O rei e o astrólogo – Dom Pedro José Conti

O rei e o astrólogo
Dom Pedro José Conti – Bispo de Macapá

Conta-se que Luiz XI, rei da França, consultava os astrólogos. No entanto achava que o astrólogo da Corte o estava enganando e, por isso, estava disposto a condená-lo à morte. Mandou chamar esse astrólogo e disse-lhe:

– Vou lhe pedir uma previsão, e, caso você erre, será condenado à morte. Me diga: quando vai morrer? O astrólogo pensou bem antes de responder ao rei e depois disse:

– Três dias antes de Vossa Majestade. Na dúvida, de a previsão estar certa, ou não, o rei não matou o astrólogo.

Conhecer o futuro sempre foi e, talvez, será o desejo, a ilusão e o engano de muitas pessoas. Certas previsões deram certo, porque o que se esperava que acontecesse se realizou, mesmo, mas a grande maioria do que, segundo as previsões, devia acontecer foi esquecida, atropelada por outros eventos. Igualmente sempre haverá pessoas que gostam de arriscar fazendo apostas sobre o futuro desconhecido. Apostam nos sorteios das loterias, nas corridas de cavalos, nos jogos de futebol e do bicho. Às vezes ganham, mas, muitas mais vezes, a sorte passa bem longe delas.

No projeto de Deus, as previsões não servem, porque não se trata de adivinhar o que vai acontecer. Não sabemos nem o dia e nem a hora daquela que chamamos “a volta do Senhor” (Mc 13,32). O que serve é trabalhar para que o Reino se torne realidade e a esperança nunca deixe de nos apontar o caminho. A página do evangelho deste domingo, o penúltimo do ano litúrgico, nos traz essa reflexão. Inicia-se com palavras que envolvem as estrelas do céu caindo, mas depois tudo vira primavera, a estação que precede o verão. Após a temporada das folhas verdes, chegará o tempo dos frutos, o t empo da colheita. Só aguardar e saber reconhecer os sinais do novo que virá. A breve parábola da figueira está cheia de esperança e de fé. A natureza fará o seu curso e a alegria final não faltará. O tempo da história humana ainda não é o tempo da plena realização do Reino: precisa exercer a paciência da espera e o engajamento nessa obra de Deus.

Outro detalhe da página do evangelho deste domingo é a “tribulação” que é dita “grande”, espantosa. Ao contrário, os sinais de esperança são as pequenas folhas que começam a brotar. Com isso, fica mais fácil ser profetas de desventuras. Interpretamos, assim, os desastres que acontecem na própria natureza e anunciamos que o fim do mundo está próximo. Deveríamos ser testemunhas confiantes da paz e da justiça amorosa do Pai. Com efeito, como sempre, os sinais de bondade são pequenos, não chamam atenção e acontecem no silêncio e no anonimato do cotidiano, mas é justamente através deles que o mundo está mudando, a partir de lá, de baixo, e não de cima. Somos fascinados por coisas grandes, acontecimentos mirabolantes, eventos faraônicos. Mas o Reino, ensinou Jesus, é como a semente que ainda está escondida, ou como o fermento que desaparece para que toda a massa fique fermentada. Na realidade “o Filho do homem está próximo, às portas”, todas as vezes que algum gesto de amor é praticado. Porque é ele, o próprio Jesus, o “próximo” que ajudamos. É aquele que estava com fome, com sede, que estava sem roupa, sem casa, estava doente ou preso. São as pequenas obras de misericórdia, os pequenos atos de perdão, os “brotos” verdadeiros do Reino. Não basta, porém, cumprir gestos e obras exteriores, precisa “interiorizar” o Reino do am or, da justiça e da paz. Será o nosso coração amoroso que limpará o nosso olhar e nos fará enxergar os pequenos sinais do Reino. Igualmente, aprenderemos a exultar pelos pequenos passos dados, por nós, pelos irmãos e irmãs das nossas comunidades, pelas pequenas conquistas e libertações que acontecem nas pessoas e na história. Jesus ficou feliz, no Espírito Santo, porque o Pai revelou as coisas do Reino aos pequeninos e não aos sábios e entendidos (Lc 10,21). Para quem tem fé, o Reino, o novo da Páscoa, aos poucos, já está acontecendo.  Não é uma aposta, é certeza. Não é revelação privilegiada, sonho ou adivinhação. É palavra do Senhor, palavra que não passará.

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