Artigo dominical

Você usou todas as suas forças?
Dom Pedro José Conti, Bispo de Macapá

O pai olhava o filho pequeno que se esforçava para afastar um vaso de flores muito pesado. A criança empurrava, puxava, suava, reclamava, mas não conseguia mover o vaso em um só milímetro.
– Você usou todas as suas forças? – perguntou o pai.
– Sim – respondeu o menino.
– Não – respondeu o pai – porque você ainda não me pediu para ajudá-lo.

O evangelho deste domingo começa com um grito por socorro: “Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim!”. É Bartimeu, o cego de Jericó que, da beira da estrada, clama por ajuda. O que Jesus faz em seguida poderia parecer mais uma cura como tantas outras. O cego, finalmente, conseguiu enxergar. A fé dele o curou. No entanto, o evangelista Marcos quer nos conduzir mais longe: aprender a seguir Jesus “pelo caminho”.

Nos domingos anteriores, encontramos pessoas de boa vontade querendo ganhar a vida eterna com a obediência aos mandamentos ou dispostos a acompanhar Jesus, também numa possível luta, para conseguir os primeiros lugares quando ele alcançar a vitória final. Essas pessoas representam os discípulos, talvez os catecúmenos, para Marcos, que ainda precisam ser trabalhados. A todos, Jesus responde com propostas desafiadoras: livrar-se das riquezas e mudar a maneira de pensar sobre o poder neste mundo: o que vale, não é mandar, mas servir. Fica no ar a pergunta: será que tudo isso é possível para pobres criaturas humanas, que somos nós, cheios de defeitos, presos nos nossos pecados e limitações? Já ouvimos a resposta de Jesus: “Para os homens isso é impossível, mas não para Deus. Para Deus tudo é possível” (Mc 10,27). É uma resposta animadora ou desanimadora? A verdade é que sozinhos não damos conta. Precisamos clamar por ajuda. E o Senhor nos socorre.

Assim o cego de Jericó se torna modelo do discípulo, com problemas graves – está cego! – mas grita, pede e sabe muito bem o que quer: quer enxergar, deixar de ficar à margem da estrada da vida, da história. Se enxergar, poderá seguir Jesus pelo caminho. É bonito demais o evangelho. Aparentemente conta o caso de Bartimeu. De fato, diz-nos o que devemos fazer para seguir Jesus de verdade: contar menos nas nossas forças e confiar mais no amor salvador dele. No entanto, precisamos dar alguns passos ou pulos, como fez o cego ao ser chamado.

Primeiro, precisamos acreditar no que Jesus ensinou nos domingos passados: libertar-nos da cobiça das riquezas que escravizam e da ilusão do poder dominador. Ou seja, enxergar a vida, o seu sentido, os bens, as pessoas, com outro olhar. Se somente enxergamos o dinheiro e o poder, somos cegos e iremos embora tristes. Os bens materiais e os primeiros lugares não são coisas más em si, podem ser boas na condição de usá-los para os pobres e servi-los com dedicação e generosidade. É evidente que Jesus propõe àqueles e àquelas que querem segui-lo outra convivência, outra sociedade. Já falou de cem vezes mais irmãos e irmãs junto com as perseguições – são o cálice e o batismo do evangelho deste domingo -. Com efeito, as riquezas geram disputas, mas quando são usadas para promover e “resgatar” vidas constroem fraternidade e justiça. O poder não colocado a serviço do bem comum se torna opressão e tirania, mas pode servir para defender os direitos dos pequenos e derrubar o orgulho dos poderosos.

Grande demais é o fascínio das riquezas e do poder, sozinhos não damos conta de vencê-lo e muitos nos repreendem, dizem-nos de calar, porque é inútil, o mundo é assim mesmo, é dos espertos, dos grandes, nunca vai mudar. No entanto, se gritamos por socorro – e é este o segundo pulo que precisamos dar – Jesus escuta o nosso grito como escutou os berros do cego de Jericó. Ele nos chama, está pronto para nos ajudar, se acreditarmos na força “possível” do amor de Deus. Ele abre os nossos olhos e o nosso coração, coloca-nos de pé, capazes de andar para segui-lo “pelo caminho”. Então, coragem! Chega de reclamar calados, pulemos e gritemos por socorro.

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