• MIÚDOS E GRAÚDOS

    Ah, que tempo danado que se vê,
    A rua que se anda tem a mão e contra mão.
    É nessa rua que chama a morte a trafegar,
    É na rua que se encontra o irmão e o ladrão.

    O carro bate porque se avança o sinal,
    O corpo cai porque a faixa não se obedece.
    A rua calma que esquece quem trafega,
    É na calçada que se acode o corpo que padece.

    Em cada esquina se vê a lei que não se aplica,
    Em cada lei se vê uma esquina de mão dupla.
    Esta ciranda de lei e esquina que não se avistam,
    É nesta rua que se corre e o outro que se culpa.

    Foge-se do carro em alta velocidade,
    Andando atento; preservando sempre a vida.
    Daí a pouco se vê um corpo caído sem vida,
    Não foi nada, foi só uma bala perdida.

    Ah, que vida que anuncia a própria morte,
    Já não se vê o colo da Pátria Amada.
    Não se avista o irmão que quer a vida,
    Quer ter a mãe Pátria como sua mãe querida.

    Bate o sino que anuncia a pronúncia da palavra,
    Ao fiel que ouve, mas renuncia sem professar.
    A oferenda é compromisso do ditoso do dízimo,
    Que às vezes pensa pagar pra se salvar.

    JOÃO AIRES DA SILVA

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