Artigo dominical

O sabonete
Dom Pedro José Conti, Bispo de Macapá

Um garoto pobre, vestido com roupa humilde, entrou num comércio e escolheu um sabonete. Foi com o dono do estabelecimento e, depois de pagar com algumas moedinhas, pediu-lhe que o embrulhasse como presente.

– É para a minha mãe – disse com orgulho.

O dono da loja ficou comovido diante da singeleza do jovem. Pensou se não era o caso de embrulhar, junto ao sabonete, alguma coisa mais valiosa. Lembrou-se de sua própria mãe. Ele também foi um garoto pobre e, muitas vezes, tinha desejado dar algum presente para ela. Infelizmente, quando conseguiu um trabalho, a mãe já tinha falecido. O homem estava viajando em suas lembranças e demorava a embrulhar o presente. O menino ficou ansioso e perguntou:

– Senhor, está faltando alguma coisa?

– Não, não – respondeu o dono – só estava me lembrando de minha mãe. Sempre quis lhe dar algum presente, mas nunca consegui.

– Nem um sabonete? – perguntou o garoto. O homem ficou calado. Como é que não tinha pensado antes num presente tão simples? Queria dar para a mãe coisas caras, mas, agora, estava entendendo que a grandeza do presente estava mais no gesto de amor e de gratidão do que no seu valor material. Com efeito, naquele pobre sabonete estava todo o coração do menino.

Coisa de criança ou… de viúva pobre. No evangelho deste domingo Jesus aponta a insignificante oferta de uma viúva para o tesouro do templo como a contribuição mais preciosa de todas as outras. Ele mesmo explica: “Todos deram do que tinham de sobra, enquanto ela, na sua pobreza, ofereceu tudo o que possuía para viver” (Mc 12,44). Se fosse pela quantia de dinheiro, os ricos, evidentemente, estavam dando muito mais. Mas também já recebiam, abertamente ou não, os elogios e a admiração das pessoas. Aliás, eles faziam questão de chamar a atenção porque, alerta Jesus, os “grandes” gostam disso, da exterioridade, de aparecer para receber os aplausos do povo.

O gesto e a oferta deles, porém, não podem ser chamados de “generosidade” verdadeira, porque eles estão dando das sobras dos seus bens; aquela quantia não vai lhes fazer falta alguma. Muito diferente é a situação da viúva. Ela deu do necessário para viver. Não se desprendeu daquilo que não custa nada ou é jogado fora: ela tirou do seu próprio sustento.

Bem conhecemos o ditado que nos diz que “as aparências enganam”, no entanto continuamos a ficar encantados com gestos chamativos, prontos a bater palmas nas praças públicas ou nos palcos dos meios de comunicação. As pessoas verdadeiramente generosas não precisam de propaganda. Elas escolhem o anonimato, porque o que lhes dá satisfação e alegria não são os elogios humanos, tão passageiros, mas a felicidade dos que pôde ajudar e, se acreditam em Deus, vale o simples fato de se sentirem colaboradores daquele que veste os lírios dos campos e não deixa faltar o alimento aos pardais. Os bens materiais e as riquezas, também se são fruto do esforço e das capacidades humanas, afinal, são sempre dom de Deus.

Ninguém pode se dizer merecedor do que é e do que tem perante a bondade do Pai misericordioso. Ajudar os irmãos necessitados e partilhar o que temos com quem não tem é o mínimo que podemos fazer para agradecer e nos tornarmos instrumentos da providência divina. Não é possível dizer acreditar e confiar num Deus capaz de fazer nascer o sol sobre bons e maus e fazer cair a chuva sobre justos e injustos (cf Mt 5,45) e depois selecionar quem ajudamos ou querer tirar proveito dos atos de caridade.

O que vale entre as pessoas vale também entre nações inteiras. Todos os últimos papas disseram que os países ricos devem ser mais generosos com os países menos desenvolvidos e não devem mascarar de ajuda o que depois criará dependência tecnológica e financeira. Pensando bem, está em jogo o futuro da humanidade. Se não sabemos doar de coração nem duas moedinhas, ou nem um sabonete, de qual “deus” somos filhos?

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