Um poema de Rui do Carmo

Batuca negro batuca
Teu canto e tradições
O colorido divino
No mês de São João

Tem boi bumbá
Quadrilhas e pássaros
Carimbó retumbão
Forró de Luizão

Tem também
Karolina com k
Botando fogo
Nos corações

Mas não esqueça
Dia trinta a grande concentração
Greve geral e nós na luta
Fora Temer! Feliz São João.

(Rui do Carmo)

Um poema de Maiakóvski

Dedução
Maiakóvski

Não acabarão com o amor,
nem as rusgas,
nem a distância.
Está provado,
pensado,
verificado.
Aqui levanto solene
minha estrofe de mil dedos
e faço o juramento:
Amo
firme,
fiel
e verdadeiramente.

Chá da tarde

Definição
Paulo Mendes Campos

O tempo não é a fonte
jorrando dois jatos d’água
de uma carranca bifronte.

Não é pesado nem leve
Não é alto nem rasteiro
Não é longo nem é breve.

Nem tampouco o passadiço
suspenso entre dois vazios
como frágil compromisso.

O tempo é meu alimento
Meu vestido, meu espaço
Meu olhar, meu pensamento.

Eu não vou perturbar a paz

EU NÃO VOU PERTURBAR A PAZ
Manoel de Barros

De tarde um homem tem esperanças.
Está sozinho, possui um banco.
De tarde um homem sorri.
Se eu me sentasse a seu lado
saberia de seus mistérios
ouviria até sua respiração leve.
Se eu me sentasse a seu lado
descobriria o sinistro
ou doce alento da vida
que move suas pernas e braços.

Mas, ah! eu não vou perturbar
a paz que ele depôs
na praça, quieto.

Bom dia!

Explicação

Vivo do ato de escrever
sobre tragédias
e espetáculos
sobre o candidato vitorioso
e o derrotado
sobre o deputado corrupto
e o governante que finge ser honesto
sobre a exportação da mandioca
e a importação da farinha
sobre a fome
e a riqueza
sobre o real
e o dólar.
Perdoa-me, Anjo,
não sobrou tempo
para escrever
um poema de amor.
(Alcinéa)

Razão de ser

Razão de ser
Paulo Leminski

Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?

Poema de domingo

Diário de bordo
Jaci Rocha
De conversar com as nuvens
e com o vento frio de março
Parti! Com minhas asas e cactos
Tudo o mais deixei para trás …

Debaixo do braço
trouxe ainda meu caderno de versos
E um pequeno dicionário
De onde rabisquei certos significados…

Vou à procura de absurdos,
Aventurar no fantástico do mundo
Criar um diário de bordo
E cada dia, conhecer algo novo…

ah! vou juntar-me às andorinhas
e perder o medo de avião
Navegar pelos mares de maio
E em setembro conhecer o verão!

Jaci Rocha – que inclusive está de aniversário hoje – , é advogada e poeta. Seus poemas são de uma leveza impressionante. Para conhecer mais e se encantar  visite o blog A Lua não dorme (clique aqui), onde Jaci publica poemas seus e de outros autores e belas imagens

Faz escuro mas eu canto

Faz escuro mas eu canto
Thiago de Mello

Faz escuro mas eu canto
porque a manhã vai chegar.
Vem ver comigo, companheiro,
vai ser lindo ouvir o povo cantar
Vale a pena não dormir para esperar,
a cor do mundo mudar.
Já é madrugada vem o sol quero alegria.
Que é para esquecer o que eu sofria.
Quem sofre fica acordado defendendo o
coração.
Vem comigo, multidão, trabalhar pela alegria
que amanhã é outro dia.