Artigo dominical

O segredo de todos os Santos e Santas
Dom Pedro José Conti,  Bispo de Macapá

Contam que São Teodoro vivia atormentado pelos demônios, sobretudo nos momentos dedicados à oração. Certo dia, confessou ao seu guia espiritual que tinha visto Satanás, disfarçado de anjo de luz e ele procurava atraí-lo repetindo sempre:

– Eu amo os ambiciosos e você é muito ambicioso, por isso, vai ser meu!

São Teodoro ficou arrasado e mergulhou no abismo do medo e do desespero. Clamou a Deus dizendo:

– Senhor, está vendo que os demônios me impedem de rezar. Eu suplico, me diga o que tenho que fazer para conseguir afugentá-los?

– O Senhor lhe respondeu: – Os demônios nunca deixam de atormentar as almas orgulhosas.

São Teodoro, de joelhos, implorou: – Senhor, então, quais pensamentos afastarão de mim o Maligno e encherão de luz a minha alma?

O Senhor, na sua infinita paciência, o instruiu: – Quando Satanás chegar, deve dizer-lhe: “Eu sou o pior de todos!” Assim fez São Teodoro e encontrou, finalmente, a paz do seu coração.

Essa pequena história nos lembra do segredo dos Santos e das Santas: a humildade. Eles não foram diferentes de nós. Viveram a realidade humana com todas as suas belezas e limitações. Foram tentados, provados, tiveram que lutar. O bem que fizeram não foi nada fácil, exigiu esforço, renúncias, perseverança, superação de si mesmos. No entanto, todos eles souberam que qualquer fosse o resultado de tanto trabalho, a força não era deles, mas do próprio Deus. Tudo era dom gratuito daquele Espírito que, não por nada, é chamado de “santo”.

Jesus nos ensinou que o caminho da vida é apertado, e poucos são os que o encontram (cf. Mt 7,13-14), mas não é impossível acertá-lo. Ele mesmo está pronto a nos ajudar para que a fadiga se torne mais leve e percamos o medo de arriscar confiando, cada vez mais, na sua palavra. O primeiro passo desse caminho é – acredito – o de reconhecer os nossos erros. Hoje assistimos a muita violência, desonestidade e corrupção, mas poucos assumem a responsabilidade do mal cometido e as consequência que seguem. Parece que as coisas erradas, que prejudicam a todos, aconteçam por sua própria conta, já que ninguém assume a autoria. A culpa é sempre dos outros, da sociedade e, às vezes, até de Deus, que, afinal, não fez o mundo como, nós pensamos, deveria ser. São sempre os outros que devem mudar, nós, nunca. O contrário acontece com as coisas boas, algo que deu certo e se tornou bom para todos. Nesse caso, há disputa para querer ser reconhecidos como responsáveis da obra ou do acontecido. Nos enchemos de orgulho e ficamos cegados pelo bom êxito daquilo que foi feito. Dessa maneira, o bem dura pouco. Logo aparecem a inveja, o ciúme e, pior de tudo, a divisão. Em lugar de nos unirmos mais para multiplicar o bem, humildemente agradecidos pela colaboração das pessoas de boa vontade, ficamos ressentidos pela ingratidão e a falta de reconhecimento dos outros. Assim, o bem desaparece rápido e sobram as mágoas.

Os Santos e as Santas sabiam da própria fragilidade e precariedade. Confiavam mais na força do amor de Deus que nas próprias capacidades. Foram incansáveis em buscar ajuda. Batiam às portas e pediam, nunca para promover a si mesmos, mas para que não faltasse o necessário aos pobres, às crianças, aos doentes, a todos os pequenos que a eles, ou a elas, recorriam. A humildade une as pessoas, porque dá a possibilidade a todos de ajudar do jeito que cada um sabe e pode. O orgulho, a busca do sucesso individual, afasta os demais, porque não dá espaço e nem vez para os outros. Podemos ter certeza que também no céu os Santos e as Santas não ficam disputando entre si para distribuir favores aos seus devotos. Estamos errados quando pensamos que alguns deles (ou delas) tenham mais poder que outros. Todos e todas intercedem por nós. O que deveríamos fazer era aprender mais com eles o caminho da humildade, como eles aprenderam com Jesus e com Maria. Bom, segredo revelado não é mais segredo, é boa notícia, é evangelho. Saibamos aproveitar.

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