Incertezas republicanas

Incertezas republicanas
Rui Guilherme

Se não foi Confúcio quem deixou esta lição, bem que podia ter sido. O ensinamento é aquele que diz que as palavras são como cavalos em galope: se forem bem guiados, levam com segurança aonde se quer chegar; mas, à rédea solta, os cascos em tropel podem vir a destruir o seu próprio jardim, ou o de seu vizinho.

O noticiário recente tem-se dedicado a falar muito mais do presidente eleito. Do mandatário em exercício, somente notas escassas. Este último, é o presente. O eleito, é o futuro.

Os que foram batidos nas urnas amargam o travo da derrota. É preciso engolir doses gigantescas de fair play para se superar bem as horas de decepção, aceitando que a batalha terminou e que o pavilhão que tremula no mastro da vitória não é aquele que foi símbolo da causa vencida. Mas, em que pese a tristeza da derrota, há que aceitá-la quando o combate terminou.

Ao vencedor, os louros da conquista. Mas que não se turvem estes ao espezinhar quem não ganhou. Não é nobre fazê-lo.

As últimas eleições são página virada no livro de história do Brasil. O que resta agora é juntarem-se as forças, aliarem-se os talentos; é cerrar fileiras no esforço comum de tirar o país desse tormentoso mar de seus problemas. E que se faça isso esquecendo-se os ódios e antagonismos procedentes da disputa eleitoral. Que se baixem as armas, sepultando-se a polarização partidária nociva e antipatriótica.

Para a condução equilibrada dos negócios republicanos, a oposição sistemática e intransigente é tão perniciosa quanto o apoio situacionista e subserviente do sectarismo fanático.

Não se afaste do povo a consciência de que seremos governados daqui há pouco mais de um mês por aqueles a quem a maioria dos cidadãos escolheu pelo voto livre. E que se mantenha firme a noção de que os eleitos são mandatários da vontade popular. É mera outorga de poder isso, da qual resulta que, se o eleito é mandatário, mandante é o povo.

O passado é imutável. Para o presente, em razão de sua fugacidade, as ações de hoje só causam impacto no tempo futuro, que é somente quando se perceberão seus efeitos.

Hold your horses, reza o dito em inglês, cuja tradução literal é “contenha seus cavalos”. Em versão literária livre, corresponde a dizer “seja prudente; não se precipite”. Aos mandatários eleitos, é o que de melhor se pode recomendar.

Hold your horses, ganhadores do pleito de 2018. Que sejam, pois, suas ações pautadas pelo desassombro, pela coragem nos enfrentamentos, mas sempre equilibradas pela prudência, pelo comedimento, pelo bom senso e – sobretudo – pelo invariável desejo de bem servir aos interesses nacionais.

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