“ A vida não é a que a gente viveu. E, sim a que a gente recorda”

“ A vida não é a que a gente viveu. E, sim a que a gente recorda”…
José Machado
Ontem, transitei pela rua em que morei 40 anos e, de repente me vi em todas as idades que tive, os amigos que conquistei, minhas alegrias, sofrimentos, todos os dias pelos quais passei, as vidas pelas quais respirei, que guardam histórias de convívios.
E a cada idade que vinha, o peito apertava de recordações dispostas como uma fresta por onde dores e alegrias passam de mãos dadas. Rua que me levou e me trouxe de volta à casa da minha infância, da qual tenho sonhos recorrentes. Que me permitiu o acesso à escola, a igreja e também as diversões.
Que me levou as compras na taberna da esquina onde por muitos anos comprei o pão, leite, café, feijão, charque e querosene para as lamparinas e candeeiros. Rua dos Sonhos, do conto por escrever, da felicidade, foi ali onde tudo iniciou… Onde comecei a escrever a história da minha vida.
Rua dos desejos; onde a felicidade era ilimitada, onde inúmeras famílias partilhavam o dia a dia. Que era hábito atender os íntimos, pela porta dos fundos da casa (cozinha). Às vezes não sei se vivi ou se sonhei, e as memórias parecem à distância, doces infusões da realidade.
O primeiro traçado lógico de sua topografia, foi lavrado pelas lâminas de um trator Caterpillar de esteira D-8, operado pelo irmão mais velho, tratorista da ICOMI, que á época – seu canteiro de obras era conhecido como zero.
Instalada na periferia da cidade (quadra que abrange hoje as av. Antônio Coelho de Carvalho e Henrique Gallucio) Santa Rita –onde foi construída EE.D. Aristides Pirovano, Senac e centro de Doenças Tropicais.
Minha rua, pois tenho o sentimento de pertencimento, a família Machado foi a primeira a se instalar naquela gleba em (1945) quando tudo era campo e fragmentos de floresta nativa. Meus ancestrais, levantavam em tempo de ver as plantas e o cerrado orvalhados.
Onde às tardes após os estudos, improvisávamos um campinho para as peladas e, sem ninguém combinar o pessoal ia aparecendo espontaneamente. Não havia tempo predeterminado para as partidas. O jogo encerrava com o início da noite quando já não se enxergava a bola ou quando o grito de uma mãe, chamava para o banho e o jantar.
Viela de chão batido, onde fiz muitos amigos, onde também briguei. Espaço das minhas eternas saudades. Minha rua querida com muita lama e um buraco para cada morador.Local onde brincávamos de: peteca, pião, caveira – onde a alegria era uma constante. Estava mais para um caminho tomada pelo mato.
Somente quando a motoniveladora (patrol) raspava, é que lembrávamos que se tratava de uma via pública. E, foi assim por muito tempo.Rua dos Pregões dos vendedores ambulantes, que caminhavam cantando para anunciar alimentos ou guloseimas. Se destacavam do emaranhado polifônico, e os clientes eram seduzidos pelo ouvido. Do cascalheiro, que chamava atenção pelo toque no triângulo de ferro.
O poeta alemão Rainer Maria Rilhe, estava em um momento de felicidade quando disse que “a verdadeira pátria do homem é a sua infância”. A minha rua,na verdade é uma avenida chama-se Cônego Domingos Maltez -Trem. Ontem ao percorrê-la, não encontrei nem resquício do bairro que retinha na memória.
O que encontrei no entanto, foi uma via de lembranças –quase não existe nenhum contemporâneo vivo e as histórias são sussurros soltos no eco. É impossível esquecer a paisagem dos primeiros anos. Em sua autobiografia ( Viver para Contar) o velho Gabu estava certo quando disse: “ A VIDA NÃO É A QUE A GENTE VIVEU. E, SIM A QUE A GENTE RECORDA.”

  • Excelente texto, uma crônica agradável de ser ler…recordar de algo é reviver!
    Parabéns Alcineia por sua nova página com novas cores e formato, e como sempre, bons conteúdos!…e claro, Poesias!

    • Obrigada, meu poetamigo Flávio. Se você gostou, fico feliz, pois sua opinião é muito importante para mim

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