Pobre mundo! Por Rui Guilherme

POBRE MUNDO!
Rui Guilherme

 Microcosmo, macrocosmo. Imagine-se você em pé junto a uma sumaúma de mais de cinqüenta metros de altura; ou de uma sequóia de cento e quinze metros. Mais ainda: veja-se a si mesmo no sopé de uma montanha de três mil metros. A desproporção é imensa; faz você sentir-se microscópico diante desses gigantes naturais.

E que somos nós senão alguns bilhões de formiguinhas insignificantes diante do planetinha que habitamos, cujo diâmetro é de 12.742 quilômetros? Ou da estrela que nos aquece, cuja cintura mede um milhão e quatrocentos mil quilômetros? Um bilhão e quatrocentos milhões de metros? As diferenças não param de crescer na medida em que nos conscientizamos de que a Terra é um mero grão de poeira cósmica a girar infinitamente em torno de uma estrela de quinta grandeza, integrante de uma entre trilhões de galáxias no cosmo universal.

Quanta arrogância em cada um de nós, seres ainda mais minúsculos diante do espaço sideral do que micróbios e bactérias em comparação a este colosso biológico que é o corpo do ser humano hospedeiro, a achar-se grande em sua altura mediana de pouco mais ou menos do que um metro e setenta centímetros…

Na ordem natural, contudo, um homem de porte médio há de parecer ao olhar espantado de um corona vírus, ou de outro ente microscópico, mais gigantesco do que a sumaúma ou a sequóia; ou do que a montanha, para assumir as colossais dimensões que têm os corpos celestes na concepção do ser humano. E pensar que este mundo de vida que é o homem pode ter sua vida aniquilada por um vírus invisível a olho nu tal como este que, agora, surgido na China, põe em alerta a população do globo.

Pobre mundo! Entre seus bilhões de habitantes há alguns, pouquíssimos que o sejam, embora a quem multidões de formiguinhas conferiram uma enorme somatória de poder que pode fazer deles seres tão letais para a humanidade quanto o novo vírus o é para o indivíduo por ele infectado.

Fugir, para onde? Como escapar de tantas e tão variadas ameaças? Em vez de tentar uma convivência inteligente com a natureza, cujas forças tornam nossas fátuas habilidades tão escancaradamente impotentes, não cessamos de agredir o meio ambiente, intoxicando-o no ar e nas águas, extinguindo recursos naturais, matando a fauna e a flora. Movidos pela ganância mais cruel na busca de enriquecimento passageiro, tornamo-nos indiferentes a tudo que se pôs de mais precioso na orbe. Somos, para

Gaia e para nossa própria espécie, mais devastadores que os agentes infecciosos.

Dizia o poeta que estava indo embora para Pasárgada. Lá, achava ele que iria ter uma vida boa porque era amigo do rei. Doce sonho, não passa de poética ilusão. O rei, se havia algum, estava até acima de qualquer impeachment. Se lhe haviam dado o poder, quase certo que, a esta altura dos acontecimentos, o monarca já se teria deixado contaminar pela ânsia expansionista. Poder tem dessas coisas. Quanto mais empoderado, mais se quer ser, mais se quer ter, mais gula pelo mando, mais indiferença diante do infortúnio que suas políticas possam causar.

Levado por uma tristeza imensa; acabrunhado pela minha absoluta impotência diante do quadro que se desenha mais nitidamente  sombrio a cada dia que transcorre, pensei em pedir ao poeta que me ensinasse como chegar a Pasárgada. Não que quisesse ir para lá a fim de fazer amizade com o rei, nem com seus ministros, nem com nenhum dos poderosos. Para mim, bastaria a segurança e o conforto do anonimato. Escondidinho, poderia amar meus amores, ler meus livros, ver meus filmes, ouvir minhas músicas, escrever, quem sabe até cometer alguma poesia. Caí em mim: Pasárgada, não mais. O que nos resta é esse mundo – pobre mundo, tão lindo, tão colorido! – que eu e meu próximo estamos arrastando para um futuro calamitoso que, se tudo o que se fizer não passar de proféticas lamentações, de registros tristonhos que nem esse que acabo de produzir, vai chegar mais cedo do se pensa.

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