O diamante do mendigo

O diamante do mendigo
Dom Pedro José Conti – Bispo de Macapá

Certa vez, um mendigo chegou a uma pequena cidade. Estava com fome e não sabia como e onde passaria a noite. Mostrando segurança, bateu na porta da casa do usurário mais famoso da região.

– Não venho pedir esmola – falou decidido – o meu assunto é negócio, um grande negócio.

Apesar da roupa toda esfarrapada do pobre, o usurário, sempre interesseiro, o convidou a entrar. O mendigo fechou, cautelosamente, a porta atrás de si e, com ar misterioso, disse em voz baixa ao ouvido do rico:

– Quanto daríeis por um diamante límpido e perfeito, do tamanho de uma noz?

A cobiça flamejou no coração do avarento. Estava muito interessado na compra da pedra, mas, como sempre, buscava disfarçar as suas intenções para pechinchar sobre o preço. Por isso mudou de assunto:

– Vejo que estás cansado – falou ao mendigo – fique hospedado na minha casa; amanhã poderemos conversar melhor

O pobre aproveitou da acolhida e foi dormir, de barriga bem cheia, numa cama macia. No dia seguinte, o usurário, morrendo de curiosidade, quis ver a pedra. Mas o mendigo encolheu os ombros e, com a maior cara de pau, falou:

– Acaso eu vos disse que tinha a pedra? Só perguntei quanto me pagaríeis por um diamante límpido e perfeito do tamanho de uma noz. Quero estar bem informado porque, se por acaso encontrar uma gema com tais qualidades, seria feliz em vendê-la a um preço justo.

Com o evangelho deste domingo, chegamos ao final do capítulo 13 de Mateus. Entre as últimas parábolas, duas chamam a nossa atenção pela semelhança, mas, sobretudo, pela novidade da mensagem. Jesus quer nos ensinar que o reino dos céus é algo muito precioso. É comparado com um tesouro e uma pérola tão valiosa, que quem os encontra vende tudo para poder comprar o terreno onde está escondido o tesouro ou a própria pérola. Surgem, assim, as primeiras questões para a nossa vida de cristãos: conhecemos e damos à nossa fé o valor que, realmente, ela merece? O que estamos dispostos a deixar para mergulh ar mais nos mistérios do reino que, afinal, é o próprio Deus que se oferece? As respostas estão interligadas.

Se a misericórdia do Pai nos interessa pouco é evidente que gastaremos pouco tempo e pouca vontade para ter mais intimidade com Ele. Vice-versa, quanto mais descobrimos a grandeza do seu amor e a alegria que nos dá conhecê-lo, mais muitas outras coisas ficarão para trás. Sem querer julgar as pessoas, cristãs ou não, é visível que todos nós temos os nossos critérios para avaliar as coisas de Deus. Alguns nem chegam a conhecê-las. Outros as conhecem, mas de tal forma que decidem descartá-las. Outros, enfim, gastam toda a sua vida para servir ao reino dos céus ou, ao menos, o têm em grande apreço: interessam -se, preocupam-se, nunca param de buscá-lo. Mais uma vez podemos dizer que tudo é dom de Deus. É ele, sem dúvida, que nos faz encontrar o tesouro e a pérola preciosa. Mas, sobretudo, é ele que nos convence do seu valor. Não basta encontrar o tesouro ou a pérola, precisa reconhecer o seu grande valor.

Muitos cristãos perambulam pelas igrejas, participam das missas. Muitos receberam os sacramentos da Iniciação Cristã, mas não descobriram o que significam para as suas vidas. Não mostram nenhuma alegria, nenhum entusiasmo, nenhuma gratidão a respeito da própria fé. A Palavra de Deus fala bem pouco aos seus corações. A caridade é mais esmola do que fraternidade, mais descarrego de consciência que partilha e solidariedade. Precisamos aprender a pedir ao Pai bondoso que nos dê mais discernimento sobre o seu reino. De outra forma, podemos jogar fora o ouro e ficar com a bijuteria. Podemos gastar toda a nossa a vida atrás de bens passageiros e perder os bens eternos. Talvez aprendamos algo com o mendigo experto. Só que nós já temos o diamante perfeito e não devemos perguntar o valor dele aos gananciosos deste mundo – que nem o conhecem –  mas ao próprio Deus. Ele nos acolherá, abrirá os nossos olhos e nos fará felizes, como somente ele pode nos fazer.

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