E assim nasceu um grande samba

E assim nasceu um grande samba
Alcione Cavalcante

O Bar e Restaurante Ponto Certo funcionou durante muito tempo na charmosa Galeria Comercial, na Avenida FAB, entre a São José e a General Rondon. Ponto de encontro de funcionários públicos, boêmios, músicos, poetas, artistas plásticos, estudantes e eventual e furtivamente por moças tidas como avançadas para  os padrões da época.

Nos sábados,  invariavelmente fazendo chuva ou sol, lá se reuniam Alcy Araújo, Silas e Ezequias Assis, Artur Nery Marinho, Cordeiro Gomes, Álvaro da Cunha,  Pedro Silveira, Nonato Leal e muitas outras personalidade não menos notáveis com destaque na cena cultural do Amapá.

Como não poderia deixar de ser, rolava um eclético cardápio etílico, que variava de sofisticado Blood Mary (pedido pelo Álvaro da Cunha), passando pelo Cuba Libre (preferência do Alcy), gim , chegando a quase unanimidade, no caso a cerveja. Ainda que o tira-gosto fosse secundário, comumente se requisitava queijo. Mas o negócio mesmo eram as crônicas sobre o cotidiano, discussões sobre o quadro político e também muita, muita música, prosa e poesia.

Nesse cenário impregnado de acordes e letras, emergiu um dos maiores sambas do Amapá. Num desses sábados de encontros obrigatórios, chega o Alcy e se aproximando do Nonato Leal, confiante no talento e disposição do parceiro desfia o convite⁄intimação: “Temos um encargo importante e irrecusável – compor o samba enredo de Maracatu da Favela”.  Missão que foi aceita na hora.

Nonato conta que acertada a parceria o Alcy requisitou uma dose, provavelmente um Cuba,  solicitou ao garçom um pedaço de Continue lendo

21 anos sem Taiguara

Considerado um dos símbolos da resistência à censura durante a ditadura militar brasileira, Taiguara foi um dos compositores mais censurados na história da MPB.
Taiguara morreu em 14 de fevereiro de 1996 aos 51 anos de idade.
Sempre fui fã, muito fã dele. Não só pelas suas músicas belíssimas, mas por sua luta, caráter, seu modo de ver, sentir e exprimir.

E hoje (as minhas mãos enfraquecidas e vazias/procuram nuas pelas luas, pelas ruas/na solidão das noites frias por você) compartilho este texto do historiador Zé Levino, publicado em novembro do ano passado no jornal A Verdade.

Leia:

Os anos sessenta foram de muita riqueza musical no Brasil. Do Rio de Janeiro e São Paulo irradiavam para todo o país a bossa-nova, a MPB, o samba, o rock nacional. Foi em São Paulo que Taiguara começou, quando ainda era estudante de Direito do Mackenzie, reduto da direita universitária, mas sua cabeça estava na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), onde estudavam figuras como Chico Buarque de Hollanda. Foi este quem levou Taiguara ao João Sebastião Bar, local frequentado pela esquerda de todos os naipes: comunistas, anarquistas, hippies, transviados, etc., onde rolava a boa música de todos os ritmos e gêneros.

Taiguara estava no meio de artistas que se posicionavam contra a ditadura militar – cada um a seu modo – e também se engajou nessa linha, tornando-se eclético quanto à forma musical, resultado de fontes diversas, sem esquecer a música dos pampas – região que abrange partes do Brasil, Uruguai e Argentina. Seguem a participação com êxito em vários festivais e os discos, todos altamente censurados. Mesmo assim, algumas criações passaram e se tornaram conhecidas nacionalmente. Destacam-se HOJE (1969), AI-5 dominando, prisões, mortes e exílios acontecendo. “Hoje/Trago em meu corpo as marcas do meu tempo/Meu desespero, a vida num momento/A fossa, a fome, a flor, o fim do mundo”. Em 1970, a ditadura está cada vez mais forte e confiante e desafia os opositores “Brasil, ame-o ou deixe-o. Taiguara grava UNIVERSO NO TEU CORPO, no qual mostra cansaço, parece desistir da luta. “Eu desisto/Não existe essa manhã que eu perseguia/Um lugar que me dê trégua ou me sorria/E uma gente que não viva só pra si/Só encontro/Gente amarga mergulhada no passado/Procurando repartir seu mundo errado/Nessa vida sem amor que eu aprendi”.

Mas não desiste. Buscando, descobre que esse lugar sonhado está sendo construído bem perto de nós, Continue lendo

Vamos passear!

Vamos, eu e tu, andar por esta rua que se estende preguiçosa como uma tarde de domingo.
Te mostrarei as marcas da infância deixadas pelos meus pés descalços quando havia um pote de ouro no fim daquele arco-íris que atravessava a mata onde a matinta-perera morava.

Conheço cada pedacinho dessa rua, suas pedras, flores, janelas e personagens.

Vê! Ali morava Mané Pedro e sua bicicleta azul. Já não existe a casa. Nem a bicicleta. Desconfio que Mané Pedro foi pedalando para o céu  e deixou uma saudade estacionada na rua.

Ah, a casa da Maria Banha. Era bem ali, do lado do Mané Pedro. Não tinha pátio nem varanda. Era coberta de palha e era tão singela.

Mais aqui morava “Vó” Etelvina. A casa era verde, de venezianas. Essa tinha pátio com duas cadeiras de vime. À tardinha, ‘Vó Etelvina”, sempre de vestido estampadinho,  sentava no pátio  e nos contava histórias sob os olhares atentos das flores que emolduravam a entrada.

Vó Etelvina era linda e doce, cheirosa e sorridente. Tinha os cabelos da cor do luar. Dela a criançada tomava bênção. Mas também morria de medo dela e chorava, mas só quando estava com a garganta inflamada. É que Vó Etelvina era “curadeira” de garganta. Encharcava um algodão com copaíba, andiroba e limão, enrolava no dedo e enfiava na garganta do doente fazendo movimentos circulares. Juro que me dava vontade de morder a mão dela para que nunca mais fizesse isso. Mas era um santo remédio.

Aliás, nessa rua havia também uma benzedeira, que tirava quebranto e costurava rasgadura. Mas isso te conto no próximo passeio e te falo também dos demais vizinhos, como o campeão brasileiro de natação Anselmo Guedes e a professora Odete  (que ainda moram no mesmo endereço), o jogador de futebol Tamundo, o professor Pardal, dona Carmina, dona Lourdes (que fazia o melhor mingau de mucajá do mundo), dona Ermínia e os japoneses da esquina.

Para não esquecer Jimi Hendrix

jimiHá 74 anos nascia Jimi Hendrix, o maior guitarrista da história do rock de todos os tempos

Quando o poder do amor se sobrepuser ao amor pelo poder,
o mundo conhecerá a paz (Jimi Hendrix)

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Memorial a Jimi Hendrix, em Fehmarn, Schleswig-Holstein, na Alemanha.

Veja aqui fotos e dez curiosidades sobre Hendrix.
A biografia completa de Jemi Hendrix você lê aqui

Para não esquecer Mãe Luzia

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Francisca Luzia da Silva, a Mãe Luzia, a Mãe Negra , faleceu em 24 de setembro de 1954 em Macapá, com mais de 100 anos.
Além de parteira, Mãe Luzia era excelente lavadeira. Quem a conheceu conta que ela só lavava roupa seminua, ou seja, sem blusa e sutiã. Mesmo sem nunca ter sentado num banco de escola, foi considerada “o primeiro doutor da região”. Era a parteira mais famosa destas paragens. Não se tem notícia de que algum bebê que ela tenha “aparado” e cuidado tenha morrido.
Cuidava das grávidas com rezas e  ervas e dava-lhes amor e segurança como uma mãe dá para uma filha. A qualquer hora do dia largava a bacia de roupa para fazer um parto. A qualquer hora que fosse chamada à noite levantava e corria para “aparar” mais uma criança, para mostrar-lhe o mundo pela primeira vez.
Seu trabalho não terminava com o parto. Ela cuidava da criança e da mãe por vários dias, fazendo visitas diárias, dando-lhes banhos, fazendo curativos e rezas.
Pelas mãos abençoadas de Mãe Luzia inúmeros bebês vieram ao mundo.

Mãe Luzia que cuidou, tratou, curou inúmeras crianças, está na poesia dos poetas amapaenses, no altar do nosso samba, no carnaval  (foi enredo de Maracatu da Favela)  e num magistral samba de Alcy Araújo e Nonato Leal. Hoje tem seu nome estampado na única maternidade pública do Amapá, em Macapá.

Ah, Mãe Luzia, se os governantes tucujus tivessem um tantinho do amor que tu tinhas pelas pessoas, a maternidade que leva o teu nome não seria um lugar tão desumano, onde duas ou três parturientes dividem a mesma cama e outras ficam no chão e onde tantos bebês morrem por falta de medicamentos e aparelhos e corpos de bebês somem e são até incinerados junto com o lixo.

Mãe Luzia
Álvaro da Cunha

Velha, enrugada, cabelos d’algodão,
fim de existência atribulada, cuja
apoteose é um rol de roupa suja
e a aspereza das barras de sabão.

Mãe Luzia! Mãe Preta! Um coração
que através dos milagres de ternura
da mais rudimentar puericultura
foi o primeiro doutor da região.

Quantas vezes, à luz da lamparina,
na pobreza do catre ou da esteira,
os braços rebentando de canseira
Mãe Luzia era toda a medicina.

Na quietude humílima do rosto
sulcado de veredas tortuosas,
há um clamor profundo de desgosto
e o silêncio das vidas dolorosas.

Oh, brônzea estátua da maternidade:
ao te encontrar curvada e seminua,
vejo o folclore antigo da cidade
na paisagem ancestral da minha rua.

RDM – 70 anos da “velha boa”

OS 70 ANOS DA RÁDIO DIFUSORA DE MACAPÁ
Edgar Rodrigues

A Rádio Difusora de Macapá, conhecida como RDM, foi a primeira emissora de rádio do Amapá. A ZYE 2 foi fundada em 11 de setembro de 1946 pelo Governo do Território Federal do Amapá. Em 1978, foi desativada e cedida para a Radiobrás. Neste ano, todo o patrimônio da emissora é passado para a Radiobrás, trocando o nome para Rádio Nacional de Macapá. Em 1988, no mesmo ano de criação do Estado do Amapá, a emissora é comprada pelo Governo Estadual e volta a se chamar Rádio Difusora. Opera no ar atualmente na freqüência 630 kHz (Onda Média ou Amplitude Modulada) e 4915 kHz (Onda Tropical). Na de 4915 kHz e ouvida em quase todo Brasil , principalmente no interior , em sitios , fazendas, cidades riberinhas e até mesmo em alguns paises tendo ouvintes de várias idades.