Macapá das nostálgicas festas de aniversário na Confraria Tucuju

Macapá das nostálgicas festas de aniversário na Confraria Tucuju
Por Mariléia Maciel

Era um aniversário muito esperado, e invariavelmente chovia no dia 4 de fevereiro em Macapá, o que criava uma atmosfera inesquecível, poética e apropriada na capital do Amapá, que em tupi-guarani significa “lugar da chuva”. O cheiro de terra encharcada, folhas verdinhas, perfume doce das últimas mangas caídas na rua, nuvens acinzentando o céu e os pedidos para que São José trouxesse o sol pra festa ficar mais bonita. No centro velho de Macapá, a movimentação começava na madrugada, com a montagem do quilométrico bolo confeitado, feito por dezenas de padeiros e confeiteiros, os canhões e fogos preparados para a alvorada, e as ruas no entorno da Igreja Matriz fechadas e vigiadas, até os primeiros sinais do amanhecer do dia.

Assim começava a programação da Confraria Tucuju para festejar o aniversário de Macapá. Uma festa única, popular, para todos, sem diferença entre autoridades e povão, festa das crenças, da tradição, da história, do pioneirismo, da memória, do jovem, do idoso, da criançada, do famoso, do anônimo, do dono da concessionária, do ambulante, do padre, do pai de santo, do marabaixo, do brega, e tantos outras distinções que se uniam, diluindo o antagonismo em linhas paralelas no Largo dos Inocentes, ou Formigueiro, cenário protagonista dessa história iniciada há 264 anos.

Os boêmios que iniciavam as comemorações no dia anterior para ver o dia nascer eram os primeiros a chegar, com o rosto amanhecido, pele amarrotada pelos vincos das tantas gargalhadas e histórias contadas na madrugada, e já marcavam seu lugar na fila do bolo. Acordados pelos canhões e fogos da Fortaleza de São José, a cidade se arrumava para a missa na catedral antiga, chegavam com a roupa de domingo, cheiro de alfazema, alinhados, penteados, senhores e senhoras, o governador, o prefeito, as damas, as marabaixeiras, a professora, o jornalista, a dona de casa, o agricultor, o juiz, e sentavam entre cumprimentos e acenos, quem tinha alguma mágoa ou inimizade, já esquecia, porque naquele dia estava selada a paz, e nada mais importava que não ser celebrar o aniversário de Macapá.

Na hora dos parabéns, após a missa, as roupas ainda estavam alinhadas, colarinho engomado, saia esticada, maquiagem e cabelo intactos, algumas sombrinhas para proteger do sol ou da chuva, e a fila já se enrolava pela praça Veiga Cabral pelo Cruzeiro, com pessoas de panela e vasilhas plástica nas mãos, se preparando para o grande momento. A organização inicial dava lugar ao momento que todos sabiam que aconteceria, que era a confusão por causa do bolo, e no final, as roupas engomadas acabavam manchadas de confeito, e o glacê que desenhavam os pontos turísticos de Macapá se desmanchavam nas vasilhas, bocas e camisas, por baixo de críticas, gargalhadas e ironias, e a cena de cinema grotesco ganhava pinceladas de humor pastelão, marcando mais um aniversário de Macapá.

A cena da distribuição do bolo era rapidamente substituída por saias, tambores, flores e chapéu na cabeça, hora do Encontro das Bandeiras dos marabaixos da Favela e Laguinho, quando geralmente a chuva já havia encerrado sua participação especial, e marcava o reencontro das famílias negras que nos anos 40 saíram do centro da cidade para povoar os que hoje são estes bairros tradicionais. No dia 4 de fevereiro era o encontro destas famílias, muitas ligadas por laços de sangue, resgatando da memória as rodas de marabaixo que Mestre Pavão gostava de contar, próximo da Igreja Matriz, quando ainda se jogava a “carioca’, e a molecada fazia a festa junto com os mais antigos, e comiam as “rosquilhas” como lanche especial.

Enquanto as rodas de marabaixo aconteciam, outra roda se formava na Biblioteca Elcy Lacerda, desta vez, para a parte cívica da festa, com os hinos tocados pelas bandas de música, e as autoridades ganhavam um tempinho para dar seu recado, com certa urgência, porque atrás da igreja as famílias de pioneiros já se organizavam embaixo das barracas, formando um grande aglomerado de história, vivência, amizades iniciadas gerações atrás, piadas, muitos risos, fotos, memória, em um só espaço, um eco de felicidade repercutia nos grupos animados, alguns já com cerveja nas mãos, outros com caldo de cana para amenizar a ressaca da noite anterior, as equipes de jornalismo a postos para a cobertura e entrevistas.

Pessoal da música, da igreja, aposentados, artistas, políticos, bêbados, senhorinhas, punks, roqueiros, bregueiros, universitários, a artesã que vende camisa, a que faz um vatapá delicioso, o senhorzinho do caldo, o imigrante, o turista, o hippie, o desabrigado, o poeta declamando sua homenagem à Macapá, o fotógrafo fazendo os registros da festa, o guarda municipal que batuca o pé no ritmo da festa, o sambista, a passista, todos imponentes, já se organizando para pegar um bom lugar, de preferência ao lado de um ambulante, para esperar os shows que exaltavam a música regional, sem distinção de estilo, porque era o dia de festejar Macapá.

Almoço dos Pioneiros começava exatamente ao meio-dia, preparado com muito cuidado pela Confraria Tucuju, sem gordura, sem fritura, sem exageros, servido com muito carinho para eles, que formavam a memória viva da nossa cidade. Mas também tinha a vez do povão, que formava as filas para degustar a feijoada preparada pelo Malafaia, que passava a madrugada na beira do fogo temperando a comida que era disputada por todos, que queriam comer antes que os shows começassem, e a frente do palco enchesse de dança e rodopios, de passos estranhos e também cadenciados, sem a obrigação da perfeição, o objetivo era um só: festejar Macapá.

O dia passava, os grupos acabavam e se formavam novamente, pessoas chegava, pessoas iam, a sarjeta ia enchendo de gente sentada, dando beijos nos cachorros de rua, cantando mais que os cantores, um coro enorme de emoções, os bancos do Largo disputados na sorte, ninguém mais sabia quem estava pagando tanta cerveja, depois se descobria que estava saindo do próprio bolso, o menino do bombom já tinha vendido o da semana inteira, o tabuleiro de tapioquinha estava vazio, o chopeiro com a cuba leve e o bolso cheio, água quente, vendedor de balão granado, pés pisados, roupas suadas, novas canções criadas, versos inspirados, passos atrapalhados, voz gaguejante. E os que ainda resistiam desde a manhã, a esta hora estavam com a roupa encardida, com cheiro de chuva secada pelo sol, os cabelos grudados, e disparando as últimas piadas entre soluços e suspiros.

Poucos sabiam, mas quando a noite caia, um grupo saia para levar os últimos pedaços de bolo para quem não pôde ir na festa da cidade, o enfermeiro que estava nos hospitais, o vigilante, o vendedor do ponto fixo na Beira Rio, o policial militar, o gari, todos recebiam sua fatia, e enquanto isso, um batalhão se formava no Largo dos Inocentes, para desmontar o palco, limpar o chão, tirar os confetes presos nas árvores, os banheiros químicos, sob os protestos dos últimos ébrios, com o rosto corado, e o eco dos riso, músicas e conversas ainda presente no ar. Sem dúvida, Macapá teve já suas melhores festa, as mais animadas, com participação de todos, que hoje não passam de lembranças de um tempo que ficou emoldurado, como aquele quadro antigo na parede, que quando a gente olha, os olhos ficam molhados, e a gente se pergunta: porque tudo isso acabou?

Feliz aniversário Macapá!!!

Mariléia Maciel

Virada cultural no aniversário de Macapá – Veja a programação

Virada cultural, música, artesanato e teatro de rua integram a programação do aniversário de 264 anos de Macapá, comemorado no dia 4 de fevereiro. A Prefeitura prepara uma grande festa para a capital banhada pelo rio Amazonas. O objetivo é atrair a comunidade para celebrar as atrações em homenagem à cidade.

O festival de Iemanjá, que visa saudar a Rainha do Mar, abre os festejos no dia 2 de fevereiro. A festividade tem como objetivo fortalecer as ritualísticas do candomblé, umbanda e tambor de mina, valorizando as manifestações tradicionais da cultura negra em Macapá.

As atrações contemplam os diversos segmentos culturais e pretendem fazer um resgate histórico da terra tucuju. Além de lazer e entretenimento, o esporte ganha notoriedade, abrindo a programação do dia 4 de fevereiro com corrida de rua.

‘’Neste primeiro momento, os grupos de Fanfarra, que contam com instrumentos de sopro e percussão, participarão do decorrer do percurso da corrida, anunciando a passagem dos atletas’’, destaca o diretor-presidente da Fundação Municipal de Cultura, Olavo Almeida.

No setor artístico, a Virada Cultural terá atrações simultâneas em toda a cidade, com ações realizadas em galerias, palcos e pontos turísticos.

Confira a programação:
2 de fevereiro
Festival de Iemanjá

4 de fevereiro
Prefeitura de Macapá
Corrida de rua
Horário: 6h

  • Araxá
    Sexta da diversidade / LGBTQIA+
    Horário: 16h
  • CEU das artes
    Artes cênicas e visuais
    Horário: 12h (Início da exposição de obras de artista plásticos)
  • Curiaú
    Marabaixo e Batuque
    Horário: 12h10min
  • Fazendinha
    Shows de Música: melody, brega, saudade e guitarrada
    Horário: 12h10
  • Mercado Central
    9h – Pronunciamento oficial
    10h – Audiovisual
    12h10 – Shows musicais
    16h – Dança (clássica, brega, salão etc.)
  • Praça da Bandeira
    Música instrumental, rap, shows de rock e música alternativa.
    Horário: 16h
  • Praça chico Noé
    Capoeira e teatro de rua
    Horário: 16h
  • Praça da Prefeitura
    Música Popular Amapaense (MPA)
    Horário: 12h10min
  • Praça Veiga Cabral
    Concerto de Poesias, exposições de artes visuais, artesanato e música voz e violão
    10h – Artesanato e Artes visuais
    15h – Poesia e música
  • Bicicleata
    Horário: 16h
    Concentração: início da avenida Cora de Carvalho, em frente ao prédio da Igreja Universal
    Percurso: sistema binário (Avenidas Cora de Carvalho e Padre Júlio), com término no Mercado Central

(Secretaria Municipal de Comunicação Social)

Furlan começa o ano fazendo mudanças no primeiro escalão da prefeitura

Prefeito de Macapá, Antônio Furlan, começou o ano fazendo mudanças no seu primeiro escalão.
Na Secretaria Municipal de Educação (Semed) exonerou Edilson Souza e nomeou o ex-vereador Rodrigo Souza Gomes. Rodrigo é professor de ciências biológicas e especialista em gestão e docência do ensino superior.

Outra mudança foi na CTMac. O engenheiro civil Andrey Dias do Rêgo foi nomeado para o cargo de presidente em substituição a Marcílio Dantas.

Outras mudanças devem ocorrer até o final do mês.

“As alterações fazem parte do planejamento da gestão para 2022 e elas vêm, também, para promover a oxigenação na gestão municipal”, informou a Prefeitura.