Nesta tarde chuvosa vejo, pela minha janela, um garoto só de calção soltando um barquinho de papel.
Sei que em muitos pontos da cidade, neste momento, outras crianças fazem o mesmo.
E pergunto aos meus botões:
Que sonhos transportam estes barquinhos de papel soltos pela gurizada nos riozinhos formados pela chuva?
Em que porto da vida eles ancoram?
Em que altura da vida-rio eles naufragam?
Na infância – já tão distante – soltei muitos barcos de papel que me levaram aos lugares mais longínquos e mais belos na minha imaginação de criança.
E quando a chuva cessava, de volta à realidade, eu saía quase correndo de casa para resgatar o barquinho que às vezes ficava encalhado em alguma pedra na margem da rua. Outras vezes ele caía na boca de lobo, que ficava na esquina da Almirante Barroso com a Leopoldo Machado, e de lá, por conta própria, seguia viagem por todos os rios e mares do mundo e perdia a rota do retorno.