Artigo dominical

Misericórdia eu quero, não sacrifícios (Mt 9,13)
Dom Pedro José Conti, Bispo de Macapá

 No dia 8 de dezembro, o papa Francisco abriu, na Basílica de São Pedro, em Roma, a Porta Santa, dando início ao Jubileu Extraordinário da Misericórdia, chamado também de Ano Santo. As nossas “portas santas” estarão abertas na Catedral São José e em outras Igrejas a partir do domingo 13 de dezembro. É bom oferecer algumas explicações sobre o assunto, lembrando que o último Jubileu foi celebrado no ano 2000.

Os Jubileus “ordinários” acontecem a cada 25 anos, mas, vez por outra, os papas proclamam Jubileus Extraordinários. Desta vez, a ocasião é dada pela recorrência dos 50 anos do encerramento do Concílio Vaticano II, ocorrida no dia 8 de dezembro de 1965. Essa motivação pode parecer exclusiva para os católicos e,  de fato, o é. Serão os católicos a cumprir os simples gestos de piedade que o Jubileu pede.  No entanto, papa Francisco não somente quer reavivar o espírito do Concílio Vaticano II, como também convidar a humanidade toda a redescobrir o valor insubstituível da misericórdia. Com efeito, o Concílio quis renovar e aparelhar a Igreja para que não se preocupasse somente com as próprias estruturas ou com o seu patrimônio doutrinal. Naquela oportunidade, a Igreja Católica não condenou nenhum desvio a respeito da fé e decidiu dialogar mais com a humanidade inteira nas suas amplas diversidades históricas, culturais e religiosas.

Os cristãos não são um grupo separado dos outros cidadãos do mundo; ao contrário, devem agir como o sal da terra e o fermento na massa. A “luz dos povos” é Jesus Cristo, mas os cristãos podem ser pequenas luzes quando testemunham, com alegria e sacrifício, a própria fé. É por isso que papa Francisco fala de uma Igreja “em saída”. Uma Igreja que “sai” dos seus redutos, ilusoriamente considerados seguros, para ir ao encontro das pessoas, de maneira especial os pequenos, os pobres, os excluídos, os caídos na beira das estradas da vida. Os cristãos não são uma elite de perfeitos que julgam os outros, mas são errados e pecadores, como todos. Eles, porém, encontraram o Senhor Jesus e, no amor e no perdão dele, o sentido mais profundo de suas vidas.

Os cristãos-católicos não devem se preocupar em arrebanhar adeptos a qualquer custo; eles devem anunciar, com as suas próprias vidas e até o martírio, se for necessário, a grandeza e a maravilha do amor de Deus. Ele é um Pai “rico em misericórdia”, que ama todos os seus filhos e, mais ainda, os afastados, os desobedientes, os que vivem sem rumo, sem meta, sem esperança. Jesus – escreve papa Francisco na Bula de proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia – é o rosto misericordioso do Pai. Ele “passou fazendo o bem”, curou as feridas corporais e espirituais daqueles que o procuravam. Se por causa da Lei algumas pessoas se sentiam condenadas e outras se orgulhavam de serem “justas”, Jesus ensinou a todos que o amor do Pai é dom gratuito dele e que a grandeza de Deus está mais na sua bondade, na misericórdia e no perdão do que no rigor na aplicação de uma Lei cega e implacável.  Jesus foi julgado rebelde e blasfemo, mas para o Pai foi o Filho amado que cumpriu até o fim a sua missão. Os homens da Lei o crucificaram, mas o Pai o ressuscitou (cf. Atos 2,23-24).

Literalmente “misericórdia” vem do latim e significa “ter o coração atento aos pobres”, aos míseros. No entanto, pensando bem, quem pode considerar-se tão acima das fraquezas humanas de não precisar de misericórdia e de perdão? Talvez sejam, justamente os mais orgulhosos, fechados nas suas falsas segurança e nas suas práticas religiosas, transformadas em ídolos, os primeiros a ter que reconhecer a sua “miséria”. O mundo todo precisa reencontrar os caminhos da compaixão e com isso os frutos que virão: a solidariedade, a partilha, a justiça e a paz.

Voltaremos sobre o assunto ao longo deste Ano da Misericórdia; por enquanto, celebrando o Terceiro Domingo do Advento vamos deixar ecoar nos nossos corações a mesma pergunta que fizeram a João Batista:  O que devemos fazer? – Sejam “misericordiosos como o Pai” – é a resposta que Jesus não se cansa de repetir.

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