Um poema de Cordeiro Gomes

Contemplação
Carlos Cordeiro Gomes

Da janela do pensamento
o homem contempla o seu passado
Se fosse possível viver de novo
a mesma vida viveria
viveria
viveria…

Viver de infância
de sol
de sonhos
e amar.

Amar a primeira namorada
na lentidão das tardes.
E,
mesmo coberto de pó de estradas
sorrir de sorriso aberto
na contemplação dos astros
sob aprovação de Pierre Augusto Renoir…

Um poema de Amaury Farias

Ah! Se eu pudesse…
Amaury Guimarães Farias

Se eu pudesse contar
eu contaria,
as coisas que o mundo
não contou,
porque no mundo conturbado
não se pode realizar
o que sonhou.

Se eu pudesse dizer
eu te diria,
da vida que sonhei
e não vivi
porque os anos se passaram
destruindo as coisas
que a custo construí.

Mas não desespero assim
tão simplesmente
da vida que foi dada
docilmente
por Deus, Divino e Onipotente,
porque se a vida é ruim
sem ter história,
pior é morrer
sem ter a glória
de viver a vida
sem viver.

Um poema de Aluízio Cunha

Os olhos da menina
Aluízio Cunha

Olho os olhos tristes da menina
que perdeu a mãe
que foi ser estrela
que foi ser lua
areia sideral
fragmento de sol.

Olho os olhos da água
querendo sufocar as praias
alagar o mundo
inundar o globo
afogar o universo
querendo deslumbrar-se em Deus.

Olho os teus olhos
bem profundamente, menina,
e surpreendo
doce amor
amarga saudade.

Verde pretérito

Verde pretérito
Alcy Araújo

O sapo era verde
no lago verde.
O lodo era verde
no mar tão verde.
Eu era verde
ao poema verde.
A amada era verde
de olhos verdes.
O amor era verde
nos anos verdes.
A fonte era verde
a esperança era verde
e logo secou.
O sinal era verde
o carro era verde
a infância era verde
e se apagou.
(Do livro Autogeografia – 1965)