Um camaleão no meu quintal

Mas não é um camaleão qualquer. É o Edilberto

camaleaoDe repente os cachorros começaram a latir do jeito que fazem quando algum estranho se aproxima do portão da nossa casa. Mas o latido vinha do quintal.

Meu filho Márcio foi ver o que era e deu de cara com um imenso camaleão que estava sendo acuado pelos cachorros. Devagar se aproximou do bicho, fez-lhe um carinho e ele, buscando segurança, subiu no braço do meu filho. Os cachorros pararam de latir e o camaleão, sentido-se protegido, acalmou-se.

Enquanto prendíamos os cachorros, Márcio achou por bem levar o camaleão para dar uma voltinha na frente de casa, acho que para evitar que o Major e a Pepeu (são os cachorros) se estressassem.

Na frente de casa o camaleão foi batizado com o nome de Edilberto e apresentado a minha irmã Alcilene – que é minha vizinha.

Bom, eu tô dizendo aqui que o Edilberto é um camaleão. Mas há controvérsias. O Márcio, por exemplo, assegura que é uma iguana.

Feito o passeio pela calçada, as apresentações de praxe e as fotografias, vem a pergunta: O que fazer agora? Soltar o bicho por aí ou chamar o batalhão ambiental?

Quem sabe o Edilberto tá com sede? Melhor dar-lhe um pouco de água e depois chamar o Batalhão Ambiental.

Entramos todos. Márcio foi se abaixando devagar para que o Edilberto descesse de seu braço, sem susto, e bebesse água, porém, com velocidade e destreza espantosas o bicho subiu numa das magueiras de nosso quintal e sumiu.

Isso aconteceu sábado. E desde sábado todos aqui em casa ficam vigiando a mangueira à procura do camaleão (ou iguana). Qualquer barulhinho todo mundo corre pro quintal achando que é o Edilberto que resolveu descer da mangueira para beber água.

No quintal da nossa casa tem muito passarinho, calango, paquinha, grilo e até camaleão … mas um desse tamanhão foi a primeira vez.

Na vizinhança o pessoal anda falando que o Ediberto morava há vários meses numa árvore aqui pertinho. O problema – dizem – é que muitos motoras usam a sombra daquela árvore como estacionamento, aí o bicho foi ficando irritado, nervoso, estressado e resolveu procurar uma casa nova, num lugar mais sossegado, de preferência num quintal como o meu.

Do alto dos seus 70 anos um vizinho assegura que isso é verdade e jura que viu com “os olhos que a terra há de comer” o bicho tentando entrar, dia desses, na clínica do cardiologista Furlan – que fica a poucos metros daquela árvore – quem sabe atrás de um remedinho pra combater o estresse.

Há também quem garanta que trata-se de uma camaleoa ovada procurando um lugar tranquilo para desovar. Como eu não entendo nem de camaleão nem de iguana fico só escutando as histórias.

Um amigo nosso sugeriu que se a gente quiser voltar a ver o Edilberto temos que fazer vigília perto da mangueira. Segundo ele, na calada da noite o bicho deve descer pra beber água. Outro diz que isso é tolice e lembra que assim como os políticos vivem trocando de partido os camaleões vivem trocando de cor, portanto quando a gente pensa que o Edilberto está num partido … ops… num lugar ele está em outro.

Falar nisso, o poeta Pepê Matos diz que o bicho tem mesmo cara de Edilberto e que “de edil (vereador) tem tudo: assim que ficou famoso, sumiu…”

A jornalista Dulcivânia Freitas, assessora de comunicação da Embrapa, conta que lá onde ela trabalha, como os portões ficam abertos, os camaleões entram e ficam passeando pelos corredores. O DJ Ronaldo Monteiro diz que no quintal da casa dele também dá muito camaleão.

Tá certo, Dulcivânia. Tá certo, Ronaldo. Mas nenhum desses que aparece por aí é o Edilberto, disso tenho certeza. O Edilberto tem porte, tem beleza, é diferente de todos os outros camaleões que vivem correndo por aí e pelo meu quintal e fugindo dos cachorros. O Edilberto, mesmo acuado, não fugiu, não se entregou, não se acovardou. Sei lá… mas me parece que o Edilberto é um camaleão (ou iguana) de caráter, coragem e dignidade, apesar do poeta Pepê Mattos ter achado que ele se comporta como certos políticos.

(Crônica extraída meu  livro Paisagem Antiga, lançado em 2012 na Bienal Internacional do Livro pela editora Scortecci)

  • Há alguns anos, na estrada que vai para a Fazendinha, à altura das Pedrinhas, eu vi um desses, só que pequeno,de um verde brilhante, parado e perdido no meio da estrada. Minha intenção foi parar o carro e salvar o indefeso animal, mas iria atrapalhar o trânsito. O bicho estava parado vem no meio da faixa que divide as vias. Segui viagem e, quando voltei, só encontrei um mingau de carne, ossos e vísceras espalhados no meio da pista. Sinto um peso na consciência até hoje, por saber que poderia tê-lo salvado.

  • me parece que esses animais extraem agua das folhas ingeridas, não sei se ele vai descer para beber, com a palavra o ibama…….

  • Na minha casa também apareceu um. Acho que não era mesmo, porque ele não queria proteção e nem fazer amizades. Ele queria “papar” o Louro, meu papagaio. Nunca soube que esses bichos comessem aves, pois vc gostava de ver como ele, depois do “bote”, ficava com a boca cheia de penas. Conclusão: montei guarda e botei o bicho para correr. O Louro agradeceu.

    • Que eu saiba, iguana é esclusivamente vegetariano. Vai ver ele confundiu o verde do seu louro com outro iguana e quis defender o seu território.

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