De Fernando Canto sobre Elton Tavares e o livro Papos de Rocha


Por Fernando Canto*

O jornalista Elton Tavares me elegeu para escrever o prefácio do seu segundo livro de crônicas. Faço na boa, pois sei que estou remetendo o leitor a uma série de informações e sentimentos de um escritor que prima pela boa qualidade de seus textos.
É isso!

Seu bordão exprime tudo. Apesar de incontestavelmente realizar registros citadinos, se emociona fácil com as coisas belas. E mesmo que diga “já deixei de ficar preso à memória há tempos”, insisto que sua crônica registra sua contemporaneidade e fatos narrados no tempo. Ou não seria crônica e esta não viria etimologicamente de cronos. E não é porque o escritor esteja preso a seu espaçotempo, linha dimensional que se circunda irrestritamente de filetes memoriais. Sem dúvida, suas lembranças poderiam explodir nas sessões que faria “com um analista amigo meu”.

Ao falar de si, Elton Tavares se torna um paradoxo ambulantes se é que não é um oxímoro. Tem mais: ele fala de si mesmo como se colocasse palavras nas nossas bocas leitoras, latentes bocas do inferno, bocas devoradoras de letras e de pensamentos Tavarianos, pois diz claramente da soberba dos outros que todos nós gostaríamos de dizer.

Baseado (Hehehe!) na eterna frase de Vinícius, que se referiu ao uísque “como o melhor amigo do homem, pois é o cachorro engarrafado”, digo sempre que o celular é o melhor amigo do escritor, porque além de nos dar condições de armazenar ideias por meio de uma série de aplicativos, ainda permite que a escritura longa flua fácil, pronta para ser postada se o autor assim o quiser.

Mas esse aparelhinho nas mãos do Elton Tavares é um arquivo quente de tudo urgente. Sugere fotos, matérias e outras memórias ácidas ou suaves como um bálsamo das quais o autor se vale para exprimir seus pensamentos e ilustrá-las com maestria.

Eu admiro isso e me espanto com a velocidade da informação que surge do manuseio eletrônico e da sua intimidade com a comunicação na internet. Bom, ele é jornalista, né? Estabeleceu sua práxis, modo, estilo e atualização profissional com que se vale para exercer seu ofício e como cronista no limbo da virtualidade, por meio de suas “blogagens” e “saitagens”, dos quais diz (caradamente) e afirma ser um viciado.

Sua generosidade na blogagem é conhecida por todos os segmentos artísticos e culturais do Amapá: desde a linha eterna do Rock in Roll à música local, das artes plásticas às diversidades religiosas, questões de gênero e debates científicos. Mas é, sobretudo na literatura, que o ET desta terra publica sem frescura nenhuma incentivando, assim, nossa produção literária. Eu que o diga. Porém, escutem, amigos jacarés vacinados, ele incentiva primando pela qualidade e pelo compromisso dos contemplados não serem os “sem noção!” ou portadores de “galassequice”, como já falou na minha lata.

Elton é uma espécie de chiclete Adams da sua família. Podem conferir em algumas peças deste livro. E ele é “caralhadamente” sincero em suas posições, o que lhe dá um ar gordoaltivo de uma personalidade terrivelmente autêntica.

Tudo isso transparece em seus textos, pois afinal, ele mesmo diz: “uma boa crônica parece mais uma daquelas cervas véu de noiva de garrafas enevoadas, na taça, claro”. Ele revolve o tempo com um humor memorial-perturbador, como no caso da Santa Inquisição do Fofão, onde lembrei da psicose coletiva da episódica Operação Engasga-Engasga na Macapá provinciana de 1973. O autor vai a fundo e se projeta no futuro com as histórias das Lives musicais da pandemia. É prosaico na escolha de temas como a crônica sobre as vizinhas fofoqueiras e o “proibido peidar”, dístico escatológico do Empório do Índio, uma figuraça da cidade.

Enfim, o cara escreve sobre felicidade com o mesmo descolamento que fala sobre plágio jornalístico, cinema e futebol. Esses cenários enriquecem o livro, se considerarmos a variação e o significado do conjunto dos textos nele contido. Mas ele também é um espelho de confissões não-planejadas, vindas diretamente do pélago oceânico da alma e dos sentimentos do cronista, assim como um peso irônico, mas verdadeiro.

Para mim, esta obra também se apresenta, às vezes barulhenta, como o vento gerado pelas asas de uma ave gigante, mas que se torna amenizadora do calor equatorial e deixa no ambiente o perfume da autenticidade.

– É isso!”

*Fernando Canto é membro da Academia Amapaense de Letras, sociólogo, escritor, poeta

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