Num outro verão

haroldo+francoJulho de 1981 – Eleita Miss Macapá Verão, Elisena Barbosa recebe o prêmio das mãos do saudoso jornalista Haroldo Franco, dono do Jornal do Povo.
O Jornal do Povo era um dos patrocinadores desse concurso de beleza.

Anarri-ê

“Era festa da alegria  São João
tinha tanta poesia São João
tinha mais animação
mais amor, mais emoção
eu não sei se eu mudei
ou mudou o São João”
(Zé  Dantas e Luiz Gonzaga)

Junho é mês de passar fogueira, comer canjica e pé-de-moleque, beber aluá, quebrar o pote, subir no pau de sebo, ver o boi e o pássaro, testemunhar casamento na roça… Não, não. Não é mais assim. A cidade cresceu e a tradição foi se perdendo. As quadrilhas já não são as mesmas,  já não se grita “anarri-ê”, nem “lá vem a chuva”, “olha o toco”… As meninas que dançam quadrilha já não usam vestidos de chita e os meninos deixaram de usar calças remendadas e bigodes desenhados com carvão. Hoje o figurino é outro e a coreografia também. As modernas quadrilhas mais parecem comissão de frente de escola de samba. E o Chico Tripa pegou o beco.

Lembro do meu pai fazendo pé-de-moleque, da minha mãe fazendo aluá, de toda gente da minha rua fazendo fogueira, munguzá, cocadinha. Lembro das festas no terreiro. Em algumas casas era uma festança… no quintal, que se chamava terreiro, todo enfeitado com bandeirinhas feitas com  papel de pão e de revistas, principalmente revistas de fotonovelas.

Lembro do Rouxinol, na esquina da Leopoldo Machado com a Almirante Barroso. Era uma mercearia, mas como tinha um grande quintal o proprietário, Sr. Luís, realizava ali as mais famosas festas juninas da cidade. E chamava quadrilhas, bois e pássaros para se apresentarem. Depois começava o arrasta-pé. E no chão batido as damas da alta sociedade dançavam de salto Luís XV com seus cavalheiros impecavelmente vestidos. A molecada ficava na cerca olhando. Os melhores bois e pássaros se apresentavam lá. Um dos pássaros era do Cutião, o mesmo homem que fazia a boneca da banda. Era uma festa ver o pássaro do Cutião passar, imagine vê-lo se apresentar.

Outra festa inesquecível era numa casa na Avenida Padre Júlio, entre a Leopoldo Machado e a Jovino Dinoá. Lá tinha pau de sebo e quebra-pote.

Até aqui falei no bairro da Favela. Mas o bairro do Trem também era pura alegria. Era de lá a quadrilha mais famosa da cidade. Organizada, ensaiada e marcada pelo “chefe Biroba”.
E ninguém marcava tão bem e com tanta animação quanto ele.

biroba

Há 51 anos

radioequatorialA Rádio Equatorial foi desativada pela ditadura no dia 17 de junho de 1964. Segundo o historiador Edgar Rodrigues, para fechá-la o governo federal alegou “irregularidades na formação da sociedade”.
Você lembra dessa rádio? Era ali pertinho de onde é hoje a Praça Nossa Senhora de Fátima. Meu pai, o jornalista Alcy Araújo, era um dos diretores.

Em tempo: Esta rádio fechada pela ditadura não tem nada a ver com a  Rádio Equatorial do empresário José de Matos Costa, o Zelito.

Baraticídio

Certa vez preso na Fortaleza de São José de Macapá, onde eram trancafiados os supostos comunistas, o saudoso Amaury Guimarães Farias dividia a cela com centenas de baratas. Precisava fazer alguma coisa para matar o tempo então decidiu cometer um baraticídio.
Pensei que as baratas iriam aumentar de número quando escurecesse, iriam andar pelo meu corpo e isto me deixaria profundamente irritado, contou.
Então resolveu declarar guerra contra as baratas. Tirou os sapatos e com eles conseguiu a proeza de matar 176 “guerreiros baratinos”.
Depois dessa luta ferrenha comecei a procurar um cantinho para deitar, tendo as pedras frias e irregulares do piso como leito e meus sapatos calçariam meus pensamentos, contava.