De Bruno Muniz

Eu sei dizer poema o dia todo
Bruno Muniz
Eu sei dizer poema o dia todo,
feito o grilo tagarela,
sem arreios, fios ou freios.
As veias vão à frente dando num pequeno lago
(ideia natal do poeta)
onde as raízes davam nó, o sertão poça e as flores casca,
e onde os beirais desfiam e abre uma curva em que se escoa um sangue cor-de-rosa à margem, como plumas, meu instrumento mais usual do dia.

De Jarbas Ataíde

Onde encontrar a liberdade?
Jarbas Ataíde
Qual o preço da liberdade?
E onde ela é encontrada?
Eleve suas mãos! Pergunte:
Onde encontrá-la de verdade?
Caminhe nas estradas e trilhas!
De coração e peito aberto!
Pare, interrompa os passos na via!
Para refletir sua tarde, manhã e dia!
Pense, indague, questione,
Mas deixe os olhos bem abertos!
Não se iluda com estradas íngremes!
E nem com pedras, tropeços e apertos!
Marque quantos passos andou,
Quantos dias deu uma pausa!
O importante é quando começou!
Quando decidiu olhar para seu interior !
Lá encontrarás a resposta!

De Maria Helena Amoras

A Rosa
Maria Helena Amoras

Na escuridão do tempo
eu vi a rosa passageira
era muito mais bela
que a rainha do amanhecer.

Entre o mistério da noite
estava exposta e descoberta
uma visão estranha do lilás
que aos meus olhos desperta.

Não sei a cor, mas era linda.
Se era branca ou vermelha,
violeta, azul ou cinza
nada igual se assemelha.

De Ana Alves de Oliveira

Meus sonhos
Ana Alves de Oliveira

Meus sonhos
São enfeitados
com a beleza das flores,
iluminados com o brilho das estrelas,
aquecido com a luz do sol.

São transformados
pela alegria do florescer da primavera
e vou colorindo com as doces lembranças
vividas em outro
tempo.

Vou colorindo meus sonhos
com a cor da primavera
e  bordando com a cor da rosa amarela .
Meus sonhos são feitos de felicidade.

De Luiz Jorge Ferreira

Balada para fazer recomeços
Luiz Jorge Ferreira*

Meu coração é louco.
Eu sou destro, ele é canhoto.
Olha sempre para o alto, é míope, mas quer enxergar Andrômeda.
Domingo diz que vai estar em Janeiro.
Eu sou Julho.

Meu coração é cabisbaixo quando recorda do passado.
Anunciou aos muros em ruínas que tem uma máquina do tempo.
E jorra sangue para meu cérebro.
Para que eu enxergue a alma.
Ama as Músicas das outras décadas.
Dança sozinho quando eu me aproximo do espelho.

Meu coração é louco.
Já criou Deuses, já desceu ladeiras, já fez monólogos, para pulgas Norte-americanas, falado em Esperanto.

Hoje me pregou uma peça…quis sair de mim
batendo descompassado,ao Som de uma Canção do Jards Macalé.

Onde vais?…perguntei.
Gritei …Quo Vadis.
Em latim.
…se tu fores de mim.

Nunca mais eu serei eu. Ameacei gritando aos ventos que sacudiam as venezianas.
Ele riu…e voltou…escondendo um par de Asas, que só me mostrou quando choveu sal em Outubro.

*Luiz Jorge Ferreira é poeta, cronista, contista, escritor e médico. Tem vários livros publicados e faz parte  da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (Sobrames). Nasceu no Pará, mas viveu a infância e juventude em Macapá. Há muitos anos reside em São Paulo.

(Fonte: Blog de Rocha)

De Alcy Araújo

MINHA POESIA
Alcy Araújo

A minha poesia, senhor, é a poesia desmembrada
dos homens que olharam o mundo
pela primeira vez;
dos homens que ouviram o rumor do mundo
pela primeira vez.
É a poesia das mãos sem trato
na ânsia do progresso.
Ídolos, crenças, tabus, por que?
Se os homens choram suor
na construção do mundo
e bocas se comprimem em massa
clamando pelo pão?
A minha poesia tem o ritmo gritante
da sinfonia dos porões e dos guindastes,
do grito do estivador vitimado
sob a lingada que se desprendeu,
do desespero sem nome
da prostituta pobre e mãe,
do suor meloso da gafieira
do meu bairro sem bangalôs
onde todo mundo diz nomes feios,
bebe cachaça, briga e ama
sem fiscal de salão.
– Já viu, senhor, os peitos amolecidos
da empregada da fábrica
que gosta do soldado da polícia?
Pois aqueles seios amamentaram
a caboclinha suja e descalça
que vai com a cuia de açaí
no meio da rua poeirenta.
Cuidado, senhor, para o seu automóvel
não atropelar a menina!…

Mauro Guilherme

História de rio
Mauro Guilherme*

Um rio cortando a tua cidade,
o teu amor,
o teu destino.
Um rio só,
um rio grande,
que te faz pequenino.
Um rio de águas turvas e perigosas
– cuidado para não te afogares -,
que te causa medo e fascínio.
Um rio da lua,
um rio do sol,
olhando para ti desde menino.