Poética

Poética
Francisco Dantas

Meu bem-querer,
não te assustes.
Eu sou teu anjo:
sem asas
sem auréola
sem curriculum vitae
e sem santidades.

Sou humano e mortal,
determinado, porém,
a velar por ti
com toda a força
dos sentimentos
dos meus versos.

Cantiga para Mario Quintana

Cantiga para Mario Quintana
Paulo Mendes Campos

Sei lá porque eu canto!
Nem sei se é canto… ou espanto…
Talvez cante sem querer…
Talvez pra ver… ou não ver…
Ou viver… ou reviver…
– Eu não tenho o que fazer.

Madrigal

Madrigal
Manuel Bandeira

A luz do sol bate na lua…
Bate na lua, cai no mar…
Do mar ascende à face tua,
vem reluzir em teu olhar…

E olhas nos olhos solitários,
nos olhos que são teus… É assim
que eu sinto em êxtases lunários
a luz do sol cantar em mim…

Com licença poética – Adélia Prado

Um poema de Moraes Moreira

Sombra
Moraes Moreira

Nem tudo aquilo que assombra
À escuridão nos reduz
Ouvi dizer que onde há sombra
É certo que haverá luz

Iluminar esses cantos
Será o nosso desejo
Pra revelar os encantos
Daquilo que eu nunca vejo

E mesmo que a sujeição
Se torne um mal que não fito
Teremos sim afeição
Pra combater o neófito

Apesar da nossa sede
Nesses momentos de dor
Fique reparando a rede
Não vai pro mar pescador

Um poema de Antonio Juraci Siqueira

Na mão de Deus
Antonio Juraci Siqueira

Imagem plena de encanto
da qual afirmo, sem risco,
que vejo o Espírito Santo
na santa mão de Francisco!

É tempo de comunhão
entre réus, crentes e ateus!
Para a nossa salvação,
peguemos na mão de Deus!

Se a mão de Deus te conduz,
não importa aonde te leva;
quem anda junto da Luz,
não há de temer a treva!

Faz da fé o teu escudo
e fica em tua morada
que o pouco com Deus, é tudo
e o muito sem Ele, é nada!

Vem comigo!

Vem comigo

Vem comigo!
Vamos sair por aí plantando alegrias.
Traz um pincel, eu levo a tinta
e pintaremos de verde-esperança
todas as venezianas daquela ruazinha
por onde tantas vezes
passeamos de corações dados.

Vem comigo!
Vamos plantar dálias, rosas e poesia na velha praça
onde dividíamos o algodão doce no arraial do padroeiro.
Naquele tempo a infância era tão doce
e a gente até tinha medo de pecar. (Lembras?)

Vem comigo!
Vamos plantar papoulas vermelhas e amarelas
nos canteiros da ladeira
para enfeitar a cidade e alegrar os passantes.

Depois
– cansados, mas felizes –
tomaremos um sorvete.
Eu te darei um beijo sabor tucumã
tu retribuirás com um beijo sabor açaí.

E o Anjo que nos acompanha (nem te conto)
ficará cheinho de ciúme
e disfarçando dará de asas
(tu sabes que os anjos nunca dão de ombros),
mas Deus sorrirá
e acenderá estrelas na nossa estrada.
Por isso eu insisto: vem comigo, vem.

(Alcinéa Cavalcante)

Bom dia com poesia

Procura

Eu estava lá quando o sol
jogou sorrisos dourados no rio-mar.

Eu ainda estava lá
quando uma estrela riscou o céu
e um pescador apanhou uma estrela do mar.

Por testemunha tenho um bem-te-vi
que bem me viu
quando as andorinhas bailavam no ar.

Quis fundir ouro com prata,
estrela cadente com estrela do mar
e cantar um canto novo
para sair bailando contigo.
Mas
tu não estavas lá.
(Alcinéa Cavalcante)