Artigo dominical

Fraternidade e Juventude
Dom Pedro José Conti, Bispo de Macapá

No capítulo terceiro da Regra de São Bento podemos ler esta norma: “Todas as vezes que devem ser feitas coisas importantes no mosteiro, convoque o Abade toda a comunidade e diga ele próprio de que se trata. Ouvindo o conselho dos irmãos, considere consigo mesmo e faça o que julgar mais útil. Dissemos que todos fossem chamados a conselho porque muitas vezes o senhor revela ao mais jovem o que é melhor”.

Este grande santo, vivido entre o quinto e o sexto século, fundador de uma ordem monástica que existe, ainda hoje, já tinha entendido que os jovens podiam colaborar de maneira eficaz na própria organização dos mosteiros. Podemos pensar também que se São Bento teve que colocar esta norma na sua Regra foi, talvez, porque, raramente, os jovens eram ouvidos nas questões “importantes” da fraternidade. Talvez seja esta uma questão que, apesar de ter passado tantos anos, de fato se apresente a cada geração. Sempre ouvimos falar de “conflito” generacional, de uma confrontação entre o que os mais adultos afirmam ser o certo e o novo que os jovens acreditam ter condições e capacidades de fazer.

Podemos ler também deste ponto de vista a história do mundo. De geração em geração, de conflito em conflito, as coisas vão caminhando. O que parecia imutável no passado, os jovens transformam ou vivem de maneira diferente e criativa. Nenhuma mudança é fácil. Nenhuma passagem acontece sem sofrimentos e saudades. No entanto devemos reconhecer que é na continuidade da busca que se abrem novos caminhos, que se alcançam novas metas, as quais, por sua vez, abrem a outros horizontes. Assim vai a história da humanidade, ela nunca vai ser uma mera repetição do passado, nunca se cansa de nos surpreender. Com um ritmo cada vez mais acelerado cada geração jovem freme por querer dizer e fazer algo de novo. Os saudosistas ficam para trás e o novo irrompe na vida com a força e a garra da juventude. Quantas ideias, quantas descobertas científicas, quantas intuições brotaram nos primeiros anos da vida das pessoas, junto com os sonhos e os projetos de quem sabe que tem a vida toda à sua frente. Nem tudo o que foi imaginado poderá tornar-se realidade, mas, sem dúvida alguma, alimenta a esperança, dá força para superar obstáculos, leva a tomar decisões novas e corajosas.

Assim deveriam ser os jovens, todos os jovens. Lamentamos que alguns busquem a felicidade trilhando caminhos errados que levam à tristeza, à solidão, à morte. Outros, por se sentirem mal amados, pensam em afirmar-se com a violência. Nada entristece mais que a visão de jovens desperdiçando as suas melhores capacidades e energias, sem rumo algum, tendo perdido qualquer sentido da vida.

Vivemos numa sociedade onde o mito da juventude eterna tomou conta dos mais adultos. Quantos sacrifícios inúteis são feitos para esconder os anos que se acumulam nos rostos e nos gestos dos mais velhos. Os jovens não precisam fingir ou pintar uma juventude que não existe mais. Eles são jovens mesmo, cheios de vida, de sonhos e de esperanças. Cabe aos adultos colaborar com eles, escutá-los com carinho e amizade. Os jovens, também com as revoltas deles, pedem para ser ajudados, querem saber dos adultos se vale a pena lutar por coisas grandes como a verdade e a justiça, a fraternidade e a paz. O mundo jovem não precisa somente de celulares, computadores, tabletes ou redes sociais e tudo o que eles sabem utilizar com habilidades surpreendentes, eles precisam também dar respostas às perguntas que todo ser humano se faz: se são o dinheiro e o poder que fazem as pessoas felizes, se o amor existe ou se todas as alegrias da vida acabam com o passar dos anos, deixando só feridas e amarguras.

Os jovens querem saber se vale a pena ainda acreditar em Deus, se compensa ser amigos de Jesus e confiar nele. É nesses momentos que os pais, os mestres e a sociedade toda, podem ajudar os jovens a dar um sentido à própria vida. Não somente com conselhos e boas palavras, mas com o exemplo de adultos que vivem e praticam o que cobram dos mais jovens. Precisamos de adultos capazes de transmitir às novas gerações a beleza da vida – e da fé, para quem acredita – para que estas, por sua vez, não somente continuem no mesmo caminho, mas façam ainda mais e sejam melhores. Somente assim os mais velhos deixarão este mundo com o coração em paz e os mais jovens não se esquecerão, tão cedo, dos bons exemplos daqueles que os precederam.

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