Crônica do Sapiranga

Eles jogavam muito
Milton Sapiranga Barbosa

sap1O Bairro da Favela, além dos times São José  e do Araguary, que disputaram campeonatos  organizados pela então Federação Amapaense de Desportos(FAD), hoje Federação Amapaense de Futebol(FAF), tinha dois bons  time  de pelada, o Favelão Esporte Clube  e o Onze Brasileiros Futebol Clube. O primeiro fazia sucesso no Jotistão, torneio anual promovido pela Juventude Oratoriana do Trem. O segundo, 11 brasileiros, foi fundado por um motorista de carro de aluguel, Seu João de tal, que adorava futebol e levava a garotada para disputar jogos amistosos pelos bairros de Macapá e nos distritos de Fazendinha e Santana, conquistando grandes vitórias e belíssimos trféus .  E foi num jogo realizado em Santana, que a rapaziada do 11 Brasileiros passou o maior perrengue. Seu João e um dirigente do Santana, se não me falha a memória, Vasquinho, acertaram um confronto amistoso entre 11 Brasileiros e Santaninha, um time formado por filhos  de funcionários da  ICOMI. Um time considerado imbatível em seus domínios, onde jogavam, entre outros, Venturoso, Nêgo, Bigu, Germano, Luiz, Antônio Trevisani, José Pastana. Destes,  apenas o Pastana não chegou a vestir a camisa de titular do time adulto do Santana, pois deu continuidade aos estudos  até concluir  o curso  de Engenharia.  No acordo entre os dirigentes ficou definido que Seu João levaria o time à Santana e o retorno seria por conta do time mirim do então Canário Milionário. O Jogo realizado no campinho da Vila Pavulagem,  terminou, após um bela exibição dos garotos da favela, com uma goleada  de  5 a 1, e um  show de bola .  Foi aí que a coisa ficou feia pros favelenses. Chateados com a quebra de invencibilidade com acachapante goleada, os dirigentes do Santaninha não providenciaram o transporte para trazer nosso time a Macapá e como seu João, por confiar na palavra  do adversário havia assumido compromisso fora de Macapá, ficamos ilhados em Santana.

Andando e com muita fome,  fomos até o Restaurante dos Viajantes, que eu sabia pertencer a mãe do meu colega de classe Juracy. Chegando lá expliquei nossa situação,  ele falou com a mãe dele que disse tudo bem, mas teríamos que encher  dois barril de  200 litros cada.  Nem bem ela acabou de  falar a turma caiu no “sarilho”  e passados alguns minutos já estávamos  com nossas barrigas cheias. Depois  começou a luta para conseguir carona para  voltarmos para casa. Reunimos os poucos trocados que tínhamos e mandamos de Kombi os  garotinhos  que foram torcer pelo 11 Brasileiros Futebol Clube, como :  Bala, Rato, Jorge, Picolé, Bilica  e outros. Por outro lado, nosso prêmio, após a brilhante vitória sobre o Santaninha foi andar e correr 27 km, enfrentando  piçarra, vento no rosto  e muita poeira  até a casa do Artur, na Leopoldo Machado, que servia de sede e concentração para o valoroso time do 11 Brasileiros Futebol Clube, que faz parte das boas lembranças de minha infancia feliz vivida no meu querido bairro da Favela.

Onze Brasileiros Futebol Clube
Onze Brasileiros Futebol Clube

A revolta do Sapiranga

Raiva e tristeza
Milton Sapiranga Barbosa

Já contei aqui, que  desde gi-ti-ti-to, sou adepto, ou melhor, fanático por uma pescaria  de barranco. Também  descrevi meu currículo,  com  informações  sobre os igarapés, rios, lagos e lagoas por onde andei  mostrando minha perícia com um caniço ou linha de mão, dando minhas fisgadas e fazendo grandes cambadas com  as mais variadas qualidades de peixes, da pratinha ao apaiarí, do matupiri ao tucunaré,  arraia, acará, jacundá, mafurá, jandiá aracú, etc, etc.  No Currículo, elaborei, ficticiamente, onde fiz o jardim da infância, alfabetização inferior e superior, primeiro grau, segundo grau, até chegar a faculdade na Lagoa dos Índios,  que entre todos os locais bons para pescar que freqüentei,  era a minha maior paixão. Pois de suas águas límpidas consegui ajudar no sustento de casa, com fartura de peixes na mesa e alguns trocados nos bolsos, adquiridos das pequenas cambadas que vendia para as prostitutas que moravam na área do chapéu de palha e adjacências.  Hoje, aquele  que outrora fora um lugar piscoso, está morrendo. Tudo porque, quando a lagoa está cheia, pessoas vão ali  fazer pic-nic, beber cachaça ou seja lá que tipo de bebida  for e, depois, jogam  tudo nas águas da Lagoa, transformando-a numa espécie de lixeira marinha.

No sábado, dia 9, pela manhã, em companhia dos irmãos Maia, Walter, Ruy  e Paulo, voltei a Lagoa dos Índios  e após breve  parada e ver o estado em  que a mesma se encontra, pedi para sairmos dali. Estava  dominado pela  Raiva e pela Tristeza. Raiva  por saber que  órgãos  como Sema, Ibama, Polícia Ambiental, Partido Verde e Semam, que foram criados para cuidar  do meio ambiente,  fauna e flora, viraram as costas  para  aquela que deveria servir até  como atração turística de nossa Macapá.  Ali, garrafas  de todos os tipos, latas, sacos plásticos, agora compõem  a paisagem da Lagoa dos índios. As escadas que levam as suas águas viraram sanitário público.

Minha Tristeza foi  por ver   acará, traíra, piranha, matupiri, dente-de-cão  e  uéua,  mortos, boiando nas águas da lagoa, porque  algum ( miserável, desgraçado, fdp)  ali despejou grande quantidade de óleo, que somado a pouca oxigenação no local, pelo efeito, do que chamamos de AIÚ, ( que deixa  centenas de peixes nadando na flor d`água),  vai impedir  que  muitos  peixes cheguem ao período da desova, interrompendo o clico de vida, a continuação das espécies  tão apreciadas, seja  na mesa do pobre, do rico ou remediado, estejam,  assadas, cozidas ou fritas. Claro, acompanhadas de limão e pimenta malagueta. à gosto.

Depois do que  vi, da Raiva e da Tristeza que senti,  só me resta rezar e pedir:     PELO AMOR DE DEUS, HOMENS DO PODER, SALVEM  A LAGOA DOS ÍNDIOS!

Sapiranga e os amigos da Favela

VALEU. COMO VALEU
Milton Sapiranga Barbosa

Moacir e Sapiranga
Moacir e Sapiranga

“Você não tem créditos para  completar essa ligação” .  Toda vez que tentava fazer uma ligação e recebia esta informação, ficava fulo da vida (puto se preferir). Primeiro pelo esquecimento de ligar para *200 para consultar saldo e segundo, porque o posto de recarga mais perto, nem sempre tinha cartão ou recarga disponível pelo sistema on-line, forçando-me andar, ou melhor, pedalar um pouco mais. Na última quarta-feira, quando tentei ligar e recebi a tão odiada informação,  não me aborreci, tiquinho de nada, pois tinha  contatados  com todos os  meus  amigos de infância, que estavam com seus telefones livres. Infelizmente, uns estavam  desligados  ou fora da área de serviço. Todos os  convidados para abraçar  o amigo Walter Miranda Maia,  39 anos ausente de Macapá.

Compareceram Aluízio Cuiú, Biló do Gaivota, Galo Vick, Zé Góes,

Rui, Antônio e Galo
Rui, Antônio e Galo

Moacir, Antônio, Pires, Paulo, Ruy  e até o Alcione, que estava atarefado arrumando as malas para viajar a Belém, deu uma passadinha na casa do Domingos para rever  seus velhos amigos da Capelinha e do Grupo de Escoteiros São Maurício. Como convidada hiper especial, sempre   com  seu lindo sorriso, recebida  de pé pelos presentes, não podia faltar, como não faltou, a  minha poetisa preferida  Alcinéa Cavalcante. Pena que não consegui  falar com sua irmã Alcilene, outra pessoa querida por todos os favelenses .

afavelaO  encontro foi uma festa, um verdadeiro festival de gargalhadas. Durante o papo gelado, como não poderia deixar de ser, relembramos situações vividas na  infância, que nunca canso de repetir, FELIZ, no querido bairro da Favela. Causos do arco da velha, afinal de contas, o mais novinho ali  já  passou dos   cinquentinha.. Entre os muitos causos narrados, destaquei  os  que seguem:

1)-Numa  partida de futebol de salão,  jogada  no campo de chão

Walter Caíta
Walter Caíta

batido da Capelinha, o Walter Maia  deu uma  senhora bicuda, a poeira subiu e a bola sumiu. Cadê a bola? perguntavam todos, até  que alguém olhou  e gritou: “Olha tá enfiada no dedão do Caíta (apelido do Walter) .

2) –  Numa noite de quarta feira, dia de estréia de filme no Cine Macapá, o Moacir e o Boquinha, chegaram  na casa  do Wálter Maia  e o convidaram para  acompanhá-los. O Walter não queria ir de jeito nenhum. Para convencê-lo,  o Boquinha falou: “Vamos que eu  pago  a tua”. Quem resistiria a um  convite desse tipo? Pois é, o Walter também não resistiu, se  arrumou  e  acompanhou  os dois  amigos. Chegando em frente a bilheteria do cinema, Moacir e Boquinha disseram: “Wálter, paga as nossas entradas”.  Mesmo tendo sido sacaneado, o Wálter  só fez  sorrir  e comprou os ingressos.

3) – Mesmo  ausente por questão de trabalho, o Bilica, não escapou. Ele  e o Wálter  aprontaram  uma traquinagem daquelas, mas só o Bilica, que era o menor, foi pego pelo guarda boa praça Waldemar, que ao botar  as mãos no moleque pergungou: Como é teu nome? E o Bilica, Satiro! Quem é teu pai? E o Bilica, Ramiro. O guarda mandou ele embora, não sem antes ameaçar:  VOU CONTAR TUDO PRO TEU PAI! No outro dia, coitado, o SATIRO mostrava as costas marcadas pelo surra com galho de cuieira, que o Ramiro lhe aplicara, depois do fuxico do seu guarda. E o Bilica sorria, que sorria. Sim, o nome do pai do Bilica? Felix Alcântara do Couto.

4)- Também contaram que o Pires, filho caçula do Seu Wilson Maia, estava  com catapora, mas não dispensou um banho de chuva, para  desespero  de  sua mãe , dona Iracema, que ao ver o moleque na biqueira da casa gritou, muito brava e preocupada: Moleque, saí já  dai, não vês  que estás com catapora e podes morrer? E o Pires mandou em resposta: Mamãe, catapora não é nada e se eu morrer eu me compro outro. Pode?

E  não parou por aí, mas  vou  deixar  para contar o restante depois do próximo encontro, já marcado para Fevereiro, quando estarão em Macapá, vindos do Rio de Janeiro,  os irmãos Branco e Boquinha.  Aí sim, a coisa vai pegar, mas com certeza, mais uma vez, poderei dizer. VALEU, COMO VALEU! mesmo ouvindo outra vez:  VOCÊ NÃO  TEM CRÉDITOS…

Crônica do Sapiranga

Presepadas do Carrapeta

Milton Sapiranga Barbosa

Benedito Batista dos Santos, nasceu no dia 2 de Março de 1944, no município paraense de Cametá,. No dia 25 de Fevereiro de 1955, já então com 11 anos de idade chegou em Macapá, na companhia  dos primos Manoel do Rosário  e Benedito  Andrade. Por muito tempo morou na casa de número 99, da avenida Mendonça Furtado, no bairro da Favela, sob a tutela  de seus tios, o casal Bingue  e Lali, pais do Olopércio, Haroldo e José Maria Franco,  seus primos-irmãos  legítimos .

Benedito, estudou  no Barão do Rio Branco, Colégio Amapaense, Escola Industrial e IETA.

Carrapeta, entre Cuiú e Caramuru, no time do Favelão
Carrapeta, entre Cuiú e Caramuru, no time do Favelão

Formou-se em educação física com pós graduação na Escola de Educação Física  do Estado  do Pará.  No futebol não ganhou destaque de craque, mas foi utilíssimo cumprindo função tática e fazendo muitos gols pelo Juventus, Trem, Municipal, Ypiranga Clube  e Favelão.
Esse senhor, hoje aposentado, quando moleque no bairro da Favela, foi um  dos mais  levados  que conheci.  Ele  era tão danado  que  ganhou  o apelido de CARRAPETA, e de quem, passo agora a contar , algumas das  presepadas que ele aprontou por aí.

Infância 1 –  Seu  tio e pai de criação Bingue, estava sentindo fortes dores no fígado e mandou o moleque ir  na farmácia serrano comprar  remédio. Ele foi, mas ao passar próximo ao campo da matriz parou para olhar o jogo entre FIJO  E JOT, cujo placar  apontava 1 a 0 para o time do bairro do trem. O técnico da FIJO, Expedito Cunha Ferro ( 91), que já conhecia o futebol arisco  daquele cametaense, convidou-o para participar do jogo. Ele não se fez de rogado, enrolou no calção o dinheiro  que era pra comprar remédio e foi pro jogo, fez o gol de empate e no final  seu time venceu.
Carrapeta voltou para sua casa como herói, mas   sem a grana e o remédio que deveria comprar para seu tio. Sabendo que  uma palmatória, com furo no meio lhe esperava, rápido ele  se meteu embaixo do assoalho. Não teve jeito, foi  dedurado pelos primos  e teve que encarar 50 bolos, 25 em cada mão e com a recomendação: Não chora, se chorar começo tudo de novo.

Infância 2 – Certo  dia  em que sua tia  deixara no ninho de galinha alguns ovos que não foram chocados (não nicaram pintinhos), ele, por corda dos primos, cozinhou-os  e vendeu para o  Sr Amim Richene  (aquele que tinha comércio no canto da  Mendonça com a Leopoldo e  era  concorrente  do seu Manoel da Casa 2 Estrelas). Seu Amim comprou na boa fé  e na boa fé vendeu para um senhor que trabalhava no Banco da Amazônia, que depois voltou para devolver, pois  os ovos  estavam  cozidos e estragados. Nosso personagem, ao avistar  seu Amim conversando  com sua Tia Lali, já sabia que teria de agüentar mais  50 bolos nas mãos  sem chorar, senão a contagem era reiniciada.

Adolescente – Carrapeta, moreno, boa pinta, era  um namorador  incorrigível. Desses que hoje chamam de galinha, mas que eu diria que era um galo. Ele  chegou  a ter várias namoradas ao mesmo tempo, dedicando meia hora para falar com cada uma delas. Num dia 12 de junho, dia dos Namorados, ele  ganhou  de uma namorada que morava no laguinho, um lindo cordão de ouro, e  deu a preciosa  jóia de presente para uma outra namorada  que morava no bairro do Trem. A  morena que  comprou o cordão ficou sabendo que ele dera para uma outra, então convidou uma  de suas irmãs,  e  as  duas  surraram pra valer  a rival. O Don Juan  ficou  sem cordão, sem as namoradas e com  a fama  de safado entre as mulheres.

Adulto 1 – Numa viagem que  fez a Fortaleza-CE, para participar de um congresso para professores de educação física, Carrapeta aprontou  para cima dos Gaúchos. Eles  ficaram hospedados  no Colégio Militar sediado no Bairro da Aldeota, onde a ordem  de recolher  era  às  23 horas. A gauchada costumava perder a hora  e  só chegavam às 5 da madrugada no quartel. Chegavam  e faziam uma barulheira danada, cantando e dançando temas do folclore dos pampas, não deixando   mais ninguém dormir. Por dois dias eles aprontaram  e  o Carrapeta quieto, mas puto da vida. No terceiro dia, ele  foi na feira do bairro, comprou um rádio de alta potência  e uma enorme peixeira, que ele mandou afiar  dos dois lados. Seus amigos estranharam  aquela compra  e  ele disse apenas: me aguardem. Na madrugada do quarto dia de congresso, os gaúchos depois de muito barulheira, se deitaram para dormir., como se nada tivesse acontecido. Quebraram a cara. Naquele momento,  o Carrapeta esfolou o rádio de 10 bands a todo volume  e ficou esperando o baque. Os gaúchos reclamaram  que queriam dormir e quando se dirigiram  para  desligar o  moto-rádio, depararam  com aquele moreno, cara de mau, empunhando a reluzente peixeira  e ameaçando: vem, que vou arriar o bucho de uns  três. Daquele dia em diante,  a dormida do Carrapeta rolou solto madrugada a dentro. No final do congresso, a gauchada se despediu com abraços e deu até presente  pro Carrapeta. É que o Savino havia informado  pra eles, que  da família  do Carrapeta, ele era o mais bonzinho, mas  já tinha até puxado cana, por pinicar  a barriga de um desafeto. Pura sacanagem do Savino, para amedrontar mais os  rapazes dos pampas.

Adulto 2 – Final de mês, dia de pagamento do governo na agência do Banco da Amazônia, à época localizado na Cândido Mendes com Presidente Vargas. Quando o Carrapeta chegou na agência, um mundão de gente se aglomerava na porta de entrada. E agora? Pensou ele, tenho que dar um jeito de passar na frente. Furar não dava. Então, malandramente, nosso amigo introduziu um braço entre as pessoas a sua frente e  com o dedo em riste cutucou as nádegas de alguém e rápido recolheu o braço. Foi um Deus nos acuda, porrada pra todo lado e o Carrapeta, sorrindo, foi um dos primeiros a adentrar  no banco e a botar as mãos na grana..

Adulto 3 – Certa vez  ao  chegar na agência quando o banco acabara de cerrar suas portas para atendimento externo, ele,  precisando receber seu pagamento sem falta, se fez passar por  funcionário dos Correios e Telégrafos. É que um ex-aluno, do seu tempo de vice diretor do Colégio Amapaense,  trabalhava na agência da ECT-Macapá e chegara na agência para entregar alguns malotes oriundos do Banco Central. Ao avistar o rapaz, o Carrapeta não perdeu tempo, falou com  ele, pegou 2 malotes  e  se foi banco a dentro, lampeiro e pimpão.. O segurança ainda tentou tirá-lo, mas quem  disse que ele saiu. Recebeu seu rico dinheirinho e saiu  na maior cara de pau da paróquia.

Meu amigo  Carrapeta, hoje, com os filhos todos formados em nível superior, sofre de diabetes, já teve que amputar parte do pé, o   dedo de uma das mãos  e  está  com a visão comprometida.  Todos os sábados nos  reunimos em sua residência e  batemos longos papos, relembrando  os  momentos felizes  vividos no nosso querido bairro da favela. Ele tem muito mais histórias interessantes e hilariantes, mas por enquanto só me autorizou a  contar, sem cortes,  as narradas acima.

Crônica do Sapiranga

Seu Antônio, brasileiro, sim senhor!
Milton Sapiranga Barbosa

O bairro da Favela foi pródigo de figuras inesquecíveis. Tinha a Tia Guilherma, que  os mais velhos, para meter medo na molecada diziam que se transformava em uma grande porca  para comer criancinhas choronas e desobedientes. Seu Nestor, apelidado de “pardal”, em referência ao personagem de histórias em quadrinhos que vivia  inventando. Tinha o Licatéro, Kitut, Eleuzípio Bem Bem e o seu Raimundão “paraquedista”, os dois últimos  já homenageados em crônicas anteriores.

Hoje quero falar do Seu Antônio, que por muitos anos trabalhou na cozinha do Hospital Geral de Macapá, tendo como companheiros, seu Alicio, Holanda, Acapú e meu tio, por parte de pai, conhecido como Manoel Delapada (não me perguntem porque Delapada, pois até hoje não sei) .

Naquele tempo dava gosto provar a comida  feita  pelas mãos desses cinco cozinheiros, que se vivos fossem,  hoje  seriam chamados de chefs.

Seu Antônio, quando de folga, gostava de tomar  umas  doses da branquinha  e  era então que revelava duas qualidades que nunca vi, até hoje, em outro ser vivente.

Tão logo saia do Bar Popular ou da Mercearia do  Cacú, arrancava uma folha de mangueira, dobrava-a ao meio e saia tocando, com uma  nitidez incrível, o Hino Nacional Brasileiro,  daí ter ganho o apelido de Antônio Brasileiro. Essa era uma de suas habilidades, a outra, que achava ser a mais espetacular, era o equilíbrio que demonstrava quando  andava sobre a calçada de meio fio, cuja largura não alcançava  um palmo. Sempre tocando o Hino Nacional na folhinha de mangueira, ele andava  um quarteirão de avenida  sem cair, mesmo estando mais pra lá do que pra cá. Só quando pisava no chão batido é que dava umas cambaleadas, demonstrando que havia tomado umas e outras.

Sempre que ele passava tocando o hino nacional  usando como instrumento uma folha  de mangueira e andando na calçada de meio fio sem cair, era seguido e aplaudido  por uma leva de moleques.

Crianças e adultos adoravam seu Antônio, brasileiro, sim senhor, pois era educado, respeitador, não dizia palavrões e nem  tirava  gracinhas com as mulheres. Seu Antônio, viveu por muitos anos em Macapá, mudando-se depois  com a família  para o Rio de Janeiro. Seu Antônio Brasileiro já nos deixou, mas ainda vive entre minhas boas lembranças da  infância feliz, vivida no meu querido Bairro da Favela.

Crônica do Sapiranga

Castigo e bênção
Milton Sapiranga Barbosa

Na  minha época de  moleque no bairro da Favela,  adorava  fazer mandado para os  adultos,   em especial para  a família Amorim,  que morava  atrás da Igreja dos Irmãos, bem ao lado da casa da mamãe, lado direito da subida da Mendonça Furtado. Seu Amorim e sua esposa, Dona Marieta e os filhos, Sônia, Tereza,  Antero e o genro Ermano Moro, um italiano muito gente fina e, até mesmo a outra filha do casal,  Dona Zarelli, quando vinha do Rio de Janeiro visitar os pais,  usava meus préstimos, quando precisava de alguma coisa do comércio local. Eles eram  generosos na gratificação após  a realização da tarefa que me fora incumbida. Gostavam de mim,  pela honestidade na devolução do troco e da rapidez com que   ia no comércio e voltava. Essa rapidez (e também a honestidade) foi adquirida  graças a minha mãe, que quando mandava  comprar tabaco no Casa Canuto (ficava  na esquina da general Gurjão com general Rondon), e  que, segundo ela, vendia o melhor fumo pra cachimbo, sempre dizia: Vou cuspir aqui, se chegares depois do cuspo secar, tu já sabes . E como sabia. Era  surra na certa. A palmatória, com furo no meio ia bater “espaiado”.  Eu ia num pé e voltava no outro (a pedido dela).
Além da casa Canuto, também fazia compras  no Seu Rafael, no comércio do Cacú, Bar Popular, Casa Duas Estrelas, Casa Amim, entre outras.  Nesses locais, quando via um adulto entornando uma dose de cachaça e em seguida franzindo a cara  e dando aquela cusparada no chão ou na parede, achava nojento e pensava: Um dia posso até beber, mas nunca vou beber cachaça.  Tornei-me adulto  e,  junto com outros colegas de infância que também chegaram a maior idade, contraí dois vícios extremamente danosos: passei a fumar e a beber. Acho até  que foi CASTIGO, pois minha bebida preferida  era a maldita cachaça, consumida  dos 18  até os 46 anos de idade. Foi então que  constatei ser verdade o ditado popular: Nunca diga desta água não bebeberei! Eu  disse e paguei.
Bebi, bebi, mais bebi muita cachaça. Pescaria sem  pelo menos duas garrafas da branquinha, nem pensar. Gostava tanto, que às 5 da manhã já tomava um copo cheio para enganar o sol.  Criei  a triste fama de bom bebedor da água que passarinho não bebe até  em Roraima, quando eu e meu compadre Humberto Moreira fomos  lá a serviço da Rádio Nacional.
Convidados  pelo Chiquinho, irmão da prefeita de Serra do Navio, Lucimar Amorim,   fomos  jogar pela TELÁIMA na Cidade de Bonfim, distante uns  150 a 200 quilômetros da capital Boa Vista, creio eu . Na  viagem de volta, o motorista da Kombi abriu uma garrafa de cachaça e  passou em frente  para os demais molharem a garganta. Quando chegou na vez do Humberto, ele agradeceu e disse: Meu compadre me representa e então me entregaram a garrafa acima do meio. Deitado com a cabeça  apoiado no pneu socorro, só fiz entornar a garrafa  e o Humberto teve que  dizer: Toma, senão ele seca. Mas  o vício, que  eu considerava CASTIGO, graças à minha querida e abençoada mãe, abaixo de Deus, um dia acabou.

Era um sábado de maio, véspera do Dia das Mães (como muitos ,acho que todo dia é dia desse anjo em forma de mulher), mas  comercialmente, é festejado no segundo domingo do quinto mês do ano. Naquele dia passei a noite  farreando com os amigos em Santana  e no dia seguinte,  domingo, por  volta de 9 da manhã,  ainda exalando  aquele  bafo desgraçado, fui  abraçar   Dona Alzira  e a mana  Mariazinha, duas mães maravilhosas, responsáveis pela formação de meu caráter. Como mamãe, já aos 76 anos não tinha mais vaidades e possuía no seu guarda roupa  lençóis, cortes de tecidos em vários padrões,  gavetas cheias de  camisolas, toalhas e  dezenas de imagens de santos  em cima da cômoda, no momento em que  fui  abraçá-la,  pedindo-lhe a bênção  e dando-lhe os parabéns,  foi que pronunciei a frase mais feliz e importante de minha vida ao perguntar-lhe : “Mamãe, o que a senhora quer de presente?” Ela  me  deu a bênção e olhou nos fundos dos meus olhos e disse, calma e docemente: “Quero sua bebida de presente, meu filho.”   E  eu, na hora, sem titubear, com uma firmeza na voz até então desconhecida,  respondi:  “De hoje em diante, enquanto a senhorar for viva, não bebo mais.”  Mamãe  morreu  por volta de 5 horas, na  fria madrugada do dia 19 de março/07, dia de São José, com 92 anos, num leito do hospital geral, segurando minha  mão,  com a certeza de ter cumprido a missão que lhe fora confiada por Deus aqui na terra, inclusive, fazendo com  que  eu parasse  de beber. E lá já se vão 16 anos sem a “marvada pinga”. Uma BÊNÇÃO.

Crônicas do Sapiranga

Pagando mico em inglês
Milton Sapiranga Barbosa

Em um sábado vadio, sem pescaria programada,  vivenciei uma situação hilariante quando viajava  de ônibus para Santana,  para  visitar  minhas  duas filhas, Alinne e Elinne, meu neto Pedro Caíque e a  Antônia, minha ex, que foi uma grande companheira por vários anos e hoje é uma excelente amiga.

A viagem  no  ônibus da linha Macapá/ Santana,  via  Distrito de Fazendinha, parecia ser  como das vezes  anteriores, sem  anormalidades,  até  que, já  no trajeto  para  sair de Fazendinha rumo a vila do igarapé da fortaleza, uma moça  fez  sinal,  pedindo parada,   e o motorista, mesmo ela  estando fora  do  abrigo de parada  obrigatória, meteu o pé  no freio. Achei estranha sua atitude, já  que antes, ele deixara de apanhar dois passageiros que estavam em paradas oficiais  existentes ao longo da rodovia JK. Só que desta feita era uma morena bonita, de rosto e de corpo, sem nenhuma deficiência física, mas mesmo assim, o motorista permitiu  que ela entrasse pela porta da frente sem pagar passagem, dando mais prejuízo para a empresa   que trabalha.  O motorista em questão, ao ver aquele corpo escultural, sentiu que podia se  dar  bem  e partiu  para o ataque  tão logo a gostosa pisou no segundo degrau  da porta  de saída do coletivo, cumprimentando-a  com  um sonoro “ GOOD NIGHT” ( expressão em inglês que se diz a outra pessoa quando se vai dormir-  em inglês, o boa noite normal de cumprimento é GOOD EVENING), quando ele  deveria ter dito GOOD MORNING (bom dia  em inglês). Ao  ouvir o cumprimento, a  morena,  parecendo não acreditar ou não ter entendido o que ouvira,  só disse hein? E o motora conquistador, pensando ter agradado e estar abafando no inglês repetiu; Good Nigth   num  tom mais alto( para que todos escutassem) e ostentando um sorriso de orelha a orelha. A moça  não  ligou e se  foi ônibus a dentro procurar um lugar para sentar.

A  viagem  continuou tranqüila  com  descidas e  subidas  de passageiros. Passamos por um pedágio, onde garotas  escolhidas  a dedo, pois eram todas bonitas, pediam ajuda para Adriano, que precisava  fazer tratamento de saúde em centro de medicina mais adiantado, até que chegamos ao meu destino final da viagem, o bairro da fonte nova, onde  desci   e fui  visitar meus entes hiper queridos. Tomei café com  as filhas, brinquei com o neto, abracei a ex  e retornei , feliz por  constatar  que  todos estão em perfeita saúde.

Já dentro  do ônibus  que  me  trazia de volta à  Macapá, lembrei  do motorista metido a conquistador e  pensei:  Aquela morena  devia  entender do inglês e, ao  se dirigir para o fundo do ônibus  deve ter   murmurado  para si mesmo, p. da  vida com  aquele conquistador  barato: “Vai dar boa noite em inglês às 9 e 15 da manhã a    P… Q….O….P…”

As pescarias do Sapiranga

“Istórias” de pescarias – Parte II

Milton Sapiranga Barbosa

Já disse aqui, que desde gi-ti-ti-to sou amante de uma boa pescaria de barranco. Posso afirmar, sem falsa modéstia, que de posse de  um caniço, seja  de bambu, pau ferro ou lamucí, faço misérias  na beira de um rio, lagoa ou igarapé. Meu aprendizado apresenta  o seguinte currículo: fiz  o jardim da infância no igarapé da olaria, a alfabetização inferior e a superior nas pedrinhas; o primário, exame de admissão,  colegial e ginasial no Igarapé da Fortaleza (hoje Gruta)  e concluí 4 anos de  faculdade na Lagoa dos  Índios, onde passei a dar aulas de  como fisgar uéua, pratinha, dente-de-cão, acarará, matupiri, tucunaré e jacundá, durante mais de 15  anos.

Depois  saí  por aí, mostrando minha arte com um caniço nas mãos pelos igarapés, rios e lagos, nas Cutias, Palma 1 e 2,  Maruanum,  Pirativa, Igarapé do Lago, Ajudante, Pacoval, Curiaú, Pedreira do Abacate, Santo Antônio da Pedreira, Bonito, Aporema, Vila Nova, Anauerapucu, Curicaca, São José do Tucunaré, Macacoari, Flexal, Bacuri, Las Palmas, Araguary, etc, etc…

Na maioria desses locais de pesca, tinha como companheiro fiel, o Raimundo Pequilo Góes de Almeida, filho do sr. Nilo Feitosa de Almeida  e dona Amália Góes de Almeida, e irmão do Bento, Zé Góes, Isabel, Cecília, Valda, Nazaré e Selma. No bairro da Favela era mais conhecido pelo  apelido de MUCURA. Era baixinho, passando de anão um palmo (plagiando o Miltão no depoimento da CPI do narcotráfico).

Esse meu amigo e fiel escudeiro, foi o pescador  mais sortudo que conheci na vida. Uma das regras da pescaria  com parceiros, é que não importa quem pega mais peixes.  Se   um pesca  40  e outro só  2, a divisão é sempre meio a meio, mas tem como parágrafo único: quem pegar o maior peixe leva. Nesse quesito, o Mucura era imbatível. Fosse onde fosse, ele sempre fisgava o  maior e caía de gozação em cima dos parceiros. Ele aliava  sorte e criatividade  nas pescarias, como vocês verão a seguir.

Um dia chegamos cedo, por volta de 6 horas da manhã na Lagoa dos Índios   e não levamos ferramenta para cavar atrás das minhocas  e não tinha ninguém para emprestar um terçado ou mesmo umas iscas para  começarmos  a pescar. Como tinha sido dele a idéia de não levar enxada, perguntei: E agora? Como vamos pescar? E ele, na maior calma do mundo, pegou uma vara, amarrou um pedaço de linha 0,20 e na ponta desta um anzol mosca sem chumbada. Eu do lado só olhando para ver o que  ele ia aprontar. Ato seguinte, ele introduziu o dedo mindinho numa das cavidades do nariz, fez uma bolinha de meleca, iscou  e zás, pegou um pirantã (joão duro), um peixinho esverdeado, comum em rios, lagos e igarapés da Amazônia.  Nesse dia, por incrível que pareça,  foi o dia que pegamos a maior quantidade de peixes na Lagoa dos Índios, graças a sorte, criatividade do meu amigo Mucura. Ah sim! Como de praxe, o  maior peixe, um tucunaré, foi ele quem pegou e veio zoando o amigo no caminho de volta até sua casa. Uma semana depois da pescaria da meleca, marcamos  uma outra, que seria numa terça-feira, mas que não chegou a ser realizada.

No dia marcado, fui acordado duas vezes com pancadas na porta de casa  e nas duas vezes a mulher me chamou dizendo que era o Mucura. Ia olhar  e não tinha ninguém. Na terceira vez, já de pé, pronto para ir  buscar meu parceiro, deparei  com meu vizinho Geraldo Galvão( o Galo),  que chorando muito me deu  a notícia: “O Mucura morreu de madrugada no Pronto Socorro”.  O baque foi doído em todos nós que adorávamos aquele baixinho sortudo, que antes de partir, tentou avisar o amigo que a pescaria estava cancelada. .  E foi em homenagem ao inesquecível amigo, que  passei a colocar Sapiranga (apelido dado por ele) em minha assinatura.

004Esse é o time do Favelão. Os caras eram bons de bola e de pescaria.
Quem identifica aí o Mucura, o Galo e o Sapiranga?

Sapiranga conta “istórias”

Istórias de Pescaria

Milton Sapiranga Barbosa

É bom que todos atentem para o título. São istórias de pescarias (verdadeiras) e não istórias  de pescador (mais ou menos verdadeiras).

Já  na fase adulta de pescador, meu clã de  pescaria  era formado por  amigos e compadres, entre eles, Cruz, Paturí, Humberto, Hamilton, Ionas, Moacir, Délio Paiva, Camarão, Alenquer, Flávio Guidão, Diógenes Elesbão e Higino Belo.         Destes, os quatro últimos já  foram para o andar de cima e que pelo que fizeram de bom na terra, descansam ao lado do Criador, sem a menor dúvida. Da turma toda, o Higino Pereira Belo, que nós  carinhosamente  chamávamos  apenas por Gino, era o  mais engraçado, por seu raciocínio rápido e por suas frases  sem noção, principalmente  quando tomavas umas boas talagadas de branquinha, rum  ou de gelosa espumosa.

Gino era cheio de nove horas, criando  frases  e palavras que só existiam  mesmo no seu imaginário, simples, ingênuo até, mas sem nunca  ofender quem quer que fosse. Quando  disse que estava transportando na canoa um “turuçú”,  vasculhei  o pai do burro, consultei tudo e até hoje não sei o significado de turuçu. (penso que seria o cruzamento de  turu (larva encontrada em madeira apodrecida) com  açú (que na língua indígena significa grande). Não sei, mas foi a única forma que econtrei para definir  turuçu (se alguém souber o significado exato de turuçú, por favor, informe).

Agora  vou  contar dois causos, que vão comprovar  porque o Gino era o mais engraçado da turma.

1) Certa vez, numa sexta-feira, estávamos  cavando  na área do aeroporto atrás de minhoca para a pescaria que seria realizada no sábado. Na busca  da isca preferida por aracús e acarás, estavam  eu, o Humberto Moreira, o Flávio  e  o Gino, nosso personagem principal desta croniqueta.  Uns cavavam e outros  pegavam  e colocavam  as minhocas  dentro das latas., quando  o Gino  perguntou de supetão: “Ei, vocês viram ontem  o enterro da morte do Pedro Campina?” Espanto geral. Ninguém entendeu bulhufas e o Flávio repetiu: “enterro da morte do Pedro Campina, Gino?” E ele: “sim, passou ontem à noite na TV”. Aí caiu a ficha, é que no dia anterior tinha sido enterrado o grande sambista e compositor da Mangueira, marido da Dona Zica,  Cartola. Eu perguntei: “Não  foi  o enterro do Cartola?” E ele:  “isso, isso, o cascola, o cascola morreu”. Por uns cinco minutos ficamos  rindo  e zoando o preto.

Certa vez, seguíamos no carro do Humberto Moreira rumo ao Pirativa (área  de pesca, com muitos poços piscosos, localizada entre Maruanum e Igarapé do Lago, à época terra sem  dono, hoje  toda demarcada). Na frente iam o Humberto e o Cruz; no banco de trás, eu, Gino e Flávio. Papo vai, papo vem,  o assunto girou em torno do conjunto Os Cometas, do qual Humberto e Cruz faziam parte e, inclusive, na noite anterior, haviam participado de  mais  uma  apresentação do grupo. Durante  a  conversa, o Humberto disse que faltavam alguns ajustes  para que a performance do conjunto ficasse ainda melhor.  Aí o Cruz, que sempre  se mostrava ser mais experiente, o bam-bam-bam da turma,  deu seu parecer, falando: “ O que falta para Os Cometas é uma boa cobertura” Nem bem o Cruz fechou a boca, tomamos  um susto quando o Gino  gritou a plenos pulmões:  “PARA O CARRO!” Ante  a insistência do nosso amigo pedindo para parar  o carro, o Humberto Moreira, diminuindo a velocidade do veículo, perguntou: “Pra que parar o carro, Gino? Nós já estamos atrasados.” Aí o  Gino disse: “Para o carro  e deixa eu saltar  para tirar umas palhas para fazer uma cobertura pros Cometas.” Ninguém  segurou  o riso, nem mesmo o Cruz, que foi a vítima do raciocínio rápido do negão.

Até hoje, eu e meu compadre Humberto Moreira, estamos sempre lembrando das  presepadas do nosso inesquecível amigo Higino Pereira Belo, que fiz questão de homenagear ao escrever essas mal traçadas linhas,  assim  como todos os demais que foram  acima  citados.