Meu amado amigo Milton Sapiranga Barbosa (foto), jornalista aposentado e um dos grandes repórteres esportivos da época de ouro do futebol amapaense, estava na inauguração do estádio Glycério Marques, há 65 anos.
“Menino pobre, morando vizinho do estádio, distante a apenas quatro quadras e sabendo que festa patrocinada pelo governo, sempre tinha refrigerantes, doces e salgados de montão, eu não poderia ter perdido aquela boca livre. Eu estava lá”, contou.
E de vez em quando conta coisas que viu no Glycerão desde sua inauguração, como essas:
01 – VÍ, num jogo AMAPÁ CLUBE X EXPORTE CLUBE MACAPÁ, clássico vovô do futebol amapaense, que nas décadas de 50 e 60, era aguardado com grande expectativa pelos torcedores dos dois times, o ótimo goleiro do Amapá Clube, Edgar, cruzar os braços e deixar uma bola que lhe fora recuada pelo Armando Pontes, entrar em sua meta. É que eles haviam discutido durante um treino e trocado de mal(como se costuma dizer). Macapá 1 a 0. È, mais depois o Edgar fechou o gol e o Amapá acabou vencendo por 2 a 1. Edgar era tão bom, que num amistoso contra o Paissandu, ele disse ao zagueiro Evandro, que se preparava para cobrar uma penalidade máxima, que defenderia com a cabeça. Evandro mandou um chute fortíssimo, e o Edgar ainda conseguiu resvalar na bola com a cabeça. Dizem, eu entre eles, que Edgar, que depois foi para o Clube do Remo, foi um dos melhores goleiros do futebol amapaense.
02 – VÍ , também por ocasião de outro confronto entre alvinegros e azulinos, o técnico do Macapá, Jomar Tavares, usar de malandragem para poder vencer um jogo em que seu time não conseguia sobrepujar a zaga adversária, formada por Mucuim, Justo e Façanha, com maior destaque para Justo, que em tarde inspirada, barrava todas as pretensões do Leão Azul. Que fez o astuto treinador? Mandou buscar o Falconeri, que não tendo sido convocado para o jogo, estava biritando com os
amigos lá pras bandas do Laguinho.
Após tomar um banho forçado, Falconeri foi orientado a entrar em campo e tirar o Justo de Campo. Ele não se fez de rogado, entrou em campo e chegado perto do Justo, tascou-lhe um tapa no rosto. O tempo fechou, pois o zagueiro alvinegro, “pelhudo” da gema, não era de levar desaforos pra casa. Os dois foram expulsos e o Macapá, graças a astúcia de seu técnico, tirando de campo o melhor defensor adversário, acabou vencendo o jogo por 1 a 0. ( Jomar Tavares, que foi quem levou PALITO para treinar no Vasco da Gama).
03 – VÍ, durante um jogo no Gigante da Favela, o Dicão, então pertencente ao GRUCI – Grupamento de Combate a Incêndio, dar uma bicuda, com um coturno número 44, bico largo, num torcedor que estava sentado num degrau abaixo ao que ele escolhera para torcer pelo Juventus contra o CEA CLUBE.// Num ataque do Moleque Travesso, Joca, centro avante juventino armou o chute e o Dicão acompanhou o gesto do artilheiro e mandou ver, bicudando o torcedor sentado a sua frente, que ficou se contorcendo em dores, enquanto os demais torcedores riam que riam da inusitada situação.
04 – Ví, no próprio da municipalidade, meus grandes ídolos do Fluminense, os craques: Castilho, Pinheiro, Valdo, Robson, Escurinho, Altair e Denilson, entre outros. Também vi, o maior pugilista brasileiro de todos os tempos, o galo de ouro Éder Jofre, o demônio das pernas tortas Mané Garrincha, Dario, Roberto Dinamite, Os Trapalhões (Dedé, Didi, Mussum e Zacarias), Canarinho, Elza Soares, Tony Ramos, Antônio Pitanga, Dari Reis, João Carlos Barroso e outros grandes artistas da música, da comédia e da bola.
05 – Vivi, cenas de violência que prefiro esquecer, mas também cenas hilárias, como durante um jogo entre 11 Brasileiros e o time de alunos do CCA. Lançado na corrida por Romeu, deixei a zaga adversária para trás para ficar cara a cara com o goleiro. Que goleiro? Ele não estava em sua meta e aproveitei para fazer o gol mais fácil de minha carreira futebolística no campo e no futebol de salão. Minutos depois, lá vem o goleiro Severino saindo de trás de um barracão instalado nos fundos do Glicerão, explicando para todos : “Tô com uma dor de barriga desgraçada”. Caímos na risada, inclusive seus companheiros do time do CCA, que perdoaram seu abandono de campo, que permitiu a vitória do 11 Brasileiros.
06 – VÍ, durante um clássico entre Ypiranga e Macapá, o meio campo Zezinho usar de um expediente não muito lícito para poder parar a dupla de armação do azulino, formada por Haroldo Santos e Aldemir França, que naquele dia estavam jogando o fino, realizando jogadas sensacionais./ Zezinho, impotente diante da dupla, aproveitou uma parada no jogo para atendimento de um atleta e encheu uma das mãos com benguê e passou no rosto do Aldemir França. Aldemir França lavou o rosto várias vezes mas não consegui se livrar do ardor da pomada, pois quando corria o suor escorria para seus olhos e ele foi obrigado a deixar o campo de jogo, propiciando que o negro anil equilibrasse as ações, mas contudo sem conseguir vencer o leão azul da avenida FAB.
4 Comentários para "Sapiranga viu no Glycerão"
Volte, Sapiranga! Encha de alegria a mente dos teus leitores. Você é nota DEZ!
Sinto falta das crônicas de Sapiranga.
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Por onde andare ò Gajo?
SÓ O MEU AMIGO SAPIRANGA SABE DESSA HISTORIAS.
JOGAMOS JUNTO NO FAVELÃO.ELE ERA O MELHOR TANTO DE FUTEBOL COMO DE FUTEBOL DE SALÃO.