Leitores de Max Martins, reuni-vos!

maxmartins1É hoje em Belém, na Livraria Fox, o lançamento do livro “Cartas ao Max: limiar afetivo da obra de Max Martins”, da escritora, poeta, ensaísta e publicitária Élida Lima. “Com uma seleção de 36 poemas de Max Martins, Cartas ao Max cria um livro dentro do livro e convida para uma leitura singular de sua poesia. Cartas ao Max é, sobretudo, uma homenagem a um dos maiores poetas da literatura brasileira”, diz Élida.
No dia 11 de maio, o livro será lançado em São Paulo, na Livraria da Vila.

Max é um dos poetas paraenses homenageados na Feira Pan-Amazônica do Livro que está ocorrendo em Belém. Num dos estandes, inclusive, foi montada uma réplica da cabana batizada de “Porto Max Martins”, que reproduz a fachada da cabana construída por ele na praia do Maraú, em Mosqueiro.

Max e Alcy Araújo

Max Martins era paraense. Faleceu em Belém aos 82 anos no entardecer de uma segunda-feira de fevereiro de 2009. Ele e meu pai meu pai Alcy  Araújo Cavalcante foram grandes amigos na “quase mocidade”. Meu pai veio para o Amapá, Max ficou em Belém, mas não perderam o contato. Nos arquivos da nossa família existem cartas trocadas entre eles.
A crônica abaixo foi escrita certa manhã de domingo quando Alcy, relendo o livro Anti-Retrato, lançado por Max em 1960, sentiu uma imensa saudade do amigo.
Meu pai morreu em 23 de abril de 1989, aos 65 anos em Macapá. Max morreu no entardecer de uma segunda-feira de fevereiro de 2009, aos 82 anos em Belém.
Hoje relendo essa crônica fico imaginando o sorriso meio maroto do meu pai ao olhar pela janela do céu em fevereiro de 2009 e dar de cara com o Max chegando. Acho que os dois se abraçaram e deixaram as palavras escorrer cerzindo poemas. E Deus, sorrindo cheio de ternura, balançou a cabeça com aquele jeito só dele, dizendo: Olha aí esses dois juntos de novo, o Max e o Alcy. E parece que ainda não criaram juízo.

Max-Gravata Triste
Alcy Araújo Cavalcante

Tenho nas mãos boquiabertas o Anti-Retrato de Max Martins. O amigo, poeta magro, de olheiras profundas, boêmio, que reflete tranquilas desesperanças. Vejo, visualiso o Max da nossa quase mocidade torturada.
Onde andará o companheiro de tantas e tantas noites sem memória? Em que órbita estará com sua gravata triste? Aqui no livro ele está tão perto como um abraço. É o Max tão moço e tão maduro, aprendiz de criança que nunca pôde ter infância. Não por falta de tempo, que o tempo nunca contou para o Max, mas porque ele nunca foi mesmo desse nosso mundo. Anjo adúltero, ele apenas entrou em órbita, foi o máximo que conseguiu de aproximação desta terra onde deixamos as marcas de nossos pés nus.
E no agora eu tenho comigo o Anti-Retrato. Uma das melhores fotografias da alma do poeta, do amigo cargueado pelas tristezas que colheu como um plantador de ilusões.
Acho que estou com saudade do amigo. Talvez porque é domingo e eu ainda nem engraxei os meus sapatos e mal penteei os cabelos que o travesseiro acordou durante o meu sono.
Seria tão bom se eu saísse agora e encontrasse o Max, bem ali, defronte da janela… Sinceramente, eu daria um grande abraço no amigo e faria a pergunta mais simples e mais repetida em nossas vivências: vamos tomar alguma coisa?
E o poeta responderia com outra pergunta: onde?
Então estaria inaugurado o diálogo e as palavras escorreriam cerzindo poemas, sem que ninguém descobrisse o verso, verso que é apenas um modo de sofrer.
E Deus balançaria a cabeça com aquele jeito só dele. Numa censura terna diria ao Filho do Homem, sentado à sua direita: Lá estão de novo aqueles dois, o Max e o Alcy. Esses mesmo não criam juízo.
E o filho sorriria, aprovativamente.
Enquanto isso, um saxofone negro traria para o cais bússolas naufragadas, para indicar que além do azul a lágrima é apenas a alma que escorre pela face e lava as cicatrizes acontecidas quando morreu o último pássaro branco.
Velho Max, as palavras se perdem na praça, onde os namorados estão indiferentes a nossa poesia amargurada.

  • O mago das letras, ouça-se, Alcy, é uma estrela Alfa-centauro, passeando por todas as notas e repousando em “CY”.

  • LEIO O FICCIONAL CRIADO POR UMA FERA(ALCY) LENDO UM LIVRO DE OUTRA (MAX) E VEJO AMBOS ATRELADOS NA MAGICA DA PALAVRA DO ALCY.EXUBERANTE EM INSPIRAÇÃO.TIVE EU A ALEGRIA DE CONVIVER COM OS DOIS EM LONGOS PAPOS NAS VEZES QUE CONVERSAMOS EM BELEM(MAX) E COM ALCY EM MACAPÁ DESDE O FESTIVAL DE MUSICA NO CINE TERRITORIAL E DEPOIS POR OCASIÃO DE UM LANÇAMENTO MEU EM MACAPÁ( CÃO VADIO).
    HOJE LEIO O TEXTO E DIMENSIONO O PODER DE CRIAÇÃO DE TÃO FERTEIS ESCRITORES.
    UNIDOS LÁ EM CIMA. AI É OUTRA BELA HISTORIA.
    LJORGE.

  • Alcinea,

    Que texto maravilhoso do nosso poeta do cais. As palavras dele atravessam a alma do leitor, trazendo-nos também um sopro de inspiração, a quem dedico essa quina de versos:

    “Imaginação que brota sem amarras /
    No infinito do saber /
    Com uma só folheada /
    Páginas do livro vence /
    Em sentenças replicadas.”

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