Retrato em preto e branco

SAPATEIRO A foto é de 1982  e mostra o conhecidíssimo sapateiro Enoque que dava jeito em qualquer sapato velho, deixando-o novinho. Sua sapataria ficava na avenida Coaracy Nunes, esquina com São José. Quem lembra?
E sabe quem é o garoto que está engraxando o sapato do Enoque?
Dica: atualmente mora em Brasília, é funcionário do Banco do Brasil e artista plástico.

E por falar em baile…

Eram assim os bailes  na década de 60

façanha1A foto foi enviada ao blog pelo querido José Façanha – que tem um riquíssimo acervo fotográfico e sabe muitas histórias da Macapá antiga.
O baile é no Aeroclube e reunia a mais alta sociedade local. O homem super elegante de óculos, dançando com uma linda moça magrinha, é o meu pai Alcy Araújo. Façanha ao me enviar a foto brinca dizendo que é  “a fase Fred Astaire do Alcy” e que minha mãe vacilou e ele tirou outra dama pra bailar.

Sede do Aeroclube, que depois virou Assembléia Amapaense. Ficava na avenida Procópio Rola esquina com a Jovino Dinoá, onde hoje estão as secretarias de governo

Retrato em preto e branco

Eu e o jornalista, poeta e escritor Paes Loureiro na redação do jornal Folha do Norte (Belém-PA) em fevereiro de 1972.
Naquele ano eu ia lançar meu primeiro livro de poesias. Fui passar férias em Belém e o jornalista Haroldo Franco – um dos editores da Folha da Norte – me chamou para uma entrevista. A entrevista foi feita por Paes Loureiro  e publicada no dia seguinte.
O livro? Ah, este se perdeu nas gavetas da Polícia Federal. Explico: naquela época nenhum livro poderia ser publicado sem passar pela censura da PF. Fiz tudo que deveria ser feito, preenchi todos os documentos necessários e entreguei os originais (poesias, prefácio, capa) na PF e fiquei aguardando a liberação, que nunca veio.

Lembras?

guanabaraEra assim a escola Guanabara, na rua Eliezer Levy esquina da Mendonça Furtado.  O nome era Grupo Modelo Guanabara. Você estudou lá?

O governador que mandava prender jornalistas

Terêncio Porto foi o governador (novembro/1962 a maio/1964)  do então Território Federal do Amapá que mais perseguia jornalistas.
Certa vez mandou prender até meu pai Alcy Araújo Cavalcante e quase que apanha de bolsa da minha mãe. Com medo da bolsada de minha mãe, Terêncio desistiu de prender meu pai.
Mas, deixa eu contar um caso que aconteceu com o Amaury Farias.
Aborrecido com uma notícia sobre o secretário-geral publicada na Folha do Povo, Terêncio entrou feito um furacão no gabinete do chefe de polícia
Charone a minha vinda aqui é para autorizar a prisão do Amaury Farias e mandá-lo direto para uma das celas da Fortaleza.
Governador, uma prisão só pode ser realizada se houver uma motivo justo. Se não for assim, o Amaury entra na Justiça e perderemos a ação lá, disse Charone.
– Mas há um motivo justo, Charone. Saiu uma notícia na Folha do Povo contra o secretário-geral e a esposa dele está em prantos suplicando a punição do responsável.
– Mas, governador, esse não é um motivo justo. E outra coisa: agora a esposa do secretário está chorando mas se a gente prender o Amaury quem vai chorar é a professora Deusolina (esposa do Amaury). Não vou prender.

Charone foi exonerado. Seu substituto também não acatou a ordem do governador.

(Deusolina Sales Farias, primeira esposa de Amaury, foi professora, fundadora da Associação dos Professores do Amapá (APA) e sua primeira presidente, foi também a primeira mulher eleita para a Câmara de Vereadores de Macapá.)

Aqui morou o professor Lima Neto

limaneto1

Esta casa, na avenida Mendonça Furtado entre as ruas Leopoldo Machado e Hamilton Silva, pertencia ao professor Lima Neto. Ele e sua esposa, Oneide Lima, também professora, foram pioneiros do magistério amapaense. Os dois hoje são nome de escola. A casa, construída pelo casal na década de 1960, continua praticamente do mesmo jeito.

Anarri-ê!

“Era festa da alegria  São João
tinha tanta poesia São João
tinha mais animação
mais amor, mais emoção
eu não sei se eu mudei
ou mudou o São João”
(Zé  Dantas e Luiz Gonzaga)

Hoje é dia de passar fogueira, comer canjica e pé-de-moleque, beber aluá, quebrar o pote, subir no pau de sebo, ver o boi e o pássaro, testemunhar casamento na roça… Não, não. Não é mais assim. A cidade cresceu e a tradição foi se perdendo. As quadrilhas já não são as mesmas,  já não se grita “anarri-ê”, nem “lá vem a chuva”, “olha o toco”… As meninas que dançam quadrilha já não usam vestidos de chita e os meninos deixaram de usar camisas quadriculadas e calças remendadas. Hoje o figurino é outro e a evolução também. As modernas quadrilhas mais parecem comissão de frente de escola de samba. E o Chico Tripa pegou o beco.

Lembro do meu pai fazendo pé-de-moleque, da minha mãe fazendo aluá, de toda gente da minha rua fazendo fogueira, munguzá, cocadinha. Lembro das festas no terreiro. Em algumas casas era uma festança… no quintal, que se chamava terreiro, todo enfeitado com bandeirinhas feitas com pedaços de papel de pão e de revistas, principalmente revistas de fotonovelas.

Lembro do Rouxinol, na esquina da Leopoldo Machado com a Almirante Barroso. Era uma mercearia, mas como tinha um grande quintal o proprietário, Sr. Luís, realizava ali as mais famosas festas juninas da cidade. E chamava quadrilhas, bois e pássaros para se apresentarem. Depois começava o arrasta-pé. E no chão batido as damas da alta sociedade dançavam de salto Luís XV com seus cavalheiros impecavelmente vestidos. A molecada ficava na cerca olhando. Os melhores bois e pássaros se apresentavam lá. Um dos pássaros era do Cutião, o mesmo homem que fazia a boneca da banda. Era uma festa ver o pássaro do Cutião passar, imagine vê-lo se apresentar.

Outra festa inesquecível era numa casa na Avenida Padre Júlio, entre a Leopoldo Machado e a Jovino Dinoá. Lá tinha pau de sebo e quebra-pote.

biroba

Até aqui falei no bairro da Favela. Mas o bairro do Trem também era pura alegria. Era de lá a quadrilha mais famosa da cidade. Organizada, ensaiada e marcada pelo “chefe Biroba”. Ninguém marcava tão bem e com tanta animação quanto ele.

A última vez que vi apresentação de boi foi há uns 30 anos, no aniversário do meu vizinho Janjão.
jotinhaPessoa super querida no bairro. Hoje ele está fazendo 82 anos. Não terá arrasta-pé, mas jotinha2com certeza terá canjica, munguzá e tacacá e eu irei lá. Não por causa das guloseimas, mas para levar meu abraço, meu carinho e votos de felicidade e saúde para ele que é uma pessoa maravilhosa e que aos 82 anos ainda sai por aí pedalando na sua bicicleta (que ele chama de “maria pretinha”), ainda bebe umas cervejinhas com a família e amigos e faz um “avoado” como ninguém. Não sabe o que é isso? É o peixe envolto na folha de bananeira assado na brasa. E sempre traz um pedacinho pra mim.
Pois é. O São João mudou, mas o Janjão continua o mesmo.

Dia de Santo Antônio era assim

“Santo Antônio disse e São Pedro confirmou
que o fulano vai ser meu namorado
que São João mandou.”

Naquele tempo Macapá era uma cidade pequenininha, com poucas ruas asfaltadas, vizinhos se consideravam parentes, as casas não tinham cercas nem muros.
No dia de Santo Antônio na frente de quase todas as casas tinha um fogueira e a criançada brincando em volta dela.
As meninas soltavam estrelinhas e estalinhos e brincavam de passar fogueira jurando amizade para sempre. Os meninos soltavam bombinhas e diziam que passar fogueira era coisa de mulherzinha.
No pátio, em cadeiras de balanço (de vime ou de macarrão plástico) as senhoras conversavam enquanto vigiavam os filhos.
Nas calçadas, as moças reuniam-se para falar sobre namoros, escola, os rapazes mais bonitos do bairro e como arrumar namorado com a ajuda do santo casamenteiro.

E eram muitas “simpatias” que eu e minhas coleguinhas ouvíamos as moças contarem e num kikiki danado dizíamos que quando crescessemos iríamos  fazer.
Das que ouvi ainda lembro algumas, mas não me consta que as moças que contavam tenham feito. E nem eu nem minhas colegas fizemos quando crescemos. Como, por exemplo, ir meia-noite no fundo do quintal e enfiar uma faca na bananeira. Tinha que ser meia-noite mesmo e ninguém podia ver. De manhã cedinho, antes que os demais acordassem, ir tirar a faca. Na faca estaria escrito o nome do futuro marido. Outra simpatia era, também meia-noite, acender uma vela e deixar cair algumas gotas da vela numa bacia com água. As gotas formariam as iniciais do futuro namorado. Pra saber quem a amava de verdade entre os vários pretendentes, a dica era escrever os nomes deles em papeizinhos, enrolar esses papéis e colocá-los embaixo do travesseiro e pedir a Santo Antônio que mostrasse em sonho qual deles era o garoto ideal para namorar.

Para conquistar o coração do rapaz com quem se sonhava namorar, a dica era passar dez vezes em volta da fogueira, recitando: “Santo Antônio disse e São Pedro confirmou que o fulano vai ser meu namorado que São João mandou”. Detalhe: isso também tinha que ser feito meia-noite e sem ninguém ver.

E você, querida leitora, e você, querido leitor, que lembranças tem do Dia de Santo Antônio?