Um elo perdido no Norte do Brasil

Excelente essa reportagem especial do jornalista cultural e escritor Julio Maria sobre o Marabaixo,  publicada na edição deste domingo no jornal O Estado de S.Paulo:

Um elo perdido no Norte do Brasil

Marabaixo, o ritmo que ainda não entrou para o mapa cultural do País, segue
mantendo suas tradições e influenciando grandes artistas do Amapá

Se fosse Gabriel García Marquez ou Mia Couto com uma história dessas nas mãos, as palavras estariam em festa. Pois aqui está tudo o que alimenta o sonho dos escritores. A fantasia que se mistura com a verdade acontecida e com a que se esqueceu de acontecer, a prosa infiel que bule com a poesia e a poesia que não precisa de rima. Seus personagens, mesmo sem nome, são legitimados pela história e os cenários sobrevivem mesmo quando o conto ganha a neblina das versões. Só nos cabe então escolher a mais plausível delas para trazer à tona a existência do último elo perdido do Brasil.

Norte da África. Marrocos. Século 16. Os portugueses dormem tranquilos na bem protegida Mazagão, o quinhão de terra na costa ocidental que conseguiram tascar dos colonizadores franceses em 1486. Sem ocorrências que lhe tirassem o sono, capitão Álvaro de Carvalho baixa a guarda e passa o comando ao irmão mais novo e menos esperto, Rui de Sousa, antes de partir para uma temporada de descanso em Lisboa. Os ventos calmos, no entanto, eram traiçoeiros nesses tempos em que o novo mundo era repartido entre poucos. A noite chegou com ruídos ecoando no entorno dos portais do vilarejo português e, assim que o primeiro soldado colocou os olhos no horizonte, nem precisou ser alvejado para cair de costas. Mais de 150 mil homens de Mulei Mohammed, filho do temível líder árabe Abdallah el-Ghalib, faziam o cerco da morte aos portugueses sem muita disposição para negociar. Ali estava o começo do fim da aventura lusitana em território francês.

Norte do Brasil. Amapá. Agosto de 2016. Um garoto toca seu tambor driblando as pernas dos adultos para não ser atropelado pela euforia de negros, brancos e mestiços que cantam de casa em casa com hálito de gengibirra e goles de cacau. Estamos em Mazagão, a cidade africana que atravessou o mar para começar tudo de novo no topete do Brasil, o quinhão de terra nas bordas amazônicas povoado pela transferência das famílias portuguesas retiradas às pressas da Mazagão marroquina, protegidas temporariamente em Lisboa e despachadas, indignadas e descrentes, à desconhecida capitania do Grão-Pará e Maranhão em 1770, o futuro Estado do Amapá. (Leia a matéria completa aqui)

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