Vem, amado

Vem, amado

Vem, amado meu,
enquanto existem borboletas amarelas
e um beija-flor
beija a flor
que Deus plantou no meu jardim.

Vem, amado meu,
enquanto o vento brinca com as nuvens
criando códigos
que só nós dois sabemos decifrar.

Vem, amado meu,
enquanto há risos de crianças
e a tarde está pintada de ternura.

Não demores, amado meu,
Pois o meu amor é breve
como esta louca vontade
de sair bailando contigo pela vida.

(Alcinéa Cavalcante)

Por ti

Por ti

Gosto de ser assim
– livre.
Sem relógio
sem telefone
sem hora de partir
ou de voltar.

Gosto de ser assim
– livre.
Não ter que dizer
estou aqui
vou ali
irei acolá.

Gosto de ser assim
– livre.
Sem hora marcada
pra dormir
acordar
comer
passear
cantar
trabalhar.

Mas se me quiseres
compro um relógio
e um celular.
Organizo o tempo
e até aprendo a cozinhar.

(Alcinéa Cavalcante)

Domingo

Domingo

Eu preciso de uma manhã
dourada de domingo
para sair por aí
assoviando numa bicicleta azul.

Eu preciso de uma tarde de domingo
enfeitada com arco-íris
para atar uma rede na varanda
e embalar meus sonhos
lendo Quintana
e ouvindo Caetano.

Eu preciso de uma noite clara de domingo
para sentar na calçada
desenhar o mapa das estrelas
e jogar conversa fora com os vizinhos.

E depois dormir
feito criança
sem compromisso para o dia seguinte.

(Alcinéa Cavalcante)

Carta

Carta
Alcinéa Cavalcante

Se eu tivesse o teu endereço
eu te escreveria uma carta
numa folha de papel almaço.

Minha caneta verde
deslizaria no papel
te colocando a par das novidades daqui
e te contando que quando chove
sinto uma saudade danada de ti.

Não sei se sabes
mas aqui
continua chovendo todos os dias.