Eu não forneço nenhuma regra para que uma pessoa se torne poeta e escreva versos. E, em geral, tais regras não existem. Chama-se poeta justamente o homem que cria estas regras poéticas. (Maiakovski)
Categoria: Poesia
De Alcinéa
Meio-dia
(Alcinéa Cavalcante)
Para onde vai
esse menino de andar tristonho
com uma camisa verde desbotada amarrada na cabeça?
Ele não caminha em direção ao sol.
Caminha sob o sol.
O sol queima.
O asfalto queima.
As lágrimas queimam.
Para proteger a cabeça tem uma camisa verde desbotada.
Para proteger os pés um par de tênis surrado.
Mas quem – ou o que – pode protegê-lo da tristeza que aflige seu coração
e se derrama em lágrimas queimando sua face?
De Garcia Lorca
Mas o que vou dizer da Poesia? O que vou dizer destas nuvens, deste céu? Olhar, olhar, olhá-las, olhá-lo, e nada mais. Compreenderás que um poeta não pode dizer nada da poesia. Isso fica para os críticos e professores. Mas nem tu, nem eu, nem poeta algum sabemos o que é a poesia. (Garcia Lorca)
Metáfora – Gilberto Gil
Metáfora
Gilberto Gil
Uma lata existe para conter algo
Mas quando o poeta diz: “Lata”
Pode estar querendo dizer o incontível
Uma meta existe para ser um alvo
Mas quando o poeta diz: “Meta”
Pode estar querendo dizer o inatingível
Por isso, não se meta a exigir do poeta
Que determine o conteúdo em sua lata
Na lata do poeta tudo nada cabe
Pois ao poeta cabe fazer
Com que na lata venha caber
O incabível
Deixe a meta do poeta, não discuta
Deixe a sua meta fora da disputa
Meta dentro e fora, lata absoluta
Deixe-a simplesmente metáfora.
De Catulo da Paixão
“Qual seria o anel do poeta,
se o poeta fosse doutor?
– Uma saudade brilhando
na cravação de uma dor”
(Catulo da Paixão)
De Glória Araújo
A Rede
(Glória Araújo)
A rede velha comeu foi fogo
com nós dois pra lá e pra cá,
O suor cobria nosso corpo
Ajeita a rede, balança a rede,
A rede querendo rasgar
E nenhum queria parar.
Eu rangia os dentes e gemia
Ele dizia: aguenta, meu bem,
Que já vou terminar.
Depois de muito esforço
puxamos a rede e o que vimos
valeu todo o sacrifício
O peixe era enorme
dava para o almoço e jantar.
De Murilo Mendes
“Não sabem que sou poeta e o amor que existe em mim.”
(Murilo Mendes)
De José Queiroz Pastana
Lucidez
José Queiroz Pastana
Quando olhei para o céu
Vi uma estrela a brilhar.
A lua ficou a me curtir,
E no céu da boca o paladar.
O mar, sereno em ondas,
Debatia-se na orla:
Quebra-mar, São José,
Do Marabaixo ao Laguinho.
O teu olhar luz candeia,
O espelho dos olhos vagueia.
Nas curvas do corpo bronze
Deposito meu amor carente.
Teu coração vida, rubi,
Até a flor de mel colibri.
Navegar na lucidez do amor
Para não perder a razão de viver.
De Manoel Bispo
“Onde não há poesia a vida pesa como chumbo.”
(Manoel Bispo)