De Garcia Lorca

Mas o que vou dizer da Poesia? O que vou dizer destas nuvens, deste céu? Olhar, olhar, olhá-las, olhá-lo, e nada mais. Compreenderás que um poeta não pode dizer nada da poesia. Isso fica para os críticos e professores. Mas nem tu, nem eu, nem poeta algum sabemos o que é a poesia. (Garcia Lorca)

Poema de sábado

No caminho com Maiakovski
Eduardo Alves da Costa

Na primeira noite, eles chegam mansamente
e roubam uma flor do nosso jardim.
E nós não dizemos nada.

Na segunda noite, já não se escondem.
Pisam nas flores de nosso jardim, batem em nosso cão
e nós, mais uma vez, não dizemos nada.

Até que um dia, o mais frágil deles entra em nossas casas,
violenta a nossa família, bate em nossas crianças
e arranca-nos a voz da garganta.

E nós já não podemos falar nada,
porque já não temos voz.

Recital de poemas eróticos

marypaesNa quinta-feira, 25/9, a partir das 21h, o República Bar Vintage, em Macapá, traz para o palco a poetisa Mary Paes, com um repertório recheado de “poemas eróticos”, de sua autoria, no recital Previsão do tempo: quente e úmido ao anoitecer. Será a primeira vez que a artista se arrisca numa apresentação solo abordando o erotismo.

A ideia do recital nasceu a partir do convite do proprietário do espaço, Ronaldo Costa, empresário amapaense com visão cultural, que se estende para além do segmento musical, privilegiando artistas de outros segmentos, como a poesia e o teatro. A produção do espetáculo é conduzida pelo Tatamirô Grupo de Poesia, com a colaboração da artista visual Aline Pacheco.

Mary Paes espera que o público receba bem a proposta, por se tratar de algo ainda não experimentado por ela, em outros eventos literários da capital.  “Estou bastante ansiosa, e desde já agradeço o apoio dos amigos para a apresentação. Além de algumas surpresas reservadas para o público, a noite será, no mínimo, bastante quente e úmida”, arremata a poetisa.

(Texto: assessoria de comunicação de Mary Paes)

Eu não vou perturbar a paz

SEU NÃO VOU PERTURBAR A PAZ
Manoel de Barros

De tarde um homem tem esperanças.
Está sozinho, possui um banco.
De tarde um homem sorri.
Se eu me sentasse a seu lado
saberia de seus mistérios
ouviria até sua respiração leve.
Se eu me sentasse a seu lado
descobriria o sinistro
ou doce alento da vida
que move suas pernas e braços.

Mas, ah! eu não vou perturbar
a paz que ele depôs
na praça, quieto.

Chá da tarde

SENTIMENTAL
Carlos Drummond

Ponho-me a escrever teu nome
com letras de macarrão.
No prato, a sopa esfria, cheia de escamas
e debruçados na mesa todos contemplam
esse romântico trabalho.
Desgraçadamente falta uma letra,
uma letra somente
para acabar teu nome!
– Está sonhando? Olhe que a sopa esfria!
Eu estava sonhando…
E há em todas as consciências um cartaz amarelo:
“Neste país é proibido sonhar.”