Nota triste – Morre o professor Edésio Lobato

Ícone do magistério amapaense, professor de matemática de várias gerações, ex-atleta,amante do esporte e do carnaval,  faleceu na manhã de hoje o professor Edésio Lobato, 79 anos.
O velório será a partir das 16h na Capela Center Pax (Av. Mendonça Furtado). O sepultamento será amanhã, as 11h.
Edésio  nasceu no Pará em dia 24 de outubro de 1936, mas veio para o Amapá ainda criança, com 10 anos de idade, e tornou-se amapaense de coração.
Em nota, o Instituto Memorial Amapá ressalta que o professor “foi um dos mais legítimos amapaenses e um dos baluartes na educação do Amapá. Com uma carreira brilhante de professor, ele deu aulas para os estudantes das séries iniciais do Colégio Amapaense por um longo período. Demonstrando espírito de solidariedade, ele também preparou, sem cobrar nada em troca, estudantes pobres para o exame de admissão, vigente na época. Foi professor dedicado até os dias de hoje. O pátio de sua casa foi transformado em sala de aula, onde o professor Edésio ministrava conhecimento para uma legião de estudantes.”

0edesio1Grande craque, Edésio fez parte da Seleção Amapaense de Futebol. Esta foto é de 1966

edesio-2015No carnaval deste ano, Edésio com o ex-aluno e jornalista Elton Tavares. “Edésio multiplicou amigos, adicionou admiradores, subtraiu tristezas e dividiu alegrias. Sim, ele era um cara pai d’égua”, disse o ex-aluno.

Marcha do tempo – Rumo: a revista que projetou o Amapá

RUMO1Hoje, Dia Nacional da Cultura, é de dia lembrar que há 58 anos (novembro de 1957) foi lançada em Macapá a revista Rumo , a realização de um sonho de poetas, intelectuais e jornalistas amapaenses. Totalmente produzida no Amapá, a Rumo circulou em todo o Brasil e contava com correspondentes em vários estados. Era uma revista mensal e foi fundada por Ivo Torres, Alcy Araújo, Arthur Nery Marinho,Vilma Torres, Aluízio da Cunha, entre outros.

Considerada uma publicação de alta qualidade, foi identificada por críticos literários e renomados jornalistas como um veículo de comunicação dos mais importantes do país.

O primeiro número, que circulou em novembro de 1957, mostrava a participação do Amapá pela primeira vez em um Congresso Nacional de Jornalistas. Foi o VII Congresso, realizado em setembro daquele ano marcando o cinqüentenário da Associação Brasileira de Imprensa (ABI). E o Amapá foi representado por Alcy Araújo.

O jornalista aproveitou a viagem para conhecer Brasília “e os trabalhos que se realizam no Planalto goiano para a instalação da futura capital do país“. Isto rendeu a matéria “Brasília – obra de saneadores, artistas e poetas”, tendo como subtítulo “Pioneirismo e técnica moderna erguem a cidade do futuro – Uma visita aos verdes altiplanos de Goiás”.

Uma matéria assinada por John H. Newman abordava a cultura da seringueira no Amapá, enquanto Paul Ledoux escrevia sobre agricultura, silvicultura e pecuária, e Amaury Farias sobre latifúndio; “A música no Território Federal do Amapá” era também destaque na primeira edição da Rumo, com matéria assinada por Mavil Serret, o pseudônimo de Vilma Torres.

Esta edição trazia também poemas de Fernando Pessoa, uma página de ciências, uma de economia e finanças, contos de Guy de Maupassant e de Almeida Fischer. Noticiava a morte do escritor José Lins do Rêgo, falava de teatro, de educação e traçava um perfil histórico de Macapá.

A revista – que trazia artigos e reportagens enfocando os mais importantes movimentos artísticos e culturais do Amapá, do Brasil e do exterior – inseriu a cultura amapaense no contexto nacional. Suas páginas recheadas de teatro, música, folclore, sabedoria popular, eram freqüentadas por ícones da época.
Por sua envergadura, a Rumo chegou a ter projeção internacional. “A Rumo conduz e explica o Amapá“, escreveu o ensaísta Osório Nunes. Uma crítica publicada no suplemento literário do jornal Diário de Minas, em outubro de 1958, assim se expressou sobre a revista: “Encontramos suas raízes na Semana de Arte Moderna. A sua vida constitui um resultado de descentralização cultural que houve a partir daquela data e que cada vez se acentua. Se fôssemos um Carlos Drummond, Mário de Andrade, um Vinícius de Morais ou Aníbal Machado, nada nos alegraria mais do que nos saber lido lá pelos confins do Brasil, no Amapá.”

Num tempo em que livros eram praticamente instrumentos de uma pequena elite, o jornalismo passou a ser utilizado como uma forma de intervenção social. Naquele momento o jornalismo tinha mais importância do que a literatura, porque ajudou a criar o impacto para despertar a sociedade mexendo com as pessoas. Para haver literatura era preciso um conjunto de coisas funcionando a um só tempo: crítica literária, leitores, debate, produção de livros, escolas… como um conjunto de elementos articulados. Daí a necessidade e a pertinência da revista Rumo, responsável pela articulação de todo um movimento que se consolidou com a projeção da obra intelectual do grupo de escritores amapaenses para além das fronteiras do Amapá.

A promoção do debate levou a revista a criar outros mecanismos de apoio à produção literária. E assim nasceu a Editora Rumo, que viria a publicar em 1960 a antologia Modernos Poetas do Amapá, o livro Quem explorou quem no contrato do manganês do Amapá, de Álvaro da Cunha (1962), e Autogeografia, livro de poesias e crônicas de Alcy Araújo (1965). A revista Rumo também deu origem ao Clube de Arte Rumo, que reunia poetas, pintores, músicos e artistas de teatro para discutir o que se fazia no Amapá e no Brasil no campo da literatura, da música e das artes cênicas e plásticas. Ao mesmo tempo em que promovia saraus e concursos de crônicas e poesias na busca de novos talentos .

Retrato em preto e branco – O point dos anos 60

piscinaNa década de 60 o point nas manhãs de domingo era a Piscina Territorial. Enquanto uns se divertiam no banho livre, Ernani Marinho, Nestlerino Valente, Dário, Raimundo Cruz, Nilson Pinto, José Maria Franco e Arthur Raphael dentro da sede atualizavam o papo bebendo Flip Guaraná.
(Foto: Álbum do jornalista Ernani Marinho)

Círio: Macapá recende a maniçoba

manicoba-2Macapá recende a maniçoba. Por onde a gente passa nestes dias que atencedem o Círio de Nossa Senhora de Nazaré sente, exala das casas – das mais humildes as mais luxuosas – o cheiro da gostosa maniçoba, comida que – ao lado do pato no tucupi – não pode faltar no almoço do segundo domingo de outubro.
E esse cheiro me leva de volta à infância. Lembro-me de minha avó Jacinta Carvalho – uma negrinha linda de cabelos muito lisos – cozinhando a maniva numa enorme panela no fogo à lenha no quintal da nossa casa. Eram sete dias que a maniva tinha que ficar no fogo para “tirar todo o veneno”.
Depois que minha vó morreu a “festa da maniçoba” para nós era na casa da professora Eurydice. Mas aí eu já estava bem grandinha.

Eurydice e Janjão
Eurydice e Janjão

Cerca de 10 dias antes do Círio o Janjão, marido da Eurydice, comprava a maniva que seria moída com a ajuda de toda a molecada e adolescentes da rua. A vizinhança emprestava a máquina de moer. Numa mesa grande na cozinha, Janjão prendia as máquinas e a molecada em volta fazia a festa moendo. Todo mundo queria ajudar. E como era divertido!

Quilos e quilos de maniva moída, Janjão preparava o fogo no quintal e lá ia o panelão para o fogo. Sete dias cozinhando dia e noite e haja lenha para o fogo não apagar. Só depois de sete dias, os “entulhos” eram misturados às folhas: carne, rabo de porco, costela de porco, bucho, linguiça, paio, calabresa, toucinho etc etc e os temperos. Aí sim, exalava aquele cheiro de dar água na boca.
No sábado à noite a maniçoba já estava no ponto e dona Eurydice mandava para cada vizinho uma farta porção.

Hoje está tudo mais fácil, qualquer pessoa pode fazer rapidinho uma panela de maniçoba. Já se compra a maniva maniçoba3moída e pré-cozida nos supermercados, os “entulhos” já são comprados escaldados e limpos, às vezes até temperados.
O tempo para fazer a maniçoba, que era de cerca de dez dias (desde moer até o completo cozimento) foi bastante reduzido.

Ah, e já  tem supermercado que já vende a maniçoba prontinha. É só levar pra casa e esquentar na hora de servir.

Se por um lado tudo tornou-se mais fácil e mais rápido, por outro perdeu-se o encanto da “festa da maniçoba”, a alegria da molecada em volta da grande mesa moendo as folhas, e aquela cumplicidade gostosa que havia entre a vizinhança.

Claro que  no nosso almoço de Círio não faltará a maniçoba (o mano Alcione faz uma super gostosa). Não faltará também o pato no tucupi (que farei com  a ajuda da minha cunhada Vera, que mora em Fortaleza e chega hoje em Macapá para passar o Círio).

E na sua casa, querido leitor, vai ter  maniçoba e  pato? Quem está fazendo?

Retrato em preto-e-branco

1972-Janjão-e-Jomasam-Janjao1972 – Radialista João Lázaro e o cantor e baterista José Maria Santos, na Rádio Difusora de Macapá

João Lázaro fazia parte da elite dos mais badalados DJs dos anos 60 e 70 e apresentava um dos programas mais ouvidos do rádio amapaense: “Iê, Iê, Iê, Sessão das Cinco”.  Radialista dos bons, era também funcionário da Prefeitura Municipal de Macapá. Hoje, aposentado, mora em São Paulo e  edita o  Porta-Retrato, blog onde posta fotos antigas e raras e fala da história e memória do Amapá.

José Maria Santos, menino criado nos bairros da Favela e Laguinho, chegou a ser considerado o melhor baterista da região Norte. Tocou em quase todos os conjuntos da época e fez parte da primeira formação da bateria da escola de samba Piratas da Batucada, por onde ganhou o título de “Tamborim de Ouro” do carnaval amapaense. Excelente intérprete, fazia sucesso nos festivais da música amapaense e defendendo música de Isnard Lima ganhou o troféu de Melhor Intérprete. José Maria Santos virou Jomassam, cantor de sucesso na Guiana Francesa. De vez em quando visita Macapá e nos encanta cantando divinamente bem.

(Foto: acervo do João Lázaro)