Minha primeira lembrança de Copa do Mundo

A primeira lembrança que tenho de Copa do Mundo é de 1962, quando o Brasil foi bicampeão no Chile.
Estávamos no Rio de Janeiro mamãe, eu e meu irmão Alcione. A cidade maravilhosa toda enfeitada. Eu era muito criança ainda e quase nada entendia do que se passava. Sabia apenas que o Brasil estava participando de algo muito importante e que todos torciam pelo sucesso.
Só se falava nisso, mas eu nem dava trela. Era conversa de adulto e eu só queria brincar.
No dia que a Seleção chegou ao Brasil trazendo o título foi a maior festa. O povo se amontoando nas ruas e nas janelas dos edifícios para saudar os bicampeões do mundo. Mas para mim, tão criança ainda, o espetáculo foi a chuva de papel picado que caía dos edifícios e foi essa chuva que guardei na memória. Que coisa linda para uma criança ver. Eu nem olhava para o carro aberto que conduzia os jogadores, nem lembro como estavam trajados. Eu só olhava para cima, encantada com a chuva de papeizinhos coloridos.
Não pergunte em que rua ou avenida estávamos para ver o desfile da Seleção. Sei que fomos – eu e meu irmão – com minha mãe, pois ela era muito fã do goleiro Gilmar e do lateral Djalma Santos, por isso queria vê-los de perto e aplaudi-los.

Só muitos anos depois me interessei pelas histórias da Copa. Principalmente dessa em que vi pela primeira vez uma chuva de papel picado.

Pois bem, em 1962 o Brasil foi bicampeão com um timaço onde formavam Gilmar, Djalma Santos, Nilton Santos, Didi, Zagalo, Vavá, Pepe, Bellini, Zito, Garrincha, Pelé e Amarildo.
O Gilmar, de quem minha mãe era super fã, foi um dos maiores goleiros do Brasil. Aliás, do mundo. Foi considerado pela FIFA como um dos vinte maiores goleiros do mundo do século XX.

O Brasil fez uma campanha bonita. Foram cinco vitórias e um empate. 14 gols a favor e 5 contra. Venceu o México por 2 a 0; a Espanha por 2 a 1; a Inglaterra por 3 a 1; o Chile por 4 a 2; empatou com a Tchecoslováquia na primeira fase em 0 a 0.
A final foi no dia 17 de junho no estádio nacional do Chile com o Brasil sagrando-se bicampeão ao derrotar a Tchecoslováquia por 3 a 1. O placar foi aberto por Josef Masopust aos 15 minutos do primeiro tempo, mas dois minutos após Amarildo fez o gol de empate. O primeiro tempo terminou 1 a 1. No segundo tempo o Brasil entrou com mais garra em campo e aos 24 minutos Zito marcou o segundo gol do Brasil e aos 33 minutos Vavá fechou o placar.

Daqui a pouco, às 16h, o Brasil entra em campo em Catar para enfrentar a Sérvia. Já não sonho com chuva de papel picado; sonho com a vitória da nossa seleção nesse seu jogo de estreia e nos demais.

(Alcinéa Cavalcante em 24/11/2022)

Quem foi que disse que essa mulher não voa? 

Quem foi que disse que essa mulher não voa?
Alcione Cavalcante*

Gal atravessou, ainda atravessa e vai continuar a atravessar minha vida até o fim dos meus dias.

Ali pelo final da década de 60 e início dos anos 70, em casa, tivemos o primeiro contato com o trabalho de Gal. A minha irmã Alcinéa foi a responsável pela apresentação aos irmãos do primeiro manifesto musical do Tropicalismo, o LP Tropicália ou Panis et Circensis, onde aquela que viria a ser uma das mais importantes vozes do planeta emerge, límpida, juntamente com Caetano, Gil, Tom Zé Nara Leão.

O impacto se deve em parte ao fato de que à época ouvíamos em casa, a bossa nova de João Gilberto e Tom, clássicos como Mozart e Chopin, preferidos do nosso pai Alcy Araújo, além de Elza Soares, Ataulfo Alves, Miltinho e Doris Monteiro, estes mais ao feitio de nossa mãe Delzuite Cavalcante. Ou seja, em tudo muito diferente do conteúdo estético de Panis, de Mamãe, Coragem, composição de Caetano e Torquato.

Mas o encanto mesmo veio, definitivo, com a bolacha Gal Costa, com Baby e Não Identificado, ambas compostas por Caetano. A primeira feita para Bethânia e segunda pra Gal, que acabou, ambas, por força das interpretações apropriadas à Gal.

Posteriormente, em 1973, ainda debutando em Curitiba, onde estudei Engenharia Florestal, deparei-me com o LP Índia, aquele onde Gal, pra desespero dos puritanos de plantão, aparecia de tanga na capa, e que a censura impôs sua comercialização num envelope plástico de cor azul, levemente mais pálida que a “seda azul do papel que envolve a maçã”, como definiu Caetano muito mais tarde em Trem das Cores. Talvez a peça publicitária involuntária mais eficiente, promovida pela ditadura em prol de um desafeto político da resistência cultural. O LP vendeu demais, por sua qualidade evidentemente, mas também pela força do marketing ditatorial.

De Índia destaco “Dá Maior Importância”, uma canção de quase namoro feita por Caetano pra Gal, a esplêndida “Presente Cotidiano” do Luiz Melodia, e a guarânia “Índia” em tudo diferente das intepretações da minha infância.

Outro momento que guardo foi o Show Doces Bárbaros, que tive a oportunidade de assistir no Teatro Guaíra em Curitiba, nos idos de 76, quando já se aproximava o fim de minha estada na cidade. Ver ali, no que era até então um dos melhores teatros da América Latina, Caetano, Bethânia, Gal e Gil juntos foi um momento de intensa felicidade, afinal juntar quatro talentos incrivelmente diferenciados artisticamente, ainda que de mesma cepa, não é muito simples e fácil. Mesmo a plateia conservadora da idem Curitiba da época, se rendeu e ao final explodiu em reconhecido aplauso ao quarteto. Guardei durante muitos anos o canhoto do ingresso desse evento, do qual tenho a bolacha até hoje. Particularmente gosto muito da canção “Eu te Amo” de Caetano onde Gal exuda um mar de carinho e ternura.

Outra coisa legal aconteceu com o CD Mina d’água do meu canto (1995), que se perdeu de mim e que vim a resgatá-lo ao desistir de reparar um aparelho som que não possuía peça de reposição no Brasil. O mesmo se encontrava no local de reprodução de CD, intacto mesmo anos depois. Produzido por Jaques Morelenbaum e formado exclusivamente por músicas de Caetano e Chico Buarque é um dos que guardo com cuidado e carinho, do qual destaco “O Ciúme” de Caetano e a apaixonada “Futuros Amantes” do Chico.

A última apresentação que vi de Gal Costa foi a live comemorativa de seus 75 anos, onde apesar de alguns problemas técnicos mostrou a incrível cantora que Gal Costa sempre foi desde seu primeiro disco.

Há pouco tempo li “Não se Assuste Pessoa! As Personas Políticas de Gal Costa e Elis Regina na Ditadura Militar”, de Renato Contente, o qual recomendo a leitura a todos interessados na trajetória de Gal. O nome do livro é emprestado da música “Dê Um Rolê” de Moraes e Galvão, que Gal também gravou (Enquanto eles se batem/Dê um rolê e você vai ouvir/ Apenas quem já dizia/Eu não tenho nada/Antes de você ser eu sou/Eu sou, eu sou o amor da cabeça aos pés).

Por fim lembro de versos da canção “Sem Medo nem Esperança” de Arthur Nogueira e Antônio Cicero), do CD Estratosférica onde Gal manda o recado: “Nada do que fiz / por mais feliz / está à altura / do que há por fazer”.

Gal nos deixou, não sem antes, em seu último show, em setembro, nos pedir para votar direitinho, destacando seu compromisso com a democracia, fazendo o “L”, para delírio dos presentes. LeGal.

*Alcione Cavalcante é engenheiro florestal e cronista

Só tenha vergonha da sua pobreza se ela for de espírito…

Só tenha vergonha da sua pobreza se ela for de espírito…
Por Heraldo Costa*

Esse registro é de 1981. Eu com 13 anos e mano Heraclito Junior com poucos meses de vida, no colo, pois nasceu em dezembro de 1980. Ronaldo, segundo irmão mais velho, estava empolgado com uma máquina fotográfica e saia registrando vários momentos do cotidiano. Eu tinha chegado de fazer algum mandado pra mamãe.
Nesse tempo, além da escola, da venda de madeiras do papai que estava começando, ainda vendia chopp pela cidade. Ronaldo havia já saído do negócio. Quando tinha tempo ainda dava umas voltas de bicicleta, sentado no varão, acompanhado do amigo Paulo Nunes (que ainda mora na casa ao lado até hoje), poucos anos mais novo, que é esse garoto ao fundo com a mão na cintura.
O início dos anos 80 representa um limiar de oportunidades.
Nessa década conclui o ensino fundamental (1982) na escola Roraima. Conclui meu ensino médio no CCA (1985) estagiei no jornal fronteira do Pará (1985), tive meu primeiro e segundo emprego (1987 e 1988). Fui líder de jovens evangélicos no Buritizal e geral (86 e 87). Casei (1989). Enfim, não sabia eu mas Deus cimentava meu caminho pro futuro, enquanto também Ele preparava meus irmãos Junior, Renilda (tomando mingau no banco) e Renivaldo (a meu lado) para a vida.
Galibis 847, no Buritizal. A rua da mangueira. Era nosso endereço. Nessa casa, moraram os dez filhos com nossos pais.

*Heraldo Costa, juiz titular da Comarca de Tartarugalzinho

Centenário de nascimento de Darcy Ribeiro

Darcy Ribeiro, antropólogo, educador e romancista, nasceu em Montes Claros (MG), em 26 de outubro de 1922, e faleceu em Brasília, DF, em 17 de fevereiro de 1997. Eleito em 8 de outubro de 1992 para a Cadeira nº 11, sucedendo a Deolindo Couto, foi recebido em 15 de abril de 1993, pelo acadêmico Candido Mendes de Almeida.

Diplomou-se em Ciências Sociais pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo (1946), com especialização em Antropologia. Etnólogo do Serviço de Proteção aos Índios, dedicou os primeiros anos de vida profissional (1947-56) ao estudo dos índios de várias tribos do país. Fundou o Museu do Índio, que dirigiu até 1947, e colaborou na criação do Parque Indígena do Xingu. Escreveu uma vasta obra etnográfica e de defesa da causa indígena. Elaborou para a UNESCO um estudo do impacto da civilização sobre os grupos indígenas brasileiros no século XX e colaborou com a Organização Internacional do Trabalho na preparação de um manual sobre os povos aborígenes de todo o mundo. Organizou e dirigiu o primeiro curso de pós-graduação em Antropologia, e foi professor de Etnologia da Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil (1955-56).

Diretor de Estudos Sociais do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais do MEC (1957-61); presidente da Associação Brasileira de Antropologia. Participou com Anísio Teixeira, da defesa da escola pública por ocasião da discussão de Lei de Diretrizes e Bases da Educação; criou a Universidade de Brasília, de que foi o primeiro reitor; foi ministro da Educação e chefe da Casa Civil do Governo João Goulart. Com o golpe militar de 64, teve os direitos políticos cassados e se exilou.

Viveu em vários países da América Latina, conduzindo programas de reforma universitária, com base nas idéias que defendeu em A Universidade necessária. Professor de Antropologia da Universidade Oriental do Uruguai; foi assessor do presidente Salvador Allende, no Chile, e de Velasco Alvarado, no Peru. Escreveu nesse período os cinco volumes dos estudos de Antropologia da Civilização (O processo civilizatório, As Américas e a civilização, O dilema da América Latina, Os brasileiros – 1. Teoria do Brasil e Os índios e a civilização), nos quais propõe uma teoria explicativa das causas do desenvolvimento desigual dos povos americanos.

Ainda no exílio, escreveu dois romances: Maíra e O mulo, aos quais acrescentou, mais tarde, Utopia selvagem e Migo. Publicou Aos trancos e barrancos, que é um balanço crítico da história brasileira de 1900 a 1980. Publicou também a coletânea Ensaios Insólitos e um balanço da sua vida intelectual: Testemunho. Editou, juntamente com Berta G. Ribeiro, a Suma etnológica brasileira. Publicou, pela Biblioteca Ayacucho, em espanhol, e pela Editora Vozes, em português, A fundação do Brasil, um compêndio de textos históricos dos séculos XVI e XVII, comentados por Carlos Moreira e precedidos de longo ensaio analítico sobre os primórdios do Brasil.

Em 1976, retornou ao Brasil, e foi anistiado em 1980. Voltou a dedicar-se à educação e à política. Participando do PDT com Leonel Brizola, foi eleito vice-governador do Estado do Rio de Janeiro (1982). Foi cumulativamente secretário de Estado da Cultura e coordenador do Programa Especial de Educação, com o encargo de implantar 500 CIEPs no Estado do Rio de Janeiro. Criou também a Biblioteca Pública Estadual, a Casa França-Brasil, a Casa Laura Alvim e o Sambódromo, em que colocou 200 salas de aula para fazê-lo funcionar também como uma enorme escola primária.

Em 1990, foi eleito senador da República, função que exerceu defendendo vários projetos, entre eles uma lei dos transplantes que, invertendo as regras vigentes, torna possível usar os órgãos dos mortos para salvar os vivos. Publicou, pelo Senado Federal, a revista Carta, onde os principais problemas do Brasil e do mundo são analisados e discutidos.

Entre suas atividades conta-se haver contribuído para o tombamento de 98 quilômetros de belíssimas praias e encostas, além de mais de mil casas do Rio antigo. Colaborou na criação do Memorial da América Latina, edificado em São Paulo com projeto do arquiteto Oscar Niemeyer. E mereceu títulos de Doutor Honoris Causa da Sorbonne, da Universidade de Copenhague, da Universidade do Uruguai, da Universidade da Venezuela e da Universidade de Brasília (1995).

Entre 1992 e 1994, ocupou-se de completar a rede dos CIEPs; de criar um novo padrão de ensino médio, através dos Ginásios Públicos; e de implantar e consolidar a nova Universidade Estadual do Norte Fluminense, com a ambição de ser uma Universidade do Terceiro Milênio.

Em 1995, lançou seu mais recente livro, “O povo brasileiro”, que encerra a coleção de seus Estudos de Antropologia da Civilização, além de uma compilação de seus discursos e ensaios intitulada O Brasil como problema. Lançou, ainda, um livro para adolescentes, Noções das coisas, com ilustrações de Ziraldo, considerado, em 1996, como altamente recomendável pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil.

Em 1996, entregou à Editora Companhia das Letras seus Diários índios, em que reproduziu anotações que fez durante dois anos de convívio e de estudo dos índios Urubu-Kaapor, da Amazônia. Seu primeiro romance, Maíra, recebeu uma edição comemorativa de seus 20 anos, incluindo resenhas e críticas de Antonio Callado, Alfredo Bosi, Antonio Houaiss, Maria Luíza Ramos e de outros especialistas em literatura e antropologia. Ainda nesse ano, recebeu o Prêmio Interamericano de Educação Andrés Bello, concedido pela OEA.

(Fonte: Academia Brasileira de Letras)

A velha casa

Esta velha –  e era tão charmosa –  casa, localizada na rua Eliezer Levy com Desidério Antônio Coelho foi fotografada por Floriano Lima.
Ele conta que sempre que passa por lá lança-lhe um olhar pensando em “quantas gerações já passaram por ela, quantas histórias alegres, talvez outras nem tanto. Ela deve guardar como aquele amigo fidedigno segredos ao longo de tantos anos”.

Hoje  ao passar novamente por ela, Floriano viu muitos tijolos, areia, seixo. E disse: “Parece que ela queria me dizer, estou chegando ao fim, envelheci, o viço da minha juventude foi embora, já não agrado tanto e pensei em nossos ‘velhos’, que muitos deixam de tratar como merecem, de ouvi-los mesmo quando só balbuciam. Olhei-a demoradamente e falei: estás guardada nos arquivos da minha memória afetiva.”

Rainha Elizabeth – Sua história

Foto: AFP/Frank Augstein/Pool

Logo após o anúncio da morte da rainha Elizabeth,  revista Isto É publicou em seu portal parte da vida e  história da rainha.
Leia:
A história
Elizabeth Alexandra Mary, conhecida a partir de 1952 como rainha Elizabeth II, nasceu em Londres, no dia 21 de abril de 1926. Ele era filha de Albert Frederick Arthur George, o duque de York, e de Lady Elizabeth Bowes-Lyon. Durante o nascimento de Elizabeth, o rei do Reino Unido era Jorge V, e seu pai, o duque de York, era o segundo na linha de sucessão ao trono inglês.

Elizabeth virou herdeira direta do trono quando seu tio, Eduardo VIII, abdicou do trono para casar-se com uma norte-americana divorciada chamada Wallis Simpson. Com isso, Elizabeth tornou-se a herdeira imediata ao trono britânico. No entanto, como mencionado, se seu pai tivesse um filho, este tomaria seu lugar na linha de sucessão. Quando seu pai foi coroado rei do Reino Unido, Elizabeth tinha apenas 10 anos de idade.

Elizabeth casou-se em 20 de novembro de 1947 com Philip, príncipe da Grécia e da Dinamarca. Ele faleceu aos 99 anos em 9 de abril de 2021. Ele foram casados por 73 anos.

Aos 25 anos, Elizabeth tornou-se rainha do Reino Unido, no dia 6 de fevereiro de 1952, o dia que seu pai, Jorge VI, faleceu. Neste ano, a Rainha completou 70 anos de reinado e se tornou o primeiro monarca britânico a celebrar o Jubileu de Platina.

Desde a morte do marido, o príncipe Philip a rainha vinha diminuindo o número de compromissos oficiais, que se tornaram cada vez mais esparsos na agenda da soberana depois que ela teve Covid-19 em 2022. No dia 2 de junho, ela deu íncio às festividades do jubileu de platina, festejando seus 70 anos de reinado. Aguentou com garbo o primeiro dia do aniversário especial, acompanhada por membros de sua família na varanda do Palácio de Buckingham, mas, “indisposta” se ausentou da missa na Catedral de São Pedro em sua homenagem.

A soberana já vinha apresentando problemas de mobilidade, passando a andar com o auxílio de uma bengala. A preocupação com sua saúde levou seus médicos a cortarem os drinques diários que ela consumia, reduzir suas atividades e evitar que ela se estressasse, tarefa cada vez mais difícil nos últimos tempos.

Conhecida por ser discreta e rigorosa com na preservação da realeza, a rainha enfrentou duros golpes recentemente. Além da perda do duque de Edimburgo, viu o filho favorito, o príncipe Andrew, de 62, envolvido em um escândalo sexual. Acusado de manter relações sexuais com uma adolescente de 17 anos em 2001, a quem teria apresentado pelo pedófilo Jeffrey Epstein, Andrew fez uma acordo financeiro com ela para o caso não ir adiante como processo criminoso e foi afastado das funções na Família Real.

A monarca também viu o príncipe Harry, filho mais novo de Charles e da princesa Diana, que morreu em 1997, deixar a realeza com a mulher, Meghan Markle. O casal, bastante atacado pelos tabloides britânicos, se mudou para os Estados Unidos, onde está criando os filhos, e já deu várias entrevistas sobre a vida na Família Real, inclusive acusando um de seus membros de racismo.

As duas crises não foram as primeiras no longuíssimo reinado de Elizabeth II. Ela sofreu com os rumores nunca confirmados sobre os problemas em seu casamento com Phlip; os escândalos envolvendo a irmã, a princesa Margareth, nos anos 60 e 70; e a erosão do casamento de Charles e Diana, marcada pela traição do futuro rei com Camilla Parker-Bowles, que virou manchete dos jornais e foi explorado em detalhes em um livro sobre sofrimento da princesa no casamento conto de fadas – uma constrangedora conversa entre o príncipe e amante, na qual ele dizia que ‘queria ser um absorvente interno’ para viver em Camila.

Muito religiosa, a rainha, que era chefe da Ingreja Anglicana, viu ainda Andrew e Sarah Ferguson se separando e a única filha, a princesa Anne, pondo um fim na união com Mark Philips, que já tinha tido um filho fora do casamento. Em 1992, em seu discurso anual, com os problemas de três dos quatros filhos, mais um incêndio que destruiu parte do Castelo de Windsor, desabafou em latim, em seu discurso anual: “annus horribilis”, ou, em latim, um ano de eventos extremamemte ruins.

Fase pior só em 1997, quando Diana morreu em um acidente de carro. A comoção popular, somada à reação na internet, foi algo para o qual a realeza não estava preparada, e a rainha, que demorou dias para se posicionar sobre a morte da ex-nora, viu sua popularidade despencar. Não demorou tanto assim para Elizabeth II voltar a ser querida pelos súditos – e respeitada até por aqueles contra a monarquia.

Figura principal em uma instituição cuja validade é constantemente questionada, tanto politicamente quanto em termos práticos de custos para os cofres do Reino Unido, a rainha recuperou a confiança e popularidade usando suas grandes armas: paciência e tempo.

Com Charles ela planejou o futuro do príncipe William e Harry, de forma que o primeiro fosse preparado para assumir o trono e o segundo não sofresse com a síndrome do “segundo filho do rei”, aquele cujo maior papel é garantir que, caso o irmão mais velho não chegue a reinar por qualquer razão, a linha sucessória continue sendo direta – no caso os filhos de Charles e não os de Andrew. Manteve os filhos de Diana o mais isolados possível da imprensa, fez com que eles abraçassem desde cedo causas humanitárias. Aceitou Camilla, depois de anos de preparação para o papel, como mulher de Charles; começou a preparar a geração dos netos para garantir o futuro da monarquia.

LEGADO
Para muitos analistas, este talvez seja o verdadeiro legado de Elizabeth II: A continuidade à monarquia no Reino Unido. A Família Real recebe do governo o Soverign Grant (Subsídio Soberano), que já chegou a R$ 440 milhões em 2019-2020, e as críticas aos gastos públicos com a manutenção de toda a estrutura real, financiada também pela renda privada da rinha, aumentam a cada nova crise.

Elas já existiam quando Elizabeth, então uma menina, viu o tio, Edward VIII, abrir mão do trono para se casar com a americana Wallis Simpson, mais velha que ele e divorciada. O escândalo levou seu irmão, o pai da rainha, George VI, a assumir o trono. Elizabeth II, assim como sua mãe, nunca perdoou o tio por ter abdicado sem ter antecipado a George que ele seria rei e preparado o nobre para ser rei.

Ao contrário do pai, desde os 10 anos, com a abdicação, ela passou a ser moldada para a função, tendo aulas com tutores privados das melhores escolas do país. Durante a Segunda Guerra Mundial, a Rainha Mãe Elizabeth se recusou a deixar Londres, e a futura rainha fez parte do Serviço Territorial Auxiliar, onde treinou como motorista e mecânica, sendo promovida a comandante júnior honorária. Também foi nomeada como parte do Conselho de Estado do pai, caso algo acontecesse a ele.

Em 1953, já casada e mãe de dois filhos, Elizabeth II foi coroada na Abadia de Westminster, em uma cerimônia transmitida pela televisão. Ao contrário do próprio pai, que se chamava Albert, não quis adotar um nome régio e avisou que iria reinar com o seu nome de batismo.

No ano anterior, já tinha decidido que a casa real continuaria sendo Casa de Windsor, o nome de sua família, contrariando a tradição, que ditava que deveria mudar para o sobrenome do marido.

Philip era príncipe da Grécia e Dinamarca, mas foi expulso com a família do primeiro país quando a monarquia foi derrubada em 1922. Militar, conheceu Elizabeth quando ela tinha 13 anos – reza a lenda que a futura rainha se apaixonou na hora e aceitou o pedido de casamento, em 1946, sem consultar os pais. Para que a união fosse adiante, ele teve que renunciar seus títulos, se converteu da Igreja Ortodoxa Grega para o anglicanismo, se afastou de parentes, inclusive as irmãs, que tivessem qualquer forma de associação ao nazismo.

Ele também passou a usar o nome de Philip Mountbatten, o sobrenome do lado inglês da família de sua mãe. O sobrenome “Mountbatten-Windsor” acabou sendo adotado para os descendentes de Philip e Elizabeth que não possuem títulos reais, como Archie e Lilibeth, os filhos de Meghan e Harry, ou quando os que têm precisam por alguma razão usar um sobrenome. Uma forma, dizem, de apaziguar o príncipe, que como consorte real tinha papel bem menor que a esposa.

Com quatro filhos, Charles, Anne, Andrew e Edward, e um cargo sem funções políticas de fato, a rainha viu nações que faziam parte do Império Britânico, aquele onde o sol nunca se punha, se tornarem independentes. Raramente se manifestava sobre acontecimentos mundiais, mas criticou, com tato e discrição, algumas decisões dos primeiros-ministros aos quais sobreviveu e movimentos políticos que testemunhou.”

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Hoje – 160 anos do nascimento de Claude Debussy. Ouça Clair de Lune

Nasce Claude Debussy, o mais influente compositor francês dos últimos três séculos no dia 22 de agosto de 1862, em Saint-Germain-en-Laye, na França.
Em 1873, entrou para o Conservatório de Paris.
Considerado o fundador do impressionismo musical, Debussy influenciou o trabalho de compositores como Maurice Ravel, Igor Stravinsky, Bartók Béla, Alban Berg, Anton Webern e Pierre Boulez. Portanto, ele é considerado o mais influente compositor francês dos últimos três séculos.
Em seu trabalho constam a ópera “Pelléas et Mélisande” (1902), o trabalho orquestral “Prelude to The Afternoon of a Faun” (1894) e “La Mer” (1905).
Debussy morreu no dia 25 de março de 1918, em Paris.

(Com Paulo Tarso)

Nos anos de chumbo

Amaury Farias era um dos donos e redator-chefe do combativo jornal Folha do Povo, nos anos 60.
Na primeira segunda-feira após o golpe de 1964, ao chegar a redação do jornal Amaury deu de cara com o delegado de polícia José Alves, que foi logo informando:
Estou aqui por ordem do governador para fazer intervenção no jornal e na empresa porque aqui funciona uma célula comunista.
Ao que Amaury disse:
Senhor delegado, aqui funciona única e exclusivamente a Folha do Povo, órgão que faz oposição aberta ao sistema dinástico dos Nunes (ex-governador do Amapá Janary Nunes) e seus asseclas e se ser contra esse sistema é ser comunista…
A Polícia não encontrou nada que provasse que ali era um aparelho comunista, mesmo assim levou Amaury preso.

Fundado em 1963 por Elfredo Távora e Amaury Farias, entre outros jornalistas, a Folha do Povo era um jornal semanal de oposição ao governo. Por causa disso seus jornalistas foram presos várias vezes.
Funcionava na avenida Mário Cruz. A foto registra uma das interdições do jornal, após o golpe de 1964. Um policial na porta principal impede a entrada e saída de qualquer pessoa.

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Meu amigo Aloísio Cantuária, que há alguns anos deixou Macapá e radicou-se em Belém, me contou o seguinte:

“Enquanto o Amaury Farias e outros iam presos, “alojados” na celas da Fortaleza de São José (até pra isso foi usada), naquele momento, entrando na adolescência, nem tínhamos idéia do que estava acontecendo.
Em 64 estava concluindo o antigo curso primário lá no G.E. Coaracy Nunes. Em 65 (“Tinha eu 14 anos”, emprestando os versos do Paulinho da Viola) entrei no Colégio Amapaense e aí comecei a ouvir falar na tal “revolução”. Pra começar, estudava à noite (pra acompanhar a minha irmã; depois passei para o turno da manhã). E um dia, a “dona” Caty, secretária do CA e também professora de religião, veio avisar à turma que no domingo haveria uma missa pela manhã, no antigo Cinema João XXIII, em homenagem à … “Revolução”. Isso mesmo, até missa pelo primeiro aniversário do que hoje chamamos de golpe militar. Mas não é só isso. Em 66 (acho que foi em 66) também houve desfile estudantil no dia 31 de março em homenagem à “revolução”. Lembro bem porque, da mesma forma que na missa de aniversário, essa participação era obrigatória.
Ainda em 65, na turma da noite, conhecí o Antonio Montoril, que, simpatizante de Marx, havia sido “hospedado” na Fortaleza e costumava comentar sobre sua estadia forçada. Dizia que, devido à umidade nas celas, sua perna inchou e teria até rasgado a perna da calça.
Outra lembrança que tenho é da visita do presidente Castelo Branco, em 1966. Os estudantes ficaram perfilados (como se fossem soldados) ao longo da av. FAB, enquanto ele passava no carro com o governador (na época, o general Luís Mendes da Silva). Os alunos do CA ficaram naquele trecho onde hoje é o Colégio Gabriel Almeida Café (CCA); na época era só um terrenão.
Antes que eu esqueça: afirmava-se (isso ouví falar) que os acusados de serem comunistas, foram recolhidos (parece-me que ao quartel do BIS) para não representarem perigo ao presidente visitante. Não sei se o senhor Amaury Farias estava no meio dos recolhidos. Esse recolhimento teria acontecido também por ocasião da visita do sucessor de Castelo Branco, o marechal Costa e Silva. Tem também 68, mas isso já é outra história.”