso que lágrimas invisíveis verteram para dentro, tão forte foi o impacto de suas cativantes palavras, lembrando, inclusive, do meu saudoso avô José Porpino, que tantos bons serviços prestou a este rincão.
    Seu texto evoca, ainda, como pequenos e despretensiosos momentos são capazes de marcar nossa infância.
    Por falar nisso, lembro-me vagamente de uma vez que minha Avó Zilah, quando em visita a Macapá, me levou junto para uma das várias e agradáveis conversas com a Professora Delzuith, nome que, só de ouvido, achava extremamente forte, diferente mesmo, para a minha, então, tenra idade e que tem e tinha inteira cabida para sua saudosa Mãe, grande Amiga de minha Vó Zilah.
    Vovó Zilah, nos seus 92 anos, conserva-se lúcida, adora viajar e passear para ver as novidades desse Mundo.
    Avó lembra Mãe e mãe, como diz um experiente e bem vivido conhecido meu, é igual a um vaso raro de cristal: “A gente nunca
    quer que se quebre.”
    Agradeço imensamente sua homenagem à Vovó Zilah e que Deus lhe ouça.
    Abraços.
    Marcelo Porpino Nunes

  • Alcinéa, que linda homenagem à minha avó, tão querida, tão especial e que exemplo de ser humano….Eu, como uma de suas netas mais velhas, tenho também doces lembranças de minha infância, junto à vovó, mulher forte, esposa devotada, mãe dedicada que ainda hoje continua marcante em nossas vidas, com suas experiências, alegria e vontade de viver, inspira-nos a sermos agradecidos ao dom de viver para então, desfrutarmos intensamente cada momento que Deus nos empresta. Agradeço a você esse emocionante relato da marca que vovó Zilah deixou em sua doce infância…Quisera sejamos assim para nossos netos. Bjos

  • Poxa Alcinéa, que história linda!! lindo mesmo estou emocionado, poucas vezes vi alguém relatar tão bem uma história com tanta emoção e carinho, viajei com você nessa história, você é poetiza? se não deveria ser! Parabéns e muito obrigado por compartilhar essa belissíma história com todos aqui.

  • Que lembranças vocês tem da vovó Zilah!!! Cheguei a me emocionar. Como disse Glaucinha, “vovó continua firme e forte”, ontem mesmo quando liguei para pedir sua benção e parabenizá-la ela me disse: sabe como é né Silvinha, dores daqui e dalí, mas é isso que trás a velhice, importante é que eu estou feliz…!” Essa é a Zilah que sempre conhecemos, noutra ocasião passarei a você um texto que fizemos para homenageá-la em seus 80 anos. Ela é um exemplo para todos nós, pela graciosidade com que vive sua velhice. Amo você Vovó, muitão!!
    Obrigada Alcinéia. Valeu!
    Silvia Karla

  • Nossaa que linda história.. Conheço essa familia, é mto abençoada..
    Bjos a todos, em especial a Patricia Porpino, Bruna e esse bebe maravilhoso que veio alegrar mais um pouco esta familia, e estou louca pra conhecer e paparicar um pouco ele..
    :*

  • Que bela lembrança! As madrinhas de outrora, eram como mães, conscientes de sua missão e ajudavam na educação com seus bons exemplos e orientação. Hoje,salvo várias exceções, parece que perdemos este grande apoio em nossas famílias. Parabéns por ser uma boa afilhada, que ainda toma benção e fala com carinho de sua “dindinha”. E a ela, toda felicidade do mundo por mais um aniversário.

  • Lindo texto. O pingente é uma história linda de nobreza do gesto, um valor que não tem poder capital e sim emocional e de estima… Parabéns pelos 92 anos dona Zilah. Você como sempre faz uma linda “renda portuguesa”. Bom dia, cheio de graças.

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