Sambou…

Um político no jardim

Aquela escola da periferia era pobre-pobre-pobre de marré-de-si. Tão pobre que nunca pôde comprar sequer um chassi velho do mais velho fusca para fazer uma alegoria. Todo ano ficava em último lugar.
Um dia os dirigentes da escola descobriram que um político tinha se mudado para aquele bairro tão pobre da escola mais pobre ainda.

“A nossa salvação é convidar esse político para ser presidente da escola. O homem tem dinheiro e vai nos tirar dessa pindaíba”, sugeriu o presidente.

Uma comissão foi montada para ir a casa do nobre parlamentar fazer-lhe o convite.

Como político que se preza nunca diz não para o eleitor, a autoridade aceitou o convite já de olho na reeleição.

A comunidade festejou. Assessores do político organizaram um jantar para o dia da posse no barracão da escola.

Empossado, o novo presidente fez aquele discurso que só político sabe fazer. Prometeu mover céus e terra para levar a escola para o primeiro grupo. E não apenas isso, mas torná-la a grande campeã do carnaval amapaense. Declarou seu amor ao carnaval, disse que a primeira fralda que usou, quando nasceu, tinha as cores da escola e que o primeiro presente que ganhou foi um tamborim.

E a comunidade aplaudia e já lançava a candidatura dele a governador do Amapá.

Dois dias depois, na primeira reunião para tratar do desfile, o novo presidente perguntou quais as prioridades da escola.

O carnavalesco – que estava com uma lista de 12 itens – começa a responder.
– Presidente, temos aqui uma lista de prioridades. De imediato temos que conseguir um artista plástico e …

Não conseguiu concluir a frase. Foi cortado pelo empolgado novo presidente.

– Que plástico que nada, rapaz! A partir de agora nenhuma fantasia desta escola será feita de plástico. A era do plástico acabou!

Claro que o político não entendia nada de carnaval, mas tinha dinheiro e boa vontade.

A escola continua no segundo grupo, mas já tem alegorias (pobres, é verdade) e substituiu o plástico pelo metalóide (pobre, é verdade, mas com brilho).

(Do livro “Sambou…”, de Alcinéa Cavalcante e Rostan Martins)

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