Seu Antônio, brasileiro, sim senhor!
Milton Sapiranga Barbosa
O bairro da Favela foi pródigo de figuras inesquecíveis. Tinha a Tia Guilherma, que os mais velhos, para meter medo na molecada diziam que se transformava em uma grande porca para comer criancinhas choronas e desobedientes. Seu Nestor, apelidado de “pardal”, em referência ao personagem de histórias em quadrinhos que vivia inventando. Tinha o Licatéro, Kitut, Eleuzípio Bem Bem e o seu Raimundão “paraquedista”, os dois últimos já homenageados em crônicas anteriores.
Hoje quero falar do Seu Antônio, que por muitos anos trabalhou na cozinha do Hospital Geral de Macapá, tendo como companheiros, seu Alicio, Holanda, Acapú e meu tio, por parte de pai, conhecido como Manoel Delapada (não me perguntem porque Delapada, pois até hoje não sei) .
Naquele tempo dava gosto provar a comida feita pelas mãos desses cinco cozinheiros, que se vivos fossem, hoje seriam chamados de chefs.
Seu Antônio, quando de folga, gostava de tomar umas doses da branquinha e era então que revelava duas qualidades que nunca vi, até hoje, em outro ser vivente.
Tão logo saia do Bar Popular ou da Mercearia do Cacú, arrancava uma folha de mangueira, dobrava-a ao meio e saia tocando, com uma nitidez incrível, o Hino Nacional Brasileiro, daí ter ganho o apelido de Antônio Brasileiro. Essa era uma de suas habilidades, a outra, que achava ser a mais espetacular, era o equilíbrio que demonstrava quando andava sobre a calçada de meio fio, cuja largura não alcançava um palmo. Sempre tocando o Hino Nacional na folhinha de mangueira, ele andava um quarteirão de avenida sem cair, mesmo estando mais pra lá do que pra cá. Só quando pisava no chão batido é que dava umas cambaleadas, demonstrando que havia tomado umas e outras.
Sempre que ele passava tocando o hino nacional usando como instrumento uma folha de mangueira e andando na calçada de meio fio sem cair, era seguido e aplaudido por uma leva de moleques.
Crianças e adultos adoravam seu Antônio, brasileiro, sim senhor, pois era educado, respeitador, não dizia palavrões e nem tirava gracinhas com as mulheres. Seu Antônio, viveu por muitos anos em Macapá, mudando-se depois com a família para o Rio de Janeiro. Seu Antônio Brasileiro já nos deixou, mas ainda vive entre minhas boas lembranças da infância feliz, vivida no meu querido Bairro da Favela.
1 Comentário para "Uma crônica de Milton Sapiranga"
Grande amigo Milton Sapiranga, estava com saudades de suas cronicas