Chá da tarde

POEMA À FOGUEIRA
Arthur Nery Marinho

Fogueira de Santo Antônio
que ardes tal como arde
a chama do meu olhar!

Fogueira linda, que tanto
o meu tempo de criança
ora me fazes lembrar!

Não tenho mais estalinhos
pistolas também não tenho,
como não tenho balão.

Tenho somente a saudade
da infância que hoje não passa
de simples recordação.

Mas, psiu! Não digas nada
às crianças que hoje brincam
como em criança brinquei.
É cedo para que saibam
que na fogueira dos sonhos
minha esperança queimei.

Guarda silêncio, se ouves
o que, contrito, te pede
o meu pobre coração,
pela bondade de Antônio,
desconfiança de Pedro,
profecia de João.

Não digas nada, fogueira!
Não digas que tudo arde
neste mundo de ilusão,
que tudo não passa mesmo
das fantasias que acabam
quando incendeia o balão.

O poeta Arthur Nery Marinho faz parte da primeira geração dos modernos poetas do Amapá.
Nascido  em Chaves (PA), em 27 de setembro de 1923,  veio para o Amapá em 1946.
Ao lado de Alcy Araújo, Álvaro da Cunha, Aluízio Cunha e Ivo Torres, Arthur desenvolveu importantes projetos culturais.
Está na Antologia Modernos Poetas do Amapá,na Coletânea Amapaense de Poesia e Crônica, entre outras.
Em 1993 publicou o livro de poesias “Sermão de Mágoa”. Arthur morreu em 24 de março de 2003 e alguns meses após sua morte a Associação Amapaense de Escritores fez o lançamento do livro de poemas e trovas “Cantigas do Meu Retiro”.

Chá da tarde

Saudade
Robson Sá

A saudade é forca sem corda
E estampa no solo a sua sina
É memória pastando no campo
É futuro que vaticina
É resto de luz no silêncio
Opaco feito em presságio
É Soneto, é ode e elegia
É Tchaikovsky sonhando em adágio
Sorve sem hausto os sons
E traz o sideral negrume
É Zagaia envenada
Certeira de mão adestrada
Que sulcando o ar alucinada
Singrou o meu peito e me tombou.

robson

O escritor, poeta e advogado Robson Sá é amapaense mas há muitos anos mora em Belo Horizonte-MG

Chá da tarde

Livros
Camyle Monteiro

Páginas e páginas
Letras e palavras
Tu não és apenas isto,
É um encanto que me distrai.

Ao te ler
Posso viver emoções,
Que em toda vida não vivi.

Me ajuda a pensar, a imaginar,
Me faz sonhar.

Ao abrir um livro
Estou abrindo um mundo
Mundo de sonhos,
Histórias e inventos.

Camyle1Camyle Monteiro adora ler, vive cercada de livros. Ela tem apenas 13 anos, cursa a oitava série, e gosta muito de escrever. Sempre gostou. Um versinho aqui, um versinho ali e assim vai construindo seus poemas que já encantam os adultos que amam poesia. Camyle tem talento e sensibilidade e ainda vai orgulhar muito o meio literário amapaense.

Crianças que amam poesia

SONY DSCCrianças recitam suas próprias poesias para os passantes
Essas crianças fazem parte do Movimento Poesia na Boca da Noite e em tudo encontram um motivo para escrever e recitar. Ano passado recitaram em vários lugares de São Paulo quando foram participar da Bienal Internacional do Livro.
Este ano já confirmaram presença na Bienal do Rio de Janeiro

Chá da tarde

Natural
José Queiroz Pastana

Pouco importa
Que teus vestidos
Sejam de cetim
Ou de seda
Que teus dentes
Sejam de ouro
Ou de prata
Que tua cor
Seja branca
Preta
Ou apache
O que importa
É o teu jeito natural
De ser flor do campo
Cheirosa como o jasmim.

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Poeta, professor, ex-diretor da Biblioteca Pública Elcy Lacerda, Pastana participa ativamente dos movimentos culturais. É autor de três livros de poesias e com Sânzia Brito e Ricardo Pontes lançou o primeiro CD de Poemas no Amapá.
Já participou de Feiras Pan-Amazônicas do Livro e da Semana da Cultura Amapaense na Guiana Francesa. Tem poemas publicados em diversas antologias.

Nascido em 27 de novembro de 1964, no Distrito de Fazendinha, é graduado em Letras e pós-graduado em Língua Portuguesa e Literatura.

Agenda Arte Literária

Será lançada nesta terça-feira às 9h no Museu Sacaca, a Agenda Arte Literária-2013, recheadinha de versos de 36 poetas amapaenses – uns já bastante conhecidos, outros ainda novatos na arte de poetar, mas talentosos.
A agenda é uma iniciativa da Associação Literária e Teatral Abeporá das Palavras, com o apoio do Governo do Estado do Amapá.
De acordo com a professora e poetisa Carla Nobre, idealizadora e organizadora da agenda, a  iniciativa vem à sociedade como um instrumento de divulgação da literatura produzida no Estado. “O projeto vai fazer circular ainda mais a poesia feita por amapaenses, porque uma agenda você leva na bolsa e abre em qualquer lugar“, ressalta Carla.
Fui convidada para participar, mas abri mão para garantir mais espaço para os novos poetas. Eles merecem.

Poesia na Boca da Noite no Rio de Janeiro

Poetisa e estudante amapaense, Andreza Gil, 16 anos, está passando férias no Rio de Janeiro. Levou na mala alguns exemplares da coletânea “Poesia na Boca da Noite”, lançada ano passado na Bienal Internacional do Livro de São Paulo, que reúne obras de 23 poetas amapaenses, inclusive Andreza.

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Passeando em Copacabana, Andreza decidiu “esquecer” um exemplar da coletânea no banco do Drummond. Se afastou e de longe ficou olhando para saber se alguém se interessaria pelo livro, se alguém iria lê-lo, levá-lo… o que aconteceria com um livro de poetas amapaenses esquecido num banco em pleno Rio de Janeiro, numa das praias mais frequentadas do mundo?
Ficou emocionada com o que viu.
“Ao ‘esquecer’ o livro com a intenção de que alguém pegasse, observei que todas as pessoas que se aproximavam para fazer aquela clássica foto, liam o livro para Drummond. Minha emoção foi gigante ao observar o sorriso das pessoas que nas mãos tinham a coletânea de poetas do estado do Amapá”, postou Andrezza no Facebook. E registrou com sua câmera várias pessoas fazendo isso, como essa jovem da foto:
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Chá das cinco

ANÚNCIO
Álvaro da Cunha

Eu estou sonhando com um regaço de virgem,
onde eu ponha a cabeça
e adormeça
quando este mundo se despedaçar.
Será que este quebranto no meu corpo
não é cansaço,
mas um pretexto para repousar?

– A vida é triste, o mundo é triste,
o amor é triste.
Quem me censura o ato de sonhar?

(Ainda posso encontrar o meu desejo
sem arredar um pé deste lugar)

E vou escrever anúncios no jornal:

“Poeta, em Macapá,
está precisando de um regaço de virgem
onde ponha a cabeça
e adormeça
quando este mundo se despedaçar”.
(Extraído da Antologia Modernos Poetas do Amapá – Macapá-AP, 1960)