O conflito no Leste Europeu e o problema para o mundo

O conflito no Leste Europeu e o problema para o mundo
Leandro Távora*

Em minha segunda coluna neste site, eu falei sobre a inflação e de que maneira ela impactava o bolso do brasileiro, ainda em dois dígitos, ela pelo menos, já apresentava sinais de desaceleração. Acontece que agora, a antes iminente guerra no Leste Europeu, objeto de tema também desta coluna, apesar de improvável até mesmo pelos mais céticos, se concretizou na última semana e apesar de ocorrer do outro lado do Atlântico, ela traz sérias consequências a nação Brasileira.

No dia 24/02 o mundo acordou com as notícias de bombardeios em diversas partes da Ucrânia, cidades como Kiev, Chuhuiv e Kharkiv foram bombardeadas na ofensiva militar da Rússia e Vladimir Putin, presidente da Rússia, garantiu que se houvessem retaliações por parte do Ocidente, União Europeia, OTAN ou outros países, as consequências para tais seriam aquelas antes nunca vistas.

Como Putin não atacou diretamente nenhum membro da OTAN, a entidade se viu de mãos atadas em uma possível retaliação, já que seu artigo 5º garante defesa militar aos seus membros em caso de ataque por alguma nação, o que não é o caso da Ucrânia, ainda que estivessem “flertando” para um possível ingresso. Acontece que além das inúmeras vidas perdidas e que ainda serão, infelizmente, há também do ponto de vista econômico e financeiro, uma catástrofe em curso e que gerará uma reação em cadeia mundial.

EUA, União Europeia e diversos países, receosos com uma ofensiva militar para tentar proteger a independência da Ucrânia, tentaram por outro caminho, através das sanções econômicas, pressionar o ditador Vladimir Putin a retroceder com a invasão ao país vizinho, o que em um primeiro momento, parece não ter surtido efeito, pois a incursão militar continuou e sem sinais de que irá retroceder.

Foi então que as sanções se tornaram mais severas e chegaram a dois pontos cruciais: bloquearam a Rússia do sistema SWIFT, que é o sistema de comunicação interbancária e sustenta as transações globais e principalmente, suspenderam o acesso dela as suas reservas internacionais em moeda forte, ou seja, a partir daquele momento a Rússia não poderia negociar os seus títulos da dívida adquiridos a título de reserva internacional nos EUA, Londres, Canadá, Japão e em diversas outras economias fortes, ou seja, o “colchão econômico” não poderia ser mais utilizado até então, o que gera um grande problema quando o país detentor das reservas, por exemplo, tem uma baita desvalorização de sua moeda local, como é o caso da Rússia com o Rublo.

Uma das principais consequências da consumação dessa guerra foi no Petróleo. O Petróleo Brent, cotação que serve de parâmetro para a paridade internacional de preços, atingiu hoje, 03 de março de 2022, a maior cotação desde a crise do subprime em 2008, ou seja, com ela nesse patamar, a defasagem do preço dos combustíveis no BR é a maior desde 2016, logo, a Petrobras não aguentará muito tempo sem que haja novo reajuste no preço da gasolina, que já é extremamente cara por aqui e é aí que chegamos no problema citado no início da coluna, a gasolina é uma das maiores responsáveis pela geração da inflação, com um novo aumento, não haverá outra consequência que não seja a aceleração novamente dela.

Muito provavelmente, com as sanções que vem sofrendo a Rússia, será cada vez mais difícil se movimentar no xadrez não só político mundial, mas também no mercado internacional. Isso porque diversas empresas tem fechado suas operações no país, em protesto à invasão à Ucrânia. A Maersk, uma das maiores transportadoras do mundo, por exemplo, suspendeu a atracação de seus contêineres em portos Russos por dois motivos principais: o receio de estar burlando alguma sanção americana e de ser recebida a tiros, como já foram relatados em algumas situações, o que dificultará os fretes.

Conforme citado em coluna anterior, um dos maiores impactos para o Brasil, seria a suspensão da exportação pela Rússia, dos fertilizantes utilizados na agricultura brasileira, o que impactara diretamente no preço dos alimentos brasileiros, e mais uma vez, gerará ainda mais inflação. Já que a importação de Belarus está suspensa desde fevereiro por proibição do país de utilizar um porto na Lituânia para escoamento, o cerco se fecha cada vez mais pelo produto.

Ao que tudo indica, o cenário econômico e financeiro mundial tende a sofrer e por consequência, o brasileiro. Bancos e consultorias já começaram a revisar, para cima, suas projeções de inflação para 2022 e 2023 e por ora, os principais atingidos serão o petróleo, trigo e seus derivados, ou seja, o que já estava caro, tende a ficar ainda mais.

*Leandro é empresário, pecuarista e investidor, formado em Direito pela Estácio Seama com MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getulio Vargas.
Ele escreve toda quarta-feira neste site sobre economia, investimentos e negócios.

Twitter: @leandrotavora
Instagram: @leandrotavora

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