Chá da tarde

O SOL
R. Donato dos Santos

Tal como herói
A arrastar
Uma plêiade celeste
Assim ele vem;
Vem pelos vaus,
Por sendas obscuras
Espadeirando as trevas
E espargindo a luz.

Em sua marcha impoluta
Ele despeja fogo,
Como se fossem dardos
Na combustão de um jogo
A incendiar o céu!

Assim ele ergue-se imponente
No horizonte imenso;
Tal como arconte,
Sai das suas recamaras
A percorrer o infinito.

Detentor de magnitude consistente,
Ele caminha livremente;
Pois é fonte de energia inesgotável;
O sol, é um presente de Deus
Para toda a humanidade.

Para alguns,
Ele é rei!
E como tal,
Avança e rola
Qual imensa bola
No universo imponderável.

Nas Santas Escrituras
Ele é um tipo de Deus
A iluminar a terra,
Onde enxameiam os mares
Seres incontáveis;
Disformes criaturas.

Suspenso no espaço
Ele percorre o zênite;
E na sua marcha galopante
Esse gigante quente
É uma estrela fulgurante
De quinta grandeza
Verdadeiro padrão de realeza.

Sol,
Fonte de luz e calor!
A clarificar o véu das madrugadas;
Ao mais incrédulo mortal impressionas:
Ao levantar-te
Do teu mergulho,
Nas águas barrentas do Amazonas.

Chá da tarde

Testemunho
Pedro Henrique

O que foi trivial agora é raridade.
Falta ânimo, sobram receios.
Há uma crise de voluntariedade.
Acionamos todos os freios.
Pouco se ama.
Muito se cobra.
Há muita cobra.
Resistente à chama.

Realizar em segredo é bobagem.
Tudo vira publicidade.
Eu levo a tua bagagem.
Depois grito: – Viram? Isto é amar de verdade.

Labirintos existem aos montes.
Confusões nos assediam.
Derrubaram as pontes.
Que a paz e o sonho percorriam.

O brilho está ofuscado.
Os dias passam, cresce a escuridão.
Nossos pés estão parados.
E não trabalham as nossas mãos.

Chá da tarde

Que nem passarinho
Pedro Stkls

Eu tenho asas
Mas, não moram nas minhas costas
Não sou desses anjos que habitam no céu
Nem anjo sou
Minhas asas são dos pensamentos
Eu sou que nem passarinho
Eu sou do mundo
Eu sou do ar
E o meu ninho
É a poesia que no meu verso eu sei rimar.

O Amapá na Bienal Internacional do Livro

Dando uma paradinha no blog até segunda-feira.
Negócio é o seguinte: o tempo está curto. Estamos finalizando o livro Poesia na Boca da Noite, uma coletânea dos poetas que participam do Movimento.
Precisamos estar com tudo pronto – completamente revisado –  até segunda-feira quando  será enviado à editora.
O livro “Poesia na Boca da Noite” estará na Bienal Internacional do Livro que será realizada em agosto em São Paulo.
Pelo menos três livros de autores amapaenses estarão na Bienal: Lume (do Rostan Martins), Paisagem Antiga (de Alcinéa Cavalcante) e   Boca da Noite (do Movimento Poesia na Boca da Noite).

Chá da tarde

Para quando você chegar
Thiago Soeiro

Quando chegar não faça barulho
Não quero que anuncie que minha solidão acabou
Para que eu não sinta quando a saudade me abandonar.
Chegue devagar, mas com pressa me prenda em teus braços
Tire-me o compasso e o excesso de ar
Arranque minha roupa, bagunce meu quarto e me tire a paz.
E não me diga por que demorou
Eu sinceramente não quero saber
Roube-me todos os suspiros para os teus ouvidos
Não me deixe pensar no depois.
Faça-me o agora acontecer em meia hora em três horas ou à noite toda
E não me fale até quando vai ficar
Sinceramente eu não quero saber
Eu só quero que me ame quando você chegar.

Poetisa de 72 anos adere à blogosfera

Lançamento do blog “O Bordado Poético de Glória” nesta quarta-feira

O Movimento Poesia na Boca da Noite realiza nesta quarta-feira (2) o lançamento do blog “O Bordado Poético de Glória”, da poetisa Glória Araújo (foto abaixo). O evento ocorrerá no Centro Cultural Franco-Amapaense, a partir das 18h.

Com textos que trazem uma temática engraçada, de duplo sentido e às vezes reflexivas. Glória, 72, escreve desde os 17 anos, mas somente ano passado começou a divulgar seu trabalho por incentivo de alguns amigos e este será seu primeiro blog. Disponível a todos no endereço: http://gloria-araujo.blogspot.com.br/.

Para um dos idealizadores do blog, o poeta Pedro Stkls, que se declara um dos maiores fãs de Glória, analisa o trabalho da poetisa como sendo o mais irreverente do Estado. “O senso de humor presente nos textos dela é o que torna o seu trabalho único e agora com o blog eu vejo como uma ferramenta de dará oportunidade a todos de conhecerem o trabalho da Glória”, conclui Pedro.
(Thiago Soeiro)

Dois poemas de Alcy Araújo

Lembrando-me
(
Alcy Araújo)

Penso no menino solitário
com medo da noite
no silêncio escorrendo
das palavras paralíticas.

Penso no homem solitário
com medo do mundo
das aflições aflorando
nos gestos de maldade.

Bem sei: no menino e no homem
estão a necessidade de ternura
a busca/ânsia
a inquietação diante
de um Deus desconhecido.

Também nas dobras da inocência
ou no escuro dos pesadelos singulares
escuto seus passos cotidianos.
Identifico lágrimas diárias
na rua desprovida de mar
no cais retornando
no espelho matinal
nos corpos frequentados.

Neste amar crescendo
vindo do azul interior
descubro desassombrado
uma saudade.
Aí apago na parede
em trânsito
o retrato em preto e branco
do menino.

Participação
Alcy Araújo

Estou convosco.
Participo dos vossos anseios coletivos.
Vim unir meu grito de protesto
ao suor dos que suaram
nos campos e nas fábricas.

Aqui estou
para juntar minha boca
às vossas bocas no clamor pelo pão
sancionar com este rumor que vai crescendo
a petição de liberdade.

Estou convosco.
Para unir meu sangue ao sangue
dos que tombaram
na luta contra a fome e a injustiça
foram vilipendiados em sua glória
de mártires
de heróis.

Vim de longe
percorrendo desesperos.
Das docas agitadas de Hamburgo
das plantações de banana da Guatemala
dos seringais quentes do Haiti.
Vim do cais angustiado de Belém
dos poços de petróleo do Kuwait
das minas de salitre do Chile
Passei fome nos arrozais da China
nos canaviais de Cuba
entre as vacas sagradas da Índia
ouvindo música de jazz no Harlem.
Afundei nas geladas estepes russas.
morri ontem no Canal da Mancha
e hoje no de Suez.
Tombei nas margens do Reno
e nas areias do Saara
lutando pela vossa liberdade
pelo vosso direito de dizer
e de amar.

Estou convosco.
Voluntariamente aumento o efetivo
dos que não se conformam
em viver de joelhos
morrendo sufocando lágrimas
nas frentes de batalha
nas prisões
para dar à criança recém-parida
o riso negado aos vossos pais
o pão que falta em vossas mesas.

Meu filho
e o filho do meu filho
saberão que o meu poema não se omitiu
quando vossas vozes fenderam o silêncio
e ecoaram inutilmente nos ouvidos de Deus.

Chá da tarde

Guerreira
Izaías Cunha

Se só li de ti te amei
O que serei se conviver contigo?
Teu brilho
Tua graça
Tua arte na praça
E o mais que tu tenhas.

Teu olhar de guerreira
Tua voz de roufenha
Invadiu meu espaço sem senha

E o que mais que eu quero
Se pra o mal és martelo
Que esmiuça a pedra na penha.

Hoje tem poesia na boca da noite

Poetas e amantes da poesia estarão reunidos hoje, na boca da noite, na ponta do Trapiche Eliezer Levy para falar, dizer, declamar poemas à beira do maior e mais lindo rio do mundo, o Amazonas, recebendo o carinho da brisa e as bênçãos do padroeiro São José.
É lá no trapiche – um dos mais bonitos pontos turísticos de Macapá, que o Movimento Poesia na Boca da Noite estenderá os panos da Vida e da Poesia, montará um varal com belíssimos poemas e declamará poesia das 17h às 19h.
Qualquer pessoa pode e deve participar do Movimento Poesia na Boca da Noite, basta gostar de poesia. Portanto, proporcione a você mesmo momentos inesquecíveis de ternura e lirismo nesta última sexta-feira de março. Você, leitor do blog,  é nosso convidado especial.
Te esperamos lá.