Poema para Alcy

POEMA PARA ALCY
Paulo Tarso Barros
Anjos, Serafins,
Querubins:
as hostes te disputavam mas,
por bondade divina,
te deixaram conosco
por 66 anos.

Invejavam teu imenso amor
e sempre diziam ao Pai:
o que faz esse anjo torto de Peixe-Boi
naquele planeta equatorial escrevendo crônicas,
redigindo ofícios e despachando papéis do governo?
O que faz esse Anjo Bêbado naquele
planeta onde crianças passam fome
e são assassinadas ?
Ele é um de nós, Pai,
mas aprendeu a beber uísque
e a fumar cachimbo.
O Anjo Alcy amava os jardins,
os dias chuvosos e os tantos filhos que teve
com as mulheres que amou.
Apesar de anjo da mais alta hierarquia,
fez questão de pousar na terra e
viver perto do rio-mar
somente para imaginar-se na imensidão
amazônica e navegar até a Noruega.
Sim, o anjo Alcy gostava das caboclas
ribeirinhas, das moças do cais e
sonhava com as deidades nórdicas
que emergiam dos seus poemas
– que sempre contavam com a visita
dos anjos mais puros e loucos do universo.

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