Noturno

Noturno
De noite eu vigio estrelas.
Embriago-me de amor e luar.
Passeio com Hemingway em Paris.
Visito os becos de Goiás com Cora Coralina.
E com Quintana eu tento descobrir
o que é que os grilos
passam a noite inteirinha fritando.

Dormir é bom de manhãzinha
quando o sol
– ainda sonolento e tímido –
pula minha janela para me ninar.
(Alcinéa Cavalcante)

Paisagem Antiga

Paisagem Antiga

Quero de volta a paisagem antiga da minha rua
com suas casinhas brancas cobertas de palha
gamela no jirau
fogão de barro na cozinha
e passarinhos no quintal.

Quero de volta aquela paisagem antiga
com a casa avarandada do Mané Pedro
e a casa sem pátio da Maria Banha.
Os meninos de pés descalços
jogando bola na rua sem asfalto
e as meninas de sapatinho branco
brincando de roda.

Quero de volta a paisagem antiga da minha rua
com minha casa de venezianas cor de rosa,
minha mãe no alpendre
bordando flores nos lençóis
e minha avó rezando o terço.

Quero de volta a paisagem antiga da minha rua
só pra sonhar de novo
os sonhos que sonhei na infância
quando o mundo era feito só de amor
e todos sabiam viver como irmãos.

(Alcinéa Cavalcante)

Vem comigo!

Vem comigo

Vem comigo!
Vamos sair por aí plantando alegrias.
Traz um pincel, eu levo a tinta
e pintaremos de verde-esperança
todas as venezianas daquela ruazinha
por onde tantas vezes
passeamos de corações dados.

Vem comigo!
Vamos plantar dálias, rosas e poesia na velha praça
onde dividíamos o algodão doce no arraial do padroeiro.
Naquele tempo a infância era tão doce
e a gente até tinha medo de pecar. (Lembras?)

Vem comigo!
Vamos plantar papoulas vermelhas e amarelas
nos canteiros da ladeira
para enfeitar a cidade e alegrar os passantes.

Depois
– cansados, mas felizes –
tomaremos um sorvete.
Eu te darei um beijo sabor tucumã
tu retribuirás com um beijo sabor açaí.

E o Anjo que nos acompanha (nem te conto)
ficará cheinho de ciúme
e disfarçando dará de asas
(tu sabes que os anjos nunca dão de ombros),
mas Deus sorrirá
e acenderá estrelas na nossa estrada.
Por isso eu insisto: vem comigo, vem.

(Alcinéa Cavalcante)

Quando a gente se guiava pelas estrelas

“Olha! Olha!” Exclamava o menino apontando para o céu.
“Lá vai, lá vai”.

E todos olhavam e viam e falavam sobre o objeto que passava saltitante entre nuvens e estrelas.

Não. Não era um disco voador. Era simplesmente um satélite, provavelmente desses que ficam fotografando a Amazônia.

Diversão da meninada naquele tempo, quando a noite caía, era sentar na frente da casa e olhar o céu, caçar satélites e estrelas cadentes, procurar São Jorge na Lua e identificar constelações.

O telescópio era um canudo de cartolina.

Ah, tempo bom, quando a gente sabia se guiar pelas estrelas e sonhava ser astronauta para visitar outros mundos, brincar em outros planetas e, depois, voltar à Terra com as mãos transbordantes de estrelas. Trazer também uns fiapos de nuvem para fazer algodão doce, pois que a vida, meu irmão, era uma doçura e plena de encantamento naquela rua sem asfalto, sem bangalôs, sem muros e sem televisão. (Alcinéa Cavalcante)

Gentileza

Não fui ao lançamento do livro “Jango e Eu”, do amigo João Vicente Goulart, porque coincidiu com o horário da minha posse. Mas ele veio em minha casa me abraçar e me trazer seu livro autografado, acompanhado do meu amigo senador Randolfe Rodrigues. Quanta honra!
Na foto também o meu querido Julinho Pereira

Fotos, fotos e mais fotos

Eu que lido com as palavras quando a emoção é tanta acabo ficando sem palavras, então vou postar fotos, fotos e mais fotos da minha posse na Academia Amapaense de Letras ocorrida ontem, 27.
Mas antes quero dizer que eu não chegaria onde cheguei se não fosse o apoio sempre da minha amada família, dos adoráveis amigos, leitores, confrades e colegas.
Agradeço também principalmente a Deus pelo dom que me concedeu.

Dito isso, vamos as fotos:

O juramento

Allan Cavalcante, primeiro neto de Alcy Araujo – que foi o fundador da cadeira 25 que passo a ocupar – me entregou o diploma e meu filho Márcio me entregou a medalha
O momento de maior emoção: meu filho – meu melhor poema e maior amor da minha vida – colocando a medalha em mim