A miss, o marabaixo e a truculência

Tanto fizeram, tanto trucidaram nas redes sociais, tanto ofenderam, que a bela Williene Lima  acabou por renunciar ao título de Miss Amapá 2018.
Williene Lima tem apenas 20 anos. Foi eleita para desfilar sua beleza e mostrar toda elegância e lindeza das jovens amapaenses no já nem tão glamouroso concurso Miss Brasil, que acontece este mês.
Muito jovem ainda ela pouco conhece da cultura amapaense e foi infeliz quando num programa que entrevista as misses disse que o Marabaixo – maior expressão cultural do Amapá – foi criado em 1984 por um afrodescendente que vivia no bairro Marabaixo. Poderia ter ficado calada, ou dito “não sei”, mas… Faltou orientação a ela, faltou assessoria, como faltou também para a produção do programa que tascou um vídeo de quadrilha como se fosse de marabaixo. Mas ninguém reclamou da produção do programa.
Por conta da resposta foi trucidada nas redes sociais.
Não conheço Williene, mas, confesso que fiquei morrendo de pena dela ao ler tantas postagens agressivas.
Fico imaginando como se sente um jovem ao ser tão ridicularizado nas redes sociais. Vergonha? Seu mundo desaba? Torna-se depressivo?
Fico me perguntando o que leva tantas pessoas, inclusive com nível superior e até com filhos da mesma idade da miss, a ter um comportamento tão agressivo, tão animalesco nas redes sociais.

Williene pouco sabe da cultura amapaense. Mas ela não é exceção. Há tanta gente que não sabe nada ou quase nada da nossa cultura, pois o Amapá ainda está longe de ser considerado uma terra que valoriza sua cultura, artistas e tradições.

Nas escolas, por exemplo, se estuda a literatura, a música, o folclore, a cultura de outros estados. Do Amapá nadica de nada, com raríssimas exceções.

Pergunto a vocês que achincalharam a miss:
Vocês conversam com seus filhos, sobrinhos, afilhados, alunos sobre o marabaixo, a festa de São Tiago, o batuque?
Vocês compram discos de cantores amapaenses?
Vocês tem em suas casas quadros e esculturas de artistas amapaenses?
Vocês leem autores amapaenses?

Vergonha alheia não é uma garota de 20 anos não saber a história do marabaixo. Vergonha alheia é o comportamento truculento de vocês.

  • Somos ser humano, quem disse que não podemos errar?
    O ato de agir de forma truculenta tb é uma forma de erro com o outro e consigo tb.
    Volto a repetir : quem disse que não podemos erra? Até Freud, Lacan e outros construídore de linhas de pensamento erraram em alguns hipóteses ate chegar onde queriam Pq. Não errar ?

  • Lembrei de um amigo, professor em um dos nossos cursos de direito.
    Homem apegado aos estudos locais, em uma de suas provas perguntou qual o nome do engenheiro que projetou a Fortaleza de São José. E veio a resposta em várias provas: Engenheiro João Henrique Pimentel.
    A dúvida ficou por conta, quem sabe, da cola, que deu ao Panam imerecido título. Mas talvez algum jovem universitário ao ver tantos cabelos e barbas brancas imaginou ser o próprio Henrique Galúcio passando por estas plagas.

  • vivemos na sociedade das aparências. Quem é bonito ou bonita não precisa saber dessas coisas. Eu tenho que saber sobre a cultura do meu estado. Sabem porque? porque sou feio. E ser feio e não saber? Para os bonitos e bonitas tudo é permitido. Inclusive não estudar.

  • sou legitimo amapaense conheço o marabaixo nossa cultura, porem tem muitos que não conhecem, ai ficam criticando, esses que não conhecem devem gosta de sertanojo, batidão de aparelhagem.

  • Concordo em gênero, número e grau com o seu texto. Que maldade fizeram com a Miss Amapá. E o verdadeiro motivo dessas agressões está contido no pior mal da humanidade: a INVEJA. Ela está associada a cobiça, ao recalque, e às frustrações do ser humano. Parabéns Alcinéa.

  • Não sabia que a nossa miss tinha renunciado. Que pena… não a conheço, mas é muito difícil suportar todo esse escárnio perverso nas redes sociais. E os sábios que tanto criticam poderiam compartilhar seus saberes culturais e com os adolescentes. É muito fácil criticar. Difícil é se por no lugar. Williene, espero que você compreenda que você é muito mais que tudo isso. Ah… eu também não saberia responder à pergunta que lhe fizeram!

  • Parabenizo a escritora Alcinéa Cavalcante pela qualidade do texto, pois seus argumentos são coerentes e consistente.
    Em uma sociedade como a brasileira, em que um dos fundamentos da República é a diginidade da pessoa humana, inadmissível a humilhação pública e ridicularização a uma pessoa por que falha cometida, mas que não representa o todo de sua declaração. Neste caso, necessário um olhar ponderado.

  • Parabenizo a autora do texto, escritora Alcinéa Cavalcante, pela agradável e coerente argumentação.
    Em um Estado como o brasileiro, que tem como um de seus fundamento a dignidade pessoa humana, inadmissível o uso de redes sociais para humilhar e ridicularizar a pessoa por conta de uma uma falha que não representa o todo da declaração. Ponderação nesse caso é fundamental.

  • Foi esse o motivo? Se fosse eu
    tbm erraria. Até pq marabaixo para mim, é um sorvete lá na sorveteria Jesus de Nazaré

  • Pois deveria saber melhor sobre o Estado onde mora pois 20 anos não é nenhuma infantil… aos 17 anos mtos já concluíram o ensino médio… q ficasse calada, seria mas bonito dizer q não sabia responder o q lhe perguntava seria melhor do q ter inventado algo q nao existe . Ela não está sendo julgada e sim critica por responder o q não tem nada haver com a cultura do Amapá.

    • A crítica não é ela não saber…. é inventar o que não sabia. Melhor calar, ou simplesmente dizer, não sei.

    • Concordo com você! Ela tem 20 anos não nenhuma menina do ensino fundamental e se tinha pretensão em ser miss deveria saber que sempre fazem perguntas sobre a cultura do estado da participante, tinha que ter estudado, todo e qualquer concurso exige estudo, ou não?

  • Com relação a este excelente texto, tenho duas ponderações:
    1 – A declaração feita de forma equivocada pela moça pode ser vista como o resultado de um modelo educacional que vem sendo imposto em todo o país que premia uma cultura generalista e uma questão puramente meritocrática em detrimento a um debate mais profundo sobre a própria cultura e identidade locais, reflexo este do bombardeio jamesoniano de imagens e notícias do Centro-sul, cujos reflexos são vistos na famigerada Base Nacional Comum Curricular e em testes como o Enem, que priorizam a visão do colonizador sobre os pobres e periféricos Estados menosprezados e ridicularizados pelo discurso civilizador dominante do eixo Centro-sul.
    2 – As ações tresloucadas de alguns haters sobre a moça são o reflexo dessa nova e truculenta cultura que vêm sendo estabelecida pelos pensadores de Facebook: acreditam que as pessoas devem ser todas portadoras de seus pontos de vista e não permitem discordâncias, chegando ao ponto de agredir a capacidade intelectual e de formação de uma jovem de 20 anos.
    Cabe pensarmos aqui que tipo de cultura estamos produzindo e reproduzindo nesta sociedade que vive de fake truths, fofocas e tragédias em detrimento da melhor qualidade na formação das pessoas na sociedade.

  • O maior erro foi da produção do concurso MISS AMAPÁ que não preparou a moça que infeliz mente não tem a cultura suficiente para responder as perguntas sobre o seu estado e sabendo disso a produção não preparou a moça devidamente, para representar o estado do AMAPÁ paras esse concurso.

  • Ela quando se candidatou a esse concurso sabia das “obrigações” funções dela, todos sabemos que estás perguntas do tipo seriam feitas, ela tinha que ter se preparado para obter conhecimento, da mesma forma que ela se preparou fisicamente, pois beleza não é somente um corpinho bonito.
    Fisicamente ela ela é linda, infelizmente deixou a desejar em conhecimento, ainda mais conhecido conhecimento regional.

  • Pingback: A miss, o marabaixo e a truculência - Por @alcinea - Blog de Rocha

  • Pior que ela é quem crítica a pessoa e é tão ignorante em alguns assuntos como ela. Talvez ela deva ter um ponto forte na área do conhecimento. Desconhecer sua cultura talvez tenha sido algo cultural de nosso estado, pois olhamos mais para outros estados do que para nosso chão. Um recado pra ela: A vida não se resume em um concurso de miss, e não se deixe levar pelas criticas levianas. Erga a cabeça e siga em frente. Você já foi abençoada por ser linda e apenas não tinha a informação correta no momento.

  • Nos dias atuais, só não conhece algo quem não quer. Basta dar um google, não é mesmo? Quando alguém se submete à um concurso dessa natureza, torna-se público, logo, deve arcar com o ônus e o bônus. Ela não precisaria de muito para “fazer bonito” lá fora, bastava um “clique” no celular, que tenho certeza que ela sabe usar muito bem. Ela errou sim, fez muito sim. Claro que ninguém tem o direito de ofender a sua honra, jamais. No entanto, a gafe tem sim que ser repudiada. Na era digital, só não conhece sua história quem não quer. Ah, e eu não me encaixo no seu questionamento. Estudei, e muito, principalmente no ensino fundamental. Brinquei, dancei, conheci( embora saiba que muitos não tiveram a mesma oportunidade). Discordo de seu posicionamento, e que bom que ela renunciou, pois assim temos uma nova chance de não ser o Estado conhecido por não saber de sua história, além dos escândalos de corrupção. Forte abraço.

  • Mas ela não renunciou por causa dos comentários kkk nesse mesmo vídeo em que ela fala erroneamente do marabaixo ela tbm fala de um problema de saúde grave que teve nos olhos, descolamento da retina algo assim e que voltou a afetar e por isso fará outro procedimento cirúrgico tendo assim que renunciar ao título.

  • Muitas vezes as redes sociais não passam de locais para pessoas extravasarem suas frustrações pessoais e transfere para os outros. Certo que ela deveria estar bem mais informada, mas isso não dá direito para ser detonada, diminuída enquanto pessoa. O questionamento foi muito feliz: acredito que muitos desses que detonaram não sabe bulufas sobre a cultura amapaense. Deveriam ter ficado calados, que seria mais digno.

  • Na minha opinião ela representou e muito representou bem a maioria dos amapaenses, que desconhecem a nossa cultura

  • Nao sabe pq não pesquisou, como vai querer representar o Amapá assim? Fica o aprendizado: Miss não é só beleza física.

  • Certo que grande parte da população amapaense criticaram a moça por ela não conhecer a cultura do Estado do Amapá, mas hoje em dia esses concursos de beleza, não servem apenas para avaliar os atributos físicos da candidata, a mulher tem que ter conteúdo, poxa não conhecer o mínimo da cultura do Estado que ela está representado é o fim da picada.

  • Posso até não ser saber tudo sobre a cultura amapaense, mas aí eu pergunto a você : por acaso eu sou a miss Amapá? Eu vou ser entrevistada representando o meu estado ? Então, essa é a questão.

  • Lembrei, agora, de ilustres Professores: Pedro Alcântara, Marita Mira e Munhoz, que nos ensinavam, brincando. De um vastíssimo repertório, repassavam detalhes, como se estivéssemos nos lugares e houvéssemos registrado os fatos narrados, de maneira irrepreensível.
    A tal “pátria educadora” de agora, faz, cada vez mais, vitimas, onde o “infrator”, o “criminoso” se torna vítima de seu próprio deslize. Mas, conforme o ensinamento de Jesus: “Quem nunca errou, atire a primeira pedra!”.
    Volte, Wilkiene! Retorne ao seu reinado, reveja o que vc disse e de um banho de sabedoria em quem desfez de você. Afinal, muitas vezes, desistir dos próximos passos, são o pedaço que falta à definitiva vitória.

  • Afinal de contas,quando foi criado o marabaixo??
    Eu não sei. Talvez o povo q tá criticando ela saiba tudo sobre.

  • Eu tenho 40 anos, nasci aqui e não conheço a origem do Marabaixo e muito pouco da história do nosso Estado.

  • Realmente foi lamentável o que fizeram com esta jovem, com certeza, esses q tanto falaram não conhecem a fundo a Cultura de nosso estado. Mas ela vai superar tudo e seguir em frente sempre. Fique bem menina linda!

  • Reamente é muito triste ver um ser humano fazer comentários desairosos dobre outro ser humano pelo simples fato de querer agredir, humilhar, rebaixar, ferir, achincalhar ou diminuir a outra pessoa para demonstrar sapiência?
    Que Homo sapiens desgraçado esse que existe hoje.
    Onde fica a educação, a tolerância, a indulgência, o amor ao próximo?
    Depois, esses mesmos seres humanos postam nas redes sociais versículos da Biblia Sagrada, do Papa Francisco, de Chico Xavier e despejam palavras vazias, ocas de atitudes nobres.
    Gostaria de não ter lido o que li.
    Meu protesto em prol do BEM, do RESPEITO e do AMOR AO PRÓXIMO.

  • Como uma pessoa representa seu estado sem saber nada sobre ele??? Se ela topou ser Miss deveria ter se preparado para tal cargo … acha q beleza só basta (e tem mulheres muito mais belas e com.mais conhecimento q ela aqui no estado)

    • Concordo….o no mínimo, não mentir, muda de assunto, fala outra coisa. Mesmo assim, o povo exagerou.

  • Parabéns pelo texto lúcido Alcineia. As redes sociais, ferramenta tão importante para aproximar e conectar pessoas, vêm sendo utilizadas de forma ácida e autoritária, para apedrejar e “zombar”…. Representar uma comunidade, seja como miss, ou qualquer outra forma de representação, requer conhecimento e contextualização sobre os aspectos culturais, sociais e outros. Mas como vc mesma disse, não conhecer ou se equivocar ao comentar sobre a cultura local, não seria motivo para tamanha truculência… Que exemplos como este sirvam para abrir o debate da importância do diálogo pelo respeito e também para q busquemos conhecer mais sobre o nosso Amapá.

    • Mas ela foi meio imatura, Renunciando ao Título! Era tudo o q eles queriam! Deveria era ter continuado e não ligado! Fiquei triste! Achava q o AP, teria chances d pelo menos, top 10, com ela! Lamento, profundamente! Q volte ano q vem, mais madura!

  • Aposto que a maioria das pessoas que a criticaram, sequer sabem quem foi José Maria da Silva Paranhos Júnior. Figura que, em outros estados, mais desperta a curiosidade sobre a “Questão do Amapá”. Ou seja, fosse esse o assunto passariam também muita vergonha. É o de sempre: a prodigiosa mania nacional de apedrejar!

  • A cultura amapaense é sim ensinada em sala de aula, geralmente do 1o ao 6o ano. Existe uma disciplina chamada de Estudos Amapaenses.
    Realmente a jovem nao deve lembrar da época que estudou e a acessória dela falhou em nao elencar alguns pontos básicos da cultura e de nao saber que tipo de perguntas iriam acontecer.

  • Tudo bem, faltou sim preparação e tempo. A moça foi eleita em um dia e no mesmo dia as 2 hrs da manhã foi avisada que iria para São Paulo, fazer a entrevista. Então não preciso dizer nada.

  • Não acompanhei o que aconteceu com ela, fiquei sabendo por um vídeo que me mandaram (achei q vídeo da quadrilha foi edição da zoação, não do programa). Faltou alguém dizer a ela:

    – olha, vc está representado o Amapá e por isso dá uma lida nestes dados aqui pra ficar por dentro do q acontece lá.

  • Duas coisas a dizer: Faltou uma assessoria pra essa moça. Realmente concurso de beleza deve ser considerado elemento de marketing do lugar que se está representando. Tem mesmo que saber pelo menos o básico. Mas, não tem três décadas que o conteúdo escolar vem sendo regionalizado.
    Eu aprendi a escrever Uva, mais comia uxi. Torci pelos Farroupilhas, porque nunca me falaram da cabanagem.
    Já fui convidado a ir nunca evento cultural em escola em que alunos dançando o “creu” no volume 10 em uma coreografia em que os meninos faziam o movimentos de masturbação.
    E desde cedo as crianças são bombardeadas pela cultura alienante de massa. Acho que essa moça, branca, beleza padrão global, não deve ser diferentes de milhares iguais a ela, que são criadas para ignorar o que há em volta delas, numa vida artificial e excluidora.

  • As duas coisas são vergonhosas, concurso de beleza hoje em dia requer conhecimento do lugar representado. É uma das regras. Infelizmente ela não conhece, ela e milhares de amapaenses, e isso não é problema individual dela, mas de todo um contexto de dificuldades ou de omissão para oportunizar as pessoas a conhecerem e acessarem os ícones e tradições do lugar onde vivem. Mas realmente, desconhecer a história do Marabaixo não justifica a ridicularização nas redes sociais. Pessoalmente, não opto por esse caminho. Tão somente fiquei abismada e lamento por ela, sem julgamentos precipitados, por ela e por todos os outros que não conhecem.

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