Dia de Santo Antônio era assim

“Santo Antônio disse e São Pedro confirmou
que o fulano vai ser meu namorado
que São João mandou.”

Naquele tempo Macapá era uma cidade pequenininha, com poucas ruas asfaltadas, vizinhos se consideravam parentes, as casas não tinham cercas nem muros.
No dia de Santo Antônio na frente de quase todas as casas tinha um fogueira e a criançada brincando em volta dela.
As meninas soltavam estrelinhas e estalinhos e brincavam de passar fogueira jurando amizade para sempre. Os meninos soltavam bombinhas e diziam que passar fogueira era coisa de mulherzinha.
No pátio, em cadeiras de balanço (de vime ou de macarrão plástico) as senhoras conversavam enquanto vigiavam os filhos.
Nas calçadas, as moças reuniam-se para falar sobre namoros, escola, os rapazes mais bonitos do bairro e como arrumar namorado com a ajuda do santo casamenteiro.

E eram muitas “simpatias” que eu e minhas coleguinhas ouvíamos as moças contarem e num kikiki danado dizíamos que quando crescessemos iríamos  fazer.
Das que ouvi ainda lembro algumas, mas não me consta que as moças que contavam tenham feito. E nem eu nem minhas colegas fizemos quando crescemos. Como, por exemplo, ir meia-noite no fundo do quintal e enfiar uma faca na bananeira. Tinha que ser meia-noite mesmo e ninguém podia ver. De manhã cedinho, antes que os demais acordassem, ir tirar a faca. Na faca estaria escrito o nome do futuro marido. Outra simpatia era, também meia-noite, acender uma vela e deixar cair algumas gotas da vela numa bacia com água. As gotas formariam as iniciais do futuro namorado. Pra saber quem a amava de verdade entre os vários pretendentes, a dica era escrever os nomes deles em papeizinhos, enrolar esses papéis e colocá-los embaixo do travesseiro e pedir a Santo Antônio que mostrasse em sonho qual deles era o garoto ideal para namorar.

Para conquistar o coração do rapaz com quem se sonhava namorar, a dica era passar dez vezes em volta da fogueira, recitando: “Santo Antônio disse e São Pedro confirmou que o fulano vai ser meu namorado que São João mandou”. Detalhe: isso também tinha que ser feito meia-noite e sem ninguém ver.

E você, querida leitora, e você, querido leitor, que lembranças tem do Dia de Santo Antônio?

Professoras pioneiras

OPioneiras do magistério amapaense, as professoras Mineko, Delzuite Cavalcante (minha mãe) e Ana Alves deram imensa contribuição ao Território Federal do Amapá, além de representarem o Amapá em vários congressos de professores.
Naquele tempo em que a viagem de Macapá para Curitiba durava dias e dias, a partir de Belém em ônibus numa estrada feia e perigosa, elas não tiveram receio, enfrentaram os perigos para participar do congresso nacional realizado em janeiro de 1966.

Quem dançou na Assembleia?

ibge1No início era a sede do Aero-Clube, depois virou Assembleia Amapaense. Aí eram realizados os melhores bailes. Dançando de rostinho colado, ao som dos conjuntos “Os Cometas” e  “Embalo 7” muita gente engatou namoro que evoluiu para casamento. As festas começavam às 22h e terminavam, no máximo, às 3h da madrugada. Não havia ingresso individual. Era vendida a mesa com direito a quatro lugares. Mesa de pista era mais cara. Lembras disso? Você dançou, namorou, curtiu muito os bailes da Assembleia? Conta pra nós na caixinha de comentários. Afinal, recordar é bom. É reviver.

Ah, sim. Isso era nos anos 70. A Assembleia ficava na Avenida Fab esquina com a Jovino Dinoá. A entrada era pela Procópio Rola.
(Foto: Arquivo do IBGE)

Minha avó

Ela era linda, negrinha, magra, os cabelos pareciam talas de tão lisos. Conta-se que ninguém engomava uma roupa melhor que ela. Naquele tempo que os homens tinham que usar calças de linho e camisas brancas de mangas compridas, tudo muito bem engomado, ela – usando ferro a carvão – engomava com perfeição as roupas do meu pai e os meus vestidinhos de organdi. A goma ela mesma fazia com tapioca. Acho que era a mesma goma que se toma no tacacá e que meu irmão usava  para colar seus papagaios de papel de seda.

Dizia-se também que não havia feijoada mais gostosa que a que ela fazia. Gostava de cozinhar no quintal. Fazia o fogo com lenha, que comida boa tinha que ser cozida na lenha.

Criava galinhas no quintal, que alimentava todas as manhãs e no fim da tarde, com milho. Lembro bem quando ela descia a escadinha da cozinha com uma bacia de alumínio cheia de milho. Ao vê-la as galinhas se aproximavam e ela ia jogando os punhados de milho.

Tinha também uma horta, onde plantava cebolinha, cheiro verde, coentro, pimentão, tomate e outras coisinhas. A horta era cercada com uma tela de arame.

Não gostava de cama. Nem tinha cama. Só deitava em rede. Perto da rede, uma mesinha com uma bilha de água, lamparina (para o caso de faltar energia), um caneco de esmalte, uma caixa de fósforos, o cachimbo, um pedaço de tabaco  e outras coisas que não lembro mais. Para curar tosse fazia uma mistura de pimenta do reino com açúcar e deixava numa tigelinha naquela mesa. De vez em quando comia um pouquinho. Eu achava essa mistura tão gostosa que sempre tossia perto dela só pra ganhar um pouco.

Seu quarto era simples: a rede, a mesinha, um armário e uma maleta de madeira, daquelas bem antigas. Duas janelas dando para o quintal e duas portas: uma para a cozinha e a outra para o quarto dos netos. Nunca vi aquelas portas fechadas.

Dos netos o preferido era o mais velho. Tudo que ela comia guardava a metade pra ele. Se fritava um ovo, a metade ela guardava naquela mesinha num prato esmaltado, coberto com um paninho, pra quando ele chegasse da escola.

Não lembro de ter visto alguma vez  uma revista ou livro em suas mãos, mas lembro muito bem  do jeito encantador como ela me contava  historinhas que sempre começavam com “era uma vez…”.

Um dia ela adoeceu. Apareceu nela um tal de “cobreiro” na barriga. Era uma coceira. Desde aí ela foi ficando cada dia mais tempo na rede, sentia dor e acho que sentia muita fraqueza, pois passado um tempo não saía mais da rede. Lembro que os médicos iam em casa, receitavam remédios, mas não sei que diagnóstico deram. Cada vez ela ficava mais fraquinha e como já não me contava histórias eu retribuía lendo para ela revistas de fotonovelas. Acho que ela nem prestava atenção. Uma noite  enquanto eu lia baixinho para ela e para a vizinha Zefa, que toda noite ia visitá-la, Zefa pegou no seu pulso, me olhou assustada  e mandou que eu chamasse correndo meu pai, que estava na sala,  pois minha avozinha Jacinta Alves Carvalho, mãe da minha mãe, acabara de morrer.
Eu tinha 10 anos apenas. E quando minhas colegas me perguntavam do que minha amada avozinha tinha morrido, eu, com os olhos cheios de lágrimas, respondia: “de cobreiro”.
Hoje quando alguém me faz essa pergunta – o que é muito raro – eu digo: “Parece que foi de cobreiro” e tento explicar o que é isso, mas o que eu gosto mesmo é de contar que ela era tão bonita, negrinha de cabelos lisos, magrinha, nascida no interior do Pará e que casou-se  com um português de olhos azuis, vindo de Lisboa, dono de comércios em Belém, e com ele teve uma única filha: minha adorável mãe.

Minha outra avó também era linda, branca de bochechas rosadas, fazia crochê como ninguém e também nos encantava contando histórias… bom, mas sobre ela eu vou falar em outro post qualquer dia desses.

Há 47 anos

D.José MNa véspera do dia do Padroeiro São José e dia em que completava 51 anos de idade, o bispo D. José Maritano chegava ao Amapá. Eu estudava no Santa Bartoloméa Capitânio, um colégio de freiras. As freiras nos levaram para tomar bênção dele e beijar seu anel. D. José Maritano foi o primeiro bispo diocesano daqui. Ficou no Amapá de março de 1966 a agosto de 1983.
(Foto: acervo de Edgar Rodrigues)

Lembras?

1966 019 Cinema Joao XXIIINas tardes de domingo um programa imperdível era assistir filmes do circuito nacional no Cine João XXIII. Era lá que os jovens marcavam o primeiro encontro com a namorada ou namorado. Quem chegava primeiro guardava a cadeira do outro (a) e quando as luzes se apagavam, aí sim, todas as cadeiras eram ocupadas e os novos casaizinhos assistiam o filme de mãos dadas. Nada de beijo na boca no primeiro encontro. Lembram?
Era lá também que a molecada trocava revistas e figurinhas. Muitos meninos iam ao cinema só para trocar revistas. Chegavam lá com aquele monte de  Zorro, Tarzan, Superman, Roy Rogers, dentre outras,  embaixo do braço (não se usava mochila nessa época). Às vezes a fila parava por causa das trocas. Era um tal de “já leu? Já leu? Não. Bora trocar essa por essa” e assim todos voltavam para casa felizes com “novas” revistas para ler que, claro, seriam trocadas no domingo seguinte.
Ah, depois do cinema os jovens  iam dar uma voltinha no trapiche Eliezes Levy (que era também um passeio obrigatório nas tardes de domingo) e se os pais tivessem dado um dinheirinho extra era como um “vale-sorvete”. Sim, quem com um dinheirinho no bolso deixaria de tomar um sorvete servido em taças de inox pelo garçon Inácio no Macapá Hotel? Lembro de colegas que passavam a semana toda juntando uns trocadinhos  (inclusive o dinheiro dado pelos pais para a merenda) só pra tomar no domingo o sorvete do Macapá Hotel.