Papamóvel já está no Rio de Janeiro

Akemi Nitahara
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro – Os dois veículos oficiais para o transporte do papa Francisco chegaram à Base Aérea do Galeão no começo da tarde de hoje (15). Os veículos serão usados pelo papa na Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que ocorre na semana que vem.

O tradicional papamóvel branco e o jipe verde foram trazidos por um avião Hércules C-130 da Força Aérea Brasileira (FAB). O avião saiu de Roma na sexta-feira (12), com paradas nas Ilhas Canárias e em Fortaleza, totalizando 20 horas de voo.

Os dois veículos ficarão no 3º Comando Aéreo Regional, no centro, até a chegada do papa, no dia 22. O pontífice virá em um avião da empresa Alitalia. O papamóvel deve ser usado 12 vezes, principalmente em trajetos por Copacabana, na zona sul, e em Guaratiba, na zona oeste.

Começaram a ser distribuídos hoje os kits peregrinos para os inscritos na jornada, que podem ser retirados em Santa Cruz e no Sambódromo, de acordo com o voucher enviado para o e-mail para cada grupo. A retirada deve ser feita pelo responsável pelo grupo até domingo (21). É necessário apresentar o comprovante de pagamento. Para quem optou pelo pacote vigília, a retirada do kit será no dia 27, até as 14h, na Igreja Nossa Senhora da Conceição, em Santa Cruz.

O kit completo contém mochila, squeeze, boné e a camisa oficiais, credencial do peregrino, crucifixo exclusivo, manual do peregrino, guias de programação cultural e religiosa e livros, além do cartão de alimentação e de transporte, conforme o pacote adquirido. Quem não se inscreveu, pode comprar o kit básico, com os produtos oficiais, por R$ 79,90.

De acordo com a organização da JMJ, até o momento, há 320 mil inscritos. A expectativa é que 1,5 milhão de peregrinos participem dos eventos. A primeira edição, em 1986, reuniu 300 mil jovens na Praça São Pedro, em Roma. O maior público foi em 1995, em Manila, nas Filipinas, com a participação de 5 milhões de jovens.

Artigo dominical

A casa das janelas de ouro
Dom Pedro José Conti, Bispo de Macapá

Uma criança morava numa casa no cume de uma colina. Certa manhã, quando saiu para ir à escola, ficou encantada com outra casa, no cume da colina à sua frente: ela tinha as janelas todas de ouro. Pensou ser um palácio encantado e quis vê-lo de perto. Como tinha chegado lá? Quem morava numa casa tão extraordinária? Esqueceu o caminho da escola e começou a subir para conferir o que lhe parecia tão maravilhoso.

Quando chegou lá, uma senhora estava na porta da casa e ao lado dela uma menina que tinha, mais ou menos, a mesma idade. O menino perguntou onde estava o palácio das janelas de ouro.

–  Por aqui não tem nenhuma casa como você falou – disse a mulher – a nossa é a única e as janelas são de vidro comum!
– Vendo a decepção do menino, a senhora disse:
– Já que está aqui, fique para brincar com a minha filhinha, vou preparar uma merenda para os dois.

As duas crianças brincaram o dia inteiro até chegar o pôr-do-sol. O menino contava a história da casa com as janelas de ouro para a menina e ela escutava arregalando os olhos. Devia ser a morada de algum rei ou rainha. De repente, a menina apontou algo com o dedo: era verdade, do outro lado do vale também tinha uma casa com as janelas de ouro. Era fantástica. O menino, porém, olhou bem e exclamou:

– Mas aquela é a minha casa! Tem dois pinheiros e a minha mãe está retirando a roupa do varal.

Os dois continuaram olhando. Aos pouco, o sol desapareceu e com ele também as janelas de ouro daquela casa. O menino pensou que a mãe dele devia começar a ficar preocupada e se despediu da outra criança e daquela senhora tão meiga e acolhedora. Correu em disparada colina abaixo e subiu rumo à sua casa. Lá encontrou sua mãe que o aguardava sorrindo e com os braços abertos para abraça-lo. Nunca mais duvidou que o encanto e a alegria morassem nas casas com janelas de vidro comum, onde o sol resplandecia festivo.

Todo ano a solenidade de São Pedro e São Paulo nos oferece a possibilidade de refletir um pouco sobre a nossa Igreja. Muitas vezes somos atraídos ou confundidos, também, pelas notícias da mídia. Evidentemente a eleição de um novo Papa chama a atenção e vira manchete, mais ainda quando a pessoa dele não estava no rol dos papáveis. Grande surpresa quando ele escolheu o nome de Francisco querendo lembrar a opção preferencial pelos pobres, os bem-aventurados do evangelho. Do outro lado, também escutamos notícias escandalosas e boatos de supostos complôs no Vaticano. Podemos juntar também as conversas de realidades mais próximas de nós, da nossa Diocese, das nossas paróquias, dos nossos padres e religiosos. Pessoalmente já fui transferido de Macapá não sei quantas vezes. O pior é que os sempre bem informados sabem exatamente para onde me querem mandar. Haja paciência!

As notícias ou as fofocas podem nos deixar entusiasmados, perplexos ou duvidosos. No mínimo, precisamos de bom senso, discernimento e clareza. Sobretudo precisamos de fé. A Igreja católica, no nosso caso, recebeu de Jesus o mandato de continuar a missão que o Pai lhe tinha confiado até o fim dos tempos. Para fazer isso, o Senhor escolheu pessoas humanas bem concretas, pessoas que encontrou e chamou para segui-lo. Significa que para cumprir a missão divina o Espírito Santo se serve de homens e mulheres pecadores e mortais. O que parece um defeito, na realidade, é o maior dom que o Senhor podia fazer à sua Igreja: a possibilidade de envolver todos, santos e pecadores, numa obra maior que todos nós, uma obra que sempre será dele. Por isso, na Igreja tem as ”colunas”, como São Pedro e São Paulo, mas nela estamos também nós,  rosto desta Igreja perto da nossa casa, encarnada neste tempo com todas as graças, mas também as fraquezas que a nossa humanidade sempre carrega.

Não precisamos ir atrás de uma “igreja” imaginária, sem defeitos, com janelas de ouro. Ela não existe. É o sol da fé e do amor que transforma qualquer casa, qualquer pequena ou grande comunidade, numa realidade maravilhosa onde experimentamos as dificuldades do caminho, mas também a alegria e a confiança, a fraternidade e o perdão. Se a nossa Igreja não tivesse nada de humano, nós, que não somos anjos, nunca  poderíamos  conhecer e amar Jesus vivo neste nosso tempo de hoje. Apesar do material ordinário, a nossa casa, quando resplandece o sol, tem janelas de ouro. É sempre a mais bonita porque lá mora a nossa família. A família de Deus.

Procissão de Corpus Christi sairá do bairro do Muca

Na próxima quinta-feira, 30, a Diocese de Macapá celebra  Corpus Christi com missa, procissão e adoração ao Santíssimo Sacramento.  A concentração para a procissão será às 15h na Igreja Nossa Senhora das Dores, em frente a praça do bairro do Muca. Às 15h50 a procissão sai em direção à Paróquia Cristo Bom Pastor, no bairro Congós. Na chegada da caminhada, será realizada a missa, presidida pelo bispo da Igreja Católica, Dom Pedro José Conti. Após, uma caminhada segue até a Paróquia Jesus Bom Samaritano, no bairro Zerão.

De acordo com Padre José, em cada ano o Corpus Christi é celebrado por vicariato, ou seja, grupo de paróquias dentro da Diocese de Macapá. Neste ano, o responsável é o Vicariato 3, que concentram as Paróquias Sagrado Coração de Jesus, Cristo Bom Pastor e Jesus Bom Samaritano.

Tema
“O tema deste ano de 2013 é Eucaristia e Fé, com o lema “Meu Senhor e Meu Deus.” Em comunhão com o ano da fé, no cartaz deste ano está um barco, que representa a igreja e o Sol simbolizando a Eucaristia. É a Eucaristia que faz a igreja, que é a presença real de Jesus Cristo no sacramento”, xxplicou padre José.

A data
A data do feriado é um momento em que a igreja católica lembra da instituição da Eucaristia por Jesus Cristo. A Eucaristia é um dos sete sacramentos e foi instituído na Última Ceia, e a foi celebrada pela primeira vez na Quinta-Feira Santa, e Corpus Christi se celebra sempre numa quinta-feira, após o domingo de Pentecostes.
A Festa de Corpus Christi foi instituída pelo Papa Urbano IV com a Bula ‘Transiturus’ de 11 de agosto de 1264, para ser celebrada na quinta-feira após a Festa da Santíssima Trindade. No Brasil, a festa passou a integrar o calendário religioso de Brasília, em 1961.

JMJ

Segundo Walbi Pimentel, da organização da festividade,  camisas estão à venda pelo preço de R$ 15, e o dinheiro arrecadado vai ser destinado à juventude que viaja no mês de julho para o Rio de Janeiro, em encontro com Papa Francisco. “As camisas podem ser encontradas na Paróquia Sagrado Coração de Jesus ao longo da semana, e nas Igrejas Nossa Senhora das Dores e Divino Espírito Santo, na Paróquia Jesus Bom Samaritano e na catedral também está havendo a venda de camisas após as celebrações.

A organização informa também que a doação de água para a distribuição, ao longo do percurso pode ser feita nas Paróquias da festividade.

Tradição
Os tapetes de rua são tradição e manifestação artística popular realizada pelos fiéis, confeccionados para a passagem da procissão de Corpus Christi. Este ano,  a juventude deve ajudar a desenhar o tapete no chão, no caminho do percurso da procissão, a partir das 8 horas. Para enfeitar as ruas são utilizados diversos tipos de materiais, tais como serragem colorida, borra de café, farinha, areia, flores e outros acessórios.

(Texto: Mônica Costa/Pastoral da Comunicação)

Artigo dominical

Estou muito ocupado
Dom Pedro José Conti, Bispo de Macapá

Eu era jovem e me sentia forte. Naquela manhã de primavera, saí de casa e gritei:

– Estou disponível, quem me quer que me pegue.

Pela estrada passava o Rei com seu séquito de mil guerreiros.

– Eu te aceito ao meu serviço – disse o Rei parando o cortejo – Receberás parte do meu poder. Mas do poder dele eu não sabia o que fazer e o deixei ir embora.

– Estou disponível para todos. Quem me quer? – Repeti. Naquela tarde de sol, um velho pensativo me parou e disse:

– Eu te contrato para os meus negócios. Vou te pagar com muito dinheiro – e me mostrou um monte de moedas de ouro.  Mas eu não sabia o que fazer do dinheiro dele e me virei do outro lado.

Ao anoitecer cheguei perto de um casebre. Apareceu uma linda jovem e falou:

Eu te aceito. Terás o meu sorriso como recompensa.

Eu fiquei perplexo: quanto dura um sorriso? Entretanto aquele sorriso desapareceu e a jovem sumiu nas sombras. Passei a noite deitado na grama e de manhã estava todo molhado pelo orvalho.

– Estou disponível, quem me quer?

O sol já brilhava sobre a areia quando percebi que tinha uma criança sentada na praia brincando com três conchinhas. Quando me viu, levantou a cabeça e sorriu:

– Eu te quero – ela falou – e em troca não tenho nada para te dar.

Aceitei o contrato e comecei a brincar com ela. Às pessoas que passavam e perguntavam por mim, respondia:

– Não posso, estou muito ocupado. A partir daquele dia, senti-me um homem livre.

Peguei emprestada esta bela página do poeta Tagore. No domingo de Pentecostes, devemos refletir sobre o Espírito Santo, a “força do alto”, o advogado, o consolador, prometido e doado por Jesus. Ele mesmo quando falou do Espírito a Nicodemos o comparou ao vento, porque sopra onde quer e ninguém sabe de onde vem e para onde vai (cf. Jo 3,8). Não tem portas e nem janelas que possam segurá-lo. O Espírito é a liberdade de Deus para amar. Uma liberdade que, parece uma contradição, o obriga a amar. Deus não escolhe e por isso não pode errar e nem fazer menos, pior ou diferente. É a perfeita liberdade de fazer e escolher sempre o único melhor: amar. Também se pode custar a vida do Filho encarnado.

O Espírito é o contrário do interesse, da ganância, do lucro e da vantagem. O Espírito é pura gratuidade. Se não fosse assim, se Deus escolhesse as coisas para ter algo em troca, esta, sim, seria uma contradição do amor. Não seria mais o amor total. Como as brincadeiras das crianças, muito ocupadas em gastar livremente as suas energias. Liberdade e gratuidade juntas para amar.

Pensando bem, o Espírito Santo é também o contrário da prudência, do medo, dos cálculos estratégicos. Os apóstolos perdem o medo, as portas são escancaradas; não  para que entrem os judeus ameaçadores, mas para que eles possam sair. A boa notícia de Jesus agora está livre para chegar até os confins da terra.

O Espírito Santo é o contrário da dúvida, da confusão, da desunião. A fé é proclamada sem titubeios: Jesus é o Senhor. O anúncio é ouvido e compreendido por cada um em sua própria língua. Os povos continuam diferentes com sua própria história e sua própria cultura, mas agora se encontram para formar um único corpo onde as diversidades enriquecem e vale para todos e acima de todos o bem comum.

O dia de Pentecostes é também o dia do envio em missão.  Depois daquele dia, o Evangelho nunca mais voltou atrás. Nós, os cristãos, é que podemos ficar parados, podemos ter resolvido dar um tempo, decidido descansar. O Espírito Santo não, porque vai à nossa frente, antecipa-se, prepara os ouvidos e os corações para que acolham a Palavra de Vida. O Espírito Santo é a força da evangelização. Ajuda o pregador a falar, o catequista a explicar, os pais a educarem na fé os seus filhos. Mas também está com os filhos, com os que buscam a verdade e até com os indiferentes, incomodados pela Boa Notícia.

O Espírito não promete nada em troca. Ele mesmo é a meta e o prêmio. É só gratuidade e liberdade porque somente é amor.

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Vou furar a sua mão
Dom Pedro José Conti, Bispo de Macapá

 Uma avó muito pobre criava um neto que tinha ficado órfão. Com o passar dos anos descobriu, horrorizada, que o rapazinho tinha o costume de roubar. Era um pequeno ladrão. Conselhos, sermões, súplicas e castigos já não serviam mais para nada; o pequeno estava acostumado no vício. Uma noite, a avó, não tendo mais a quem recorrer, ameaçou o neto com uma aterrorizante punição:

– Está vendo este ferro com o qual mexemos nas brasas da lareira? Se você roubar de novo, quando ele ficar vermelho, eu vou furar a sua mão!

– O menino não acreditou naquela ameaça e continuou a roubar. As denúncias chegaram aos ouvidos da pobre idosa. Assim, logo que o rapaz chegou a casa, arrastou-o até a frente das brasas onde o ferro já estava esquentando. O neto ficou pasmado, não queria acreditar no que estava acontecendo. A avó, com todas as suas forças, segurou-lhe a mão, depois pegou o ferro já vermelho e… transpassou a mão dela. Hoje, o rapaz é um homem. É alguém que não rouba mais. Se tivesse que meter a mão nos objetos dos outros, preferiria antes queimá-la.

Uma história triste e ao mesmo tempo surpreendente. Um amor muito grande pode chegar a um extremo deste. Até dar a própria vida para salvar a vida de outros.

Chegando ao final do tempo pascal com as solenidades de Ascensão e Pentecostes nós entendemos que Jesus cumpriu até o fim a sua missão. Deu tudo, amou-nos até o fim. O perigo é sempre aquele esquecer ou deixar por menos o que ele fez por nós todos. Deixou-nos o mandamento do amor; disse-nos para nos amarmos como ele nos amou. No entanto, mais do que as palavras vale o exemplo. Sem a cruz, Jesus poderia ser um dos muitos sábios religiosos ou pensadores que apareceram e sempre vão aparecer na história da humanidade. Sem a ressurreição também poderia acabar tudo no silêncio de um túmulo. Morte e ressurreição sempre serão um só, único e grande mistério da vida de Jesus. Salvador e Redentor, para os que acreditam; um caso simplesmente fantasioso ou inexplicável para os céticos de plantão.

Como último dom dele e do Pai, Jesus prometeu e enviou o Espírito Santo para sempre lembrar e entender o que ele fez e ensinou. O Espírito realiza a promessa do Senhor de não nos deixar órfãos, desamparados, esquecidos (Jo 14,18). O Espírito não é, porém, uma memória cristalizada uma vez por todas. A boa notícia do evangelho é uma palavra viva. O Espírito vai ajudar a lembrar de tudo o que Jesus fez e ensinou para que ele continue falando e caminhando junto aos homens e às mulheres de hoje, como fez no passado e fará no futuro. É por isso que os apóstolos não puderam ficar parados olhando para o céu; eles espalharam-se pelo mundo para comunicar a todos quanto grande é o amor, a misericórdia e a fidelidade de Deus. Somente assim a proposta de Jesus é e será colocada sempre ao alcance de todos. Todas as gerações dos homens que buscam a verdade, que estão com fome e sede de justiça, que são chamados construtores de paz, poderão conhecer e confrontar-se com Jesus, com a sua mensagem e o seu exemplo.

Alguns ficarão incomodados, outros continuarão incrédulos, mas muitos se tornarão, por sua vez, discípulos e testemunhas do profeta crucificado, o Filho de Deus, rosto humano do Pai. Enquanto alguns, poucos ou muitos, se deixarem “ferir” e marcar pelo fogo do Espírito Santo a missão está garantida. São feridas e marcas do amor divino, como tantos cristãos e cristãs experimentaram e ainda experimentam.

São chagas doloridas, mas saudáveis. Ferimentos de bondade e de sacrifício. Falando de Cristo, São Pedro escreve: “Por suas feridas fostes curados. Andáveis desgarrados como ovelhas, mas agora voltastes ao pastor e protetor da vossa vida” (1 Pd 2,24-25). Tenho certeza que ainda hoje muitas mães sofrem por causa dos erros dos seus filhos. Choram e definham. Mas nunca perdem o amor. Pena que alguns filhos  entendam isso tarde demais.

Festividade de N.S. de Fátima

OHoje, às 19h, tem missa campal na Igreja Nossa Senhora de Fátima seguida do show musical do Padre João Carlos e banda, como parte da programação em louvor a de N.S. de Fátima, cujo dia é comemrado em 13 de maio, segunda-feira.
Amanhã, domingo, também às 19h, haverá 12,  haverá celebração de missa campal e logo em seguida show da cantora Juliele.
Na segunda, 13 de maio, considerado mundialmente pelos católicos, o dia de Nossa Senhora de Fátima, será celebrada  missa ao meio-dia, que será transmitida pelo canal Amazon Sat; e a noite, haverá missa campal celebrada pelo Bispo de Macapá, Dom Pedro Conti, às 19 h, seguida da procissão das luzes pelas ruas do bairro Santa Rita – Cora de Carvalho/ Hildemar Maia/ Presidente Vargas/ Manuel Eudóxio Pereira/ Pe. Júlio Maria Lombard/ / Hildemar Maia/ Cora de Carvalho.

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Carlinhos o vendedor de ovos
Dom Pedro José Conti, Bispo de Macapá

Carlinhos ganhava a vida vendendo ovos. Tinha aprendido o serviço com o pai e estava orgulhoso do seu trabalho. Fora do pequeno comércio dele estava escrito em letras vermelhas bem grandes: OVOS. Certo dia, uma certa pessoa entrou para dizer-lhe:

– Carlinhos, adivinha o que eu tenho na mão.

Carlinhos aceitou a brincadeira e respondeu:

– Me dê ao menos uma pista para eu poder adivinhar.

– Vou te dar mais de uma: eu tenho na mão algo que tem as aparências de um ovo, tem o gosto e o cheiro de um ovo. Tem a forma de um ovo e as medidas de um ovo. Dentro é branco e amarelo, é liquido antes de ficar cozido, mas fica mais consistente com o calor…

– Não precisa dizer mais nada; já entendi – falou Carlinhos abrindo um largo sorriso – deve ser algum tipo de doce!

Podemos rir ou chorar do pobre vendedor de ovos. No entanto podemos querer saber se o que aquela pessoa tinha na mão era de verdade um ovo. Deixando a brincadeira de lado, devemos reconhecer a facilidade com a qual podemos enganar e ser enganados pelas palavras que usamos. Às vezes, a culpa é de quem se comunica. Se não sabe se explicar bem, fica difícil entendê-lo. Outras vezes a culpa é nossa. Preferimos fingir não ter entendido ou entendemos somente o que nos agrada ou, pior, chegamos a distorcer as palavras do outro e a fazer-lhe dizer o que ele não disse. São os famosos mal-entendidos: às vezes verdadeiros, outras vezes, inventados, como saída de emergência.

No evangelho deste domingo, Jesus fala das suas palavras, aquelas que Pedro, um dia, chamou de “palavras de vida eterna” (cf Jo 6,68). No entanto também as palavras de Jesus podiam e podem ser mal-entendidas, distorcidas e jogadas fora. Se não tomamos cuidado podemos fazer Jesus dizer alguma coisa e depois fazer-lhe afirmar exatamente o contrário. Quantas vezes apelamos a palavras do Velho e do Novo Testamento para justificar atitudes e decisões que de cristão tem pouco ou nada. Na hora da desculpa, até a Palavra de Deus, lida do nosso jeito e a nosso favor, serve.

É neste sentido, me parece, que Jesus fala de dar ouvido e guardar as suas palavras com amor. Precisa do amor em primeiro lugar para estarmos abertos a escutar o que o outro tem para nos dizer. Amor é atenção, disponibilidade, acolhida. O amor sincero procura entender, não julgar, não se deixa enganar pelos pré-conceitos. O amor confia nas palavras do outro e as considera preciosas, por isso elas devem ser guardadas para poder ser lembradas na hora certa, para tornar o outro presente através das suas palavras. São as lembranças; a memória de quem amamos.

Mas tem outra razão: o amor permite compreender o outro além das palavras que ele nos diz. Elas também são limitadas, nunca expressam tudo aquilo que gostaríamos dizer, sobretudo quando o que queremos dizer é tão importante, tão grande, que nenhuma palavra o poderia conter. Multiplicar as palavras também seria inútil, nada acrescentaria. Quando duas pessoas dizem que se amam, naquela palavra está contido muito mais do ela diz. Lá está o desejo de união, está o projeto de suas vidas para que se tornem uma vida só. Lá está a partilha dos sentimentos, dos sonhos, das vitórias e das derrotas. Quando Jesus dizia a alguém que estava perdoado dos seus pecados lá estava também o amor do Pai, a festa do retorno a casa, a dignidade recuperada, o início de uma vida nova. Somente o amor preenche o não dito. É o amor que faz lembrar muitas outras palavras, os momentos passados juntos, a alegria da comunhão e a tristeza da falta. É por isso que Jesus ensinou que também na oração não devemos multiplicar tantas palavras. O amor se cala porque não consegue mais dizer tudo o que sente. Somente contempla e ama.

Infelizmente tudo isso vale também para o mal. Quantas vezes lembramos as palavras que nos machucaram para reavivar o ódio e deixar que a amargura envenene a nossa vida.

Ao Carlinhos da história faltou esperteza, a nós, muitas vezes, falta mesmo o amor.

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Nas costas do discípulo
D. Pedro José Conti, Bispo de Macapá

Seguindo uma antiga tradição São Jerônimo, o famoso santo que tanto trabalhou para um melhor conhecimento da Bíblia, no seu comentário à Carta aos Gálatas, narra que o apóstolo João, já muito velho, fazia-se levar nas costas por um discípulo para poder participar das assembleias litúrgicas. Não tinha mais condição de fazer a homilia e se limitava a dizer estas simples palavras:

– Filhinhos, amai-vos uns aos outros.

Certo dia, os irmãos, cansados de ouvir sempre as mesmas palavras, resolveram lhe perguntar por que continuava a repeti-las. João respondeu:

– Porque este é o mandamento do Senhor e se fosse o único a ser cumprido já seria suficiente!

Também nós ouviremos, no evangelho deste domingo, as palavras bem conhecidas de Jesus: “Amai-vos uns aos outros!”. O que parece repetitivo, de fato, é sempre o maior desafio para nós cristãos. Digo isso não somente porque amar de verdade não é tão simples, banal e espontâneo, como, às vezes, pensamos, mas também porque Jesus nos pede para amar como ele nos amou e, assim, este amor fraterno se torna o sinal visível de sermos, ou não, seus discípulos.

Para entender o amor de Jesus não basta lembrar a sua morte na cruz. Ele falou e agiu a vida inteira com amor e por amor. Os Evangelhos foram escritos para nos ajudar a entender e acreditar que Jesus estava nos fazendo conhecer o jeito de amar de Deus. Um Pai amoroso sente compaixão por seus filhos, acolhe-os e os perdoa. Um Pai aponta o caminho para os filhos e é o primeiro a percorrer este caminho. Jesus não somente ensinou que não tem amor maior do que aquele de quem dá a vida pelos seus amigos; ele amou a todos até o fim, até os inimigos aos quais perdoou na cruz. Todos os gestos, sinais, ou “milagres”- se preferirmos- de Jesus manifestaram um homem capaz de entender as aflições dos outros, de estar ao lado de quem sofre na vida. Com isso ele nos ensinou que Deus sempre está conosco e nunca nos abandona, também se respeita a nossa liberdade ao ponto de poder ser rejeitado e traído. Celebrando a Eucaristia os primeiros cristãos não somente obedeciam ao mandamento de Jesus de repetir aquele gesto em sua memória; sabiam que assim era possível continuar a reconhecer, encontrar e experimentar o inesgotável amor de Deus.

Por consequência, os discípulos de Jesus antes de formar algo visível, mais ou menos organizado, devem ser uma comunidade fraterna capaz de continuar a comunicar o que ele ensinou, não por meio de palavras arrebatadoras ou discursos eloquentes, mas com a vivência daquilo que está sendo pregado. Foi pelo exemplo das primeiras comunidades, pela coragem dos mártires, pela fidelidade dos pequenos que a mensagem de Jesus se espalhou e chegou até nós.

Não podemos ter nenhuma dúvida que o mandamento do amor que Jesus nos deixou será sempre atual e decisivo para o crescimento das suas comunidades. Cada época cria novas formas de egoísmo. Ao lado da sede de poder e de riqueza dos poderosos – que sempre existiu e que contagia também os pobres – hoje podemos reconhecer na busca do bem-estar individual, na indiferença diante dos problemas sociais e na armadilha do consumo, algumas das novas situações que exaltam a defesa dos próprios privilégios e, portanto, conduzem ao esquecimento do bem comum e à incapacidade de encontrar novos caminhos de justiça e de paz.

As nossas comunidades, os nossos grupos e movimentos deveriam brilhar pelo amor fraterno e pela alegre acolhida de quem chega. De fato, a cada geração é proposta a mensagem da fé, mas esta, sem a vivência da caridade, corre o perigo de ser reduzida a um conjunto mais ou menos compreensível de verdades. Sempre vamos precisar de alguém que nos repita, sem cansar, que devemos nos amar uns aos outros como Jesus nos amou. Sem isso ficaríamos irreconhecíveis, mas se praticássemos somente isso já estaríamos cumprindo a nossa missão.

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Um Papa fotogênico?
Dom Pedro José Conti, Bispo de Macapá

Antes dos dias do Conclave, do qual saiu eleito o papa Francisco, o repórter de um programa humorístico da televisão brasileira perguntou a um dos cardeais desta nossa terra: “Se é o Espírito Santo que escolhe o Papa, o que estão fazendo ali dentro tantos cardeais?”. Não sabemos se houve resposta do cardeal; ela foi cortada. Também aquele repórter, com certeza, não era o mais interessado em querer ouvi-la. Melhor assim porque não teria sido nada fácil explicar a ação de Deus a quem, talvez, pouco ou nada acreditava.

Confiar na ação do Espírito Santo, para nós cristãos, não significa dispensar a mediação humana. Se Deus não usasse meios humanos para se comunicar, qualquer mensagem dEle seria simplesmente incompreensível. Não está errado, portanto, dizer que Deus aceita as limitações humanas para poder ser entendido e, com isso, também amado por nós que somos condicionados pelo tempo e pelo espaço. Em Jesus, Deus se conformou às fraquezas humanas até a morte para poder reconduzir a humanidade ao seu encontro. Não podia ser diferente para a Igreja que tem uma missão divina, mas é formada por pessoas concretas com as qualidades e os defeitos que todos nós carregamos.

Precisamos lembrar tudo isso porque, de outra forma, não entenderíamos a maravilhosa mensagem do evangelho deste domingo.  O humano e o divino se entrelaçam continuamente. Os apóstolos eram pescadores antes de seguir o Senhor. Voltaram ao seu trabalho, fadigoso e incerto. Não pescaram nada, mas o desconhecido na beira do lago manda jogar a rede de novo. Confiaram e a pesca foi extraordinária. No entanto a rede não se rompeu. Jesus tinha dito a eles que iam ser “pescadores de homens”. A nova comunidade de Jesus crescerá; novos membros chegarão a acreditar; ficarão unidos pela fé, pela esperança, pela novidade do Evangelho.

Muito humana é também a necessidade de comer; todos os dias precisamos nos alimentar. Isso vale também para os discípulos de Jesus, ele sempre lhes prepara uma mesa para que na comunhão e na partilha nunca percam a coragem de viver e anunciar a vida nova da fraternidade e da paz. É a Eucaristia que nos alimenta, fortalece e nos envia em missão para que o mundo todo se torne “um só coração e uma só alma”.

No final temos o chamado de Pedro para apascentar o rebanho de Jesus. Três vezes ele precisa repetir que ama o Senhor. A fraqueza que manifestou nos dias da paixão está sendo transformada agora pelo amor. Finalmente Pedro entendeu que devia se deixar amar primeiro por Jesus, para poder amá-lo também. Na noite da ceia, ele não queria que Jesus lhe lavasse os pés. No jardim, estava disposto a lutar por ele. Pedro queria salvar o Senhor. Agora entende que foi Jesus a salvá-lo, derramou o seu sangue também por ele, pobre pescador da Galiléia. Este Jesus que o amou tanto pede agora o seu amor como resposta generosa até ser conduzido onde nem imaginava e nem queria ir. Em todo gesto de amor tem algo de humano, mas também tem muito de divino.

Às vezes as fraquezas humanas obscurecem a ação divina, outras vezes são, justamente, as limitações humanas que revelam a grandeza da obra de Deus. Isso é maravilhoso porque nos lembra que a Igreja não evangeliza para promover a si mesma, para aumentar o seu prestígio e o seu poder. Ela, toda, é a primeira servidora do Evangelho.

Conta uma anedota que Papa João XXIII estava bem cansado, após uma longa sessão de fotos oficiais e menos oficiais, e pensava no resultado dessas fotos. Ao encontrar o famoso bispo americano Fulton Sheen, conhecido pelo uso que fazia da televisão como um novo instrumento de evangelização, disse a ele: “O bom Deus sabia, há setenta e sete anos, que eu iria me tornar papa. Não poderia ter-me feito um pouco mais fotogênico?”.

É que o Espírito Santo não escolhe pela beleza, escolhe pelo amor.