Artigo dominical

Cada janela é alcançada pelo sol
Dom Pedro José Conti, Bispo de Macapá

 Um homem duvidava do amor de Deus. Estava desesperado. Um dia, porém, quando estava vagando sem rumo pelas colinas perto da sua cidade, encontrou um padre. Este, vendo a tristeza estampada no rosto dele lhe perguntou:

– Meu irmão, o que é que o aflige tanto?
– Estou me sentindo completamente só – respondeu o homem.
– Eu também estou só – disse o padre, no entanto, não estou triste.
-Talvez porque você tenha a companhia de Deus – replicou o outro.
– Falou certo – continuou o padre.
– Eu, ao contrário, não tenho nenhuma amizade com Ele. Não consigo crer no seu amor. Como é possível que Ele ame todos os homens um por um? Como é possível que ame a mim?
– Você está vendo a nossa cidade lá em baixo? – perguntou o padre – Está vendo todas as casas? Está vendo as janelas de cada casa?
– Estou vendo tudo isso, sim – respondeu o homem.
– Então, não deve se desesperar. O sol é um só, mas cada janela da cidade, também a menor e a mais escondida, é alcançada pelo sol em alguma hora do dia. Talvez você perdeu a esperança, porque deixa fechada a janela de sua casa!

Como de costume, durante o mês de agosto, refletimos sobre as diferentes vocações na Igreja e na sociedade. No primeiro domingo agradecemos ao Senhor pela resposta que os padres diocesanos, religiosos e missionários deram ao chamado de servir ao Povo de Deus através do ministério ordenado. É difícil em poucas palavras resumir a missão do padre. Às vezes pensamos que, não tendo família, tenha uma vida folgada. Livre das preocupações da maioria dos pais, ou mães, de família: sempre atrás de serviço e de dinheiro para pagar as contas, mas os padres se preocupam, sim, com famílias, crianças e jovens, só que são filhos… dos outros.

Outras vezes pensamos que o padre tenha uma vida solitária, talvez triste. Pode acontecer, porque é humano, mas em geral vive no meio das pessoas e sabe transmitir esperança, alegria e paz. Tudo isso porque, dizendo em poucas palavras, o padre é chamado a proclamar a verdade sobre Deus e sobre o homem. Uma verdade que não pode, não consegue e nem quer guardar somente para si.

A primeira verdade que deve anunciar é o amor de Deus. O padre da historinha convidou o homem triste a abrir a janela do seu coração para deixar entrar a paz e o amor de Deus. Não é Ele que deixa de nos amar; somos nós que damos pouco valor a este amor e não nos deixamos alcançar por ele. Quantas pessoas vivem fechadas em si mesmas ou em seus negócios. Parece não existir mais nada fora delas. Saber que são amadas pelo Pai não significa ter resolvidos, milagrosamente, todos os seus problemas. É mais do que isso. É abrir-se a algo e a alguém maior do que nós. É dar um sentido a tudo o que fazemos, abrir horizontes, criar laços de fraternidade, além dos lucros, das trocas de favores e do nosso exclusivo bem-estar, vivendo a experiência maravilhosa que “Há mais felicidade em dar do que em receber” (At 20,4).

Uma segunda verdade que o padre não pode calar – e por causa disso, muitas vezes não é bem acolhido – é sobre a transitoriedade da nossa vida e de todos os bens materiais. É o evangelho deste domingo. O padre, claro, não pode chamar alguém de louco, como fez Deus na parábola que Jesus contou. No entanto deve exortar as pessoas a não gastar inutilmente os dons que receberam de Deus para enriquecer sozinhas, juntando tesouros para si mesmas. Jesus não teve medo de alertar contra a ilusão da ganância e do poder. Convidou a sermos ricos perante Deus e não perante os homens. A riqueza de Deus é a misericórdia, para Ele valem o bem, feito sem recompensa, o amor e a vida doada. Tudo o contrário daquilo que sempre proclama o mundo.

Talvez seja por isso que não é fácil ser padre, por ter a missão de não enganar, de não iludir com promessas interesseiras. O que vale mesmo é encontrar aquele que somente pode satisfazer todas as nossas fomes e sedes: Jesus Cristo. Ele nos conduzirá ao Pai, com a força do Espírito Santo. Mas também nos conduzirá aos irmãos, sem exclusões e sem exploração. Ele nos dará a alegria de construir amizades, de ter alguém em quem confiar, sem medo de amar, perdoar, partilhar. Essas são as verdadeiras riquezas que vale a pena acumular. Nem precisa de celeiros, porque elas já estão guardadas no coração de Deus.

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