Um poema de Luiz Jorge Ferreira

Púrpura
Luiz Jorge Ferreira

Hoje procurei a lua
olhando no fundo dos teus olhos…
Naquela foto antiga dependurada na parede da sala.
Depois encontrei o Sol dentro da saboneteira abandonada no guarda roupa, proxima a tarde de Domingo dependurada no terceiro cabide.

Umas músicas que nunca mais havia lembrado cantarolei dançando com meu próprio reflexo no espelho do quarto.
Desci as escadas
O cão imaginou que as minhas noites que eu trazia no bolso eram borboletas azuis.

As Estrelas – Mario Quintana

As Estrelas
Mario Quintana

Foram-se abrindo aos poucos as estrelas …
De margaridas lindo campo em flor!
Tão alto o Céu!…Pudesse eu ir colhê-las…
Diria alguma se me tens amor.

Estrelas altas! Que se importam elas?
Tão longe estão… Tão longe deste mundo…
Trêmulo bando de distantes velas
Ancoradas no azul do céu profundo…

Porém meu coração quase parava,
Lá foram voando as esperançass minhas
Quando uma, dentre aquelas estrelinhas,

Deus a guie! do céu se despencou…
Com certeza era o amor que tu me tinhas
Que repentinamente se acabou.

(1934)

Um poema de Mario Quintana

O que o vento não levou
Mario Quintana

No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas
que o vento não conseguiu levar:
um estribilho antigo
um carinho no momento preciso
o folhear de um livro de poemas
o cheiro que tinha um dia o próprio vento…

Bom dia!

“Mas o que vou dizer da Poesia? O que vou dizer destas nuvens, deste céu? Olhar, olhar, olhá-las, olhá-lo, e nada mais. Compreenderás que um poeta não pode dizer nada da poesia. Isso fica para os críticos e professores. Mas nem tu, nem eu, nem poeta algum sabemos o que é a poesia.” (Garcia Lorca)

Bom dia!

Sem Mandamentos
(Osvaldo Montenegro)

Hoje eu quero a rua cheia de sorrisos francos
de rostos serenos, de palavras soltas,
eu quero a rua toda parecendo louca
com gente gritando e se abraçando ao sol.
Hoje eu quero ver a bola da criança livre
quero ver os sonhos todos nas janelas
quero ver vocês andando por aí.
Hoje eu vou pedir desculpas pelo que eu não disse
eu até desculpo o que você falou
eu quero ver meu coração no seu sorriso
e no olho da tarde a primeira luz.
Hoje eu quero que os boêmios gritem bem mais alto
eu quero um carnaval no engarrafamento
e que dez mil estrelas vão riscando o céu
buscando a sua casa no amanhecer.
Hoje eu vou fazer barulho pela madrugada
rasgar a noite escura como um lampião
eu vou fazer serenata na sua calçada
eu vou fazer misérias no seu coração.
Hoje eu quero que os poetas dancem pela rua
para escrever a música sem pretensão
eu quero que as buzinas toquem flauta doce
e que triunfe a força da imaginação.